Tão cedo os sediciosos da operação tabajara de domingo não colocarão novamente a cabeça para fora do buraco.
Durou apenas cinco horas a tentativa de golpe de 8 de janeiro com o ataque a Brasília dos esbirros do bolsonarismo golpista, que invadiram as sedes dos Três Poderes, algo inédito na nossa história republicana.
Com a intervenção federal na segurança da capital, na mesma tarde de domingo, o novo governo recém-empossado sufocou os terroristas enrolados em bandeiras do país, que deixaram um rastro de destruição e pânico, mas foram derrotados pela união das forças democráticas dos Três Poderes e dos 27 governadores em torno do presidente da República.
O que os golpistas tabajaras tentaram fazer com o presidente Lula me fez lembrar um outro ataque cívico-paramilitar desfechado contra o ex-presidente Juscelino Kubitschek, também logo no início do seu governo. Primeiro, para impedir a sua posse, em 30 de janeiro de 1956, o que só foi possível após o contra-golpe do general legalista Henrique Teixeira Lott e, depois, para não deixá-lo governar. JK assumiu o país sob o Estado de Sítio e governou durante quatro anos, apesar da férrea oposição de setores militares.
Apenas 40 dias após a posse, teve início, na noite de 10 de fevereiro de 1956, a revolta de Jacareacanga, organizada pelos mesmos civis e militares que levaram Getúlio Vargas ao suicídio. Dois oficiais sequestraram um caça AT-11, da FAB, no Rio de Janeiro, e tomaram a base aérea de Santarém, no Pará, além de ocupar alguns pequenos povoados. A revolta durou apenas 19 dias.
Em dezembro de 1959, tentaram de novo, ao sequestrar cinco aviões, desviados para a base de Aragarças, também no Pará. Desta vez, a revolta durou só dois dias. Alguns deles reapareceriam em cena no golpe militar de 1964, que derrubou João Goulart, o Jango, como o brigadeiro João Paulo Burnier.
O grande inimigo deles na época era o então governador gaúcho Leonel Brizola (mais tarde, duas vezes governador do Rio e candidato a vice-presidente na chapa de Lula, em 1998), acusado de liderar uma "conspiração comunista". O mundo dá muitas voltas, mas é sempre a mesma história que se repete quando se trata de golpear a democracia e a vontade popular:
Os terroristas bolsonaristas que atacaram os prédios dos Três Poderes no domingo passado, também se diziam "patriotas" que lutam em defesa da "liberdade ameaçada pelos comunistas". Mais de mil foram presos, o mesmo destino que poderão ter seus líderes nacionais e regionais.
Um deles, o ex-presidente Jair Bolsonaro, está acamado num hospital em Orlando, nos Estados Unidos, e agora ameaça antecipar sua volta ao país, depois de ver o estrago feito por suas tropas. A maior vítima politica acabou sendo o próprio ex-capitão, que viu sua popularidade cair pela metade na pesquisa Quaest divulgada hoje pelo Globo.
Antes dos ataques, Bolsonaro tinha 40 pontos numa escala de 0 a 100 na pesquisa de \Popularidade digital do instituto Quaest. Na terça-feira, tinha caido para 20.
"Os protestos em Brasília que tentaram atingir a governabilidade de Lula, na prática, atingiram a credibilidade de Bolsonaro. Essa é a síntese da consequência política que a gente viu na pesquisa. O mais significativo é que a reação das pessoas, em maioria repudiando os atos golpistas, conseguiu superar a divisão eleitoral do Brasil que saiu de uma eleição de 50 a 50. Agora, os apoiadores conseguiram dividir a base de Bolsonaro, explica Felipe Nunes, diretor da Quaest.
Por mais favorável que seja o cenário para Lula a partir de agora, com a oposição acéfala e esfacelada, ainda falta resolver um problema central do seu governo: a questão militar, que está por trás de todas as crises políticas dos últimos 134 anos no Brasil, desde a Proclamação da República.
Na reunião que manteve com os comandantes militares na segunda-feira, Lula cobrou deles a demora para desativar os acampamentos montados em frente aos quarteis, de onde saíram os bandos golpistas. A justificativa deles não poderia ser mais singela: tinham a informação de que a Polícia Militar do DF agiria prontamente, caso houvesse um ataque dos golpistas aos prédios públicos, como vinham anunciando durante toda a semana.
Como todo mundo viu, eles não só não agiram, como abriram passagem para os revoltosos ocuparem a Esplanada dos Ministérios, e confraternizarem com eles.
Ao final, os comandantes garantiram a Lula que, agora, as "tropas estão sob controle", segundo relata a colunista Bela Megale, no Globo. Ou seja, antes não estavam, como nunca estiveram, aliás, desde a época do marechal Deodoro da Fonseca.
Vida que segue.
Fonte: Uol
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