Após mais de dois anos, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) retomou suas aulas presenciais. Contudo, o cenário relatado pelos alunos do campus central em Natal não é dos mais favoráveis. Queixas sobre problemas na estrutura e equipamentos das salas de aula, redução das linhas de ônibus circular e de outras linhas que faziam o percurso no entorno do campus, bem como insegurança nas paradas, são as mais comuns. A instituição suspendeu as aulas presenciais no dia 17 de março de 2020 devido à pandemia da covid-19 e as retomou no final do mês passado.
A coordenadora geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE/UFRN), Letícia Corrêa, disse que os problemas se concentram em três pontos. “Estrutura, alimentação e transporte. São os que aponto como principais. Temos problemas nas salas sem ar condicionado funcionando. Áreas sem iluminação nos postes, o que gera insegurança especialmente à noite porque a segurança do campus é para proteger o patrimônio, não o aluno. Então é uma questão que vai além da UFRN, porque trata da segurança como um todo na área fora do campus também”, explicou a coordenadora.
Pelas redes sociais, alunos têm denunciado casos de assalto nos arredores da universidade, nas paradas de ônibus, além do clima de insegurança dentro do campus, especialmente à noite. O perfil do Twitter @Uefyerryeni informou na segunda-feira (18) sobre mais uma assalto. “Um assalto aconteceu hoje por volta das 15h30, na parada das Residências da UFRN. A vítima estava saindo do IMD (Instituto Metrópole Digital) quando foi abordada por dois homens com óculos escuros e máscaras, um celular foi levado. A ocorrência foi registrada pela equipe de segurança patrimonial da UFRN”, escreveu.
Em resposta a uma seguidora, o perfil disse ainda que a vítima acredita que os criminosos estavam com uma faca, mas não tinha certeza. A Polícia Militar do Rio Grande do Norte confirmou ocorrências do gênero na região do campus universitário.
Em nota, a PM diz que tomou conhecimento dos delitos que estavam sendo praticados, por meio de grupos de mensagens de aplicativos, e que desde a última semana, readequou o seu planejamento de atuação na região, com o reforço de viaturas e efetivo, nos locais e horários de maior circulação dos universitários, visando coibir a atuação desses criminosos. “Além disso, o 5º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento nos bairros da Zona Sul, tem reforçado o contato com a comunidade local e atuado de maneira contínua nas principais vias de acesso a todas as universidades que retornaram suas aulas na região. A Polícia Militar também informa que a população pode colaborar fazendo denúncias, através do número 190”, diz a nota.
A UFRN também se pronunciou em nota sobre essas questões. Disse que o Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) informou que foi realizada a manutenção preventiva dos aparelhos de ar-condicionado e que, com o início das aulas e o uso contínuo, alguns equipamentos do Setor de Aulas 1 apresentaram problemas. “Nesse sentido, a Direção do Centro vem realizando a realocação das turmas para salas com climatização adequada, bem como solicitou o conserto dos equipamentos, que são realizados por uma empresa terceirizada, que foi selecionada por meio de processo licitatório”, informou.
Além disso, a Superin-tendência de Infraestrutura (Infra) estaria realizando manutenções na iluminação do Campus Central e aguardando a finalização de um edital público para a instalação de luminárias de led.
Sobre a segurança, comunicou que desde o início do período letivo 2022.1, em 28 de março, a Diretoria de Segurança Patrimonial (DSP) recebeu a notificação de apenas uma ocorrência de assalto, a da última segunda-feira, mencionada anteriormente. Teria ocorrido no anel viário, em área externa ao Campus Central. “Nesse sentido, o reforço na vigilância vem sendo efetuado”, informou, reforçando que a comunidade pode entrar em contato com a segurança pelos telefones 08000-842050 e (84) 99193-6471; ou realizar notificações pelo aplicativo “Smart Campus Seguro”.
Estudantes protestam contra linhas suspensas
Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) se reuniram na tarde desta quarta-feira (20) na zona Leste de Natal. Eles saíram da Praça Cívica e caminharam em direção à Praça Sete de Setembro, onde fizeram um protesto em frente ao Palácio Felipe Camarão, sede da Prefeitura. Entre outras reivindicações, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) pede pela volta de 100% das linhas de ônibus na cidade, que conta atualmente com apenas metade disso.
Segundo representantes do diretório, o protesto de hoje contou com a presença de aproximadamente mil pessoas, entre estudantes, professores e servidores da saúde. Já estavam presentes no Palácio os sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Saúde do RN (Sindsaúde) e dos Trabalhadores em Educação Pública do RN (Sinte), que uniram forças na mobilização.
“A princípio foi um movimento dos estudantes da Universidade e secundaristas, mas se tratando de uma pauta que é de interesse comum dos trabalhadores, outros setores passaram a construir a mobilização”, explicou Ravana Assunção, responsável pela comunicação do DCE.
A Prefeitura, junto ao Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Seturn), são os principais alvos do protesto dos estudantes, que denunciam a falta de atitude das entidades para promover um serviço de transporte de qualidade.
“Os ônibus de Natal estão na completa precariedade. Desde o início da pandemia, a Prefeitura de Natal mantém apenas 50% da frota em funcionamento, causando superlotação e ausência de linhas de ônibus. Além disso, o Seturn, que não paga impostos, ameaça cortar mais linhas e aumentar a tarifa de ônibus”, explica o DCE em postagem no Instagram.
Mas as questões que têm comprometido a vida dos estudantes na UFRN não param por aí. As atividades do Restaurante Universitário (RU) ainda não foram reiniciadas e o transporte dentro do campus tem dificultado o acesso dos estudantes às aulas e em segurança. “Com o restaurante universitário fechado, os alunos ficam sem ter um local acessível para se alimentar, especialmente os que moram mais distantes e passam mais tempo na universidade”, reclama a coordenadora Letícia Corrêa.
Quando em funcionamento, o RU da UFRN garante a gratuidade para os estudantes em vulnerabilidade socioeconômica. O preço de custo é aplicado para refeições de usuários que não se enquadram nos critérios de vulnerabilidade. No levantamento mais recente feito pela instituição, as refeições com gratuidade ou valor subsidiado representavam cerca de 90% do total.
A UFRN reconhece o pro-blema que o restaurante fechado ocasiona e argumenta que o RU adiantou todos os trâmites logísticos para reabertura da unidade, como reformas, manutenção de equipamentos, recon-tratação de funcionários, bem como a seleção de bolsistas. “Atualmente, as contratações para aquisição dos gêneros alimentícios, que ocorre por meio de licitação, estão em fase de finalização. Dessa forma, devido à inflação, quando a Universidade realiza a tomada de preço e abre a licitação, os valores apresentados já se encontram defasados e os fornecedores não efetuam a venda para a instituição”, informou a instituição em nota.
“Diante dessa dificuldade, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proae) conversou com a representação estudantil, no início do ano, para expor a situação e buscar soluções. Para tanto, em comum acordo, decidiu-se pela oferta do auxílio alimentação no valor de até R$ 530,00 aos alunos que se enquadram nos critérios de vulnerabilidade socioeconômica”, completou. O benefício foi aprovado por unanimidade de votos no Conselho de Administração (Consad), em 17 de fevereiro, bem como os demais recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes).
A UFRN trabalha para reabrir o RU no mês de maio. Antes da pandemia, cerca de 3 mil pessoas eram atendidas no RU e 1.020 fazem uso do benefício assistencial. Tudo isso também passa pela redução no orçamento da instituição. Para o custeio em 2022, o governo federal liberou R$ 102 milhões, valor 11,3% menor do que a UFRN dispunha em 2019, quando o montante era de R$ 115 milhões. Em 2020 e 2021, a verba de custeio da UFRN também foi de R$ 115 milhões.
Fonte: Tribuna do Norte