A 45 dias do fim de sua gestão, o ministro da Economia, Paulo Guedes, colocou em dúvida o número de brasileiros sem ter o que comer no país, defendeu as políticas econômicas adotadas ao longo dos últimos anos e atacou o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"40 milhões de pessoas passando fome? Onde estavam essas pessoas que não descobriram no governo deles? Possivelmente, estavam passando fome. Descobrimos os invisíveis e atendemos", afirmou o ministro.
A declaração de Guedes foi dada nesta sexta-feira (18) durante um evento em comemoração aos 30 anos da Secretaria de Política Econômica (SPE).
Apesar da fala de Guedes, dados recentes mostram que o Brasil soma atualmente cerca de 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer diariamente, quase o dobro do contingente em situação de fome estimado em 2020.
O levantamento foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).
Ataques a Lula
Em seu discurso, Paulo Guedes elevou o tom e fez ataques contra Lula.
"Já ganhou, cala a boca, vai trabalhar, vai construir um negócio melhor, porque o desafio é grande."
As críticas de Guedes ocorreram enquanto o ministro discutia sobre os índices da fome no Brasil. Ele disse ainda que se o governo eleito "fizer menos barulho, trabalhar um pouquinho mais com a cabeça e menos com a mentira, talvez possa ser um bom governo"
Durante a campanha eleitoral e em discursos recentes, o presidente eleito tem reforçado que a prioridade de sua gestão será o combate à fome.
Em um pronunciamento na COP-27 na quarta-feira (16), Lula propôs uma aliança global para combater a fome em todo o mundo.
"Este é um desafio que se impõe a nós brasileiros e aos demais países produtores de alimentos. Por isso, estamos propondo uma aliança mundial pela segurança alimentar, pelo fim da fome e pela redução das desigualdades, com total responsabilidade climática", disse Lula no discurso.
'Falar besteira'
O ministro da Economia também reconheceu que, sob o comando da pasta, pode ter falado besteira em algum dia.
"[...] Tem possivelmente ministro no Executivo também falando besteira, posso ter falado algum dia, peço desculpas se ofendi alguém, mas a crise foi difícil, os momentos foram difíceis, mas nós tentamos sempre agir com o melhor possível", apontou Guedes.
Falas polêmicas do ministro ganharam repercussão nos últimos anos.
No início de 2020, Guedes afirmou que o dólar mais baixo permitia empregadas domésticas irem à Disney, nos Estados Unidos. O ministro acrescentou que a alta do dólar faria "todo mundo conhecer o Brasil".
"Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vou exportar menos, substituição de importações, turismo, todo mundo indo para a Disneylândia. Empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada."
Em 2021, o ministro da Economia disse que o Fies, programa federal para estudantes de baixa renda financiarem mensalidades do ensino superior, é "bolsa para todo mundo" e "um desastre".
Guedes contou de forma anedótica que "o filho do porteiro do prédio" tirou zero em todas as provas e conseguiu financiamento.
"Teve uma bolsa do governo, o Fies, uma bolsa pra todo mundo. [...] O porteiro do meu prédio virou pra mim e falou: 'Eu tô muito preocupado'. Eu disse: 'O que houve?' Ele disse: 'Meu filho passou na universidade'. Eu: 'Ué, mas você não tá feliz por quê? Ele: '[Meu filho] tirou 0 na prova. Tirou 0 em todas as provas. Recebi um negócio financiado escrito 'parabéns seu filho tirou...' Aí tinha um espaço pra preencher... e lá 0. Seu filho tirou 0 e acaba de se ingressar na nossa escola. Estamos muito felizes."
Mais recentemente, Paulo Guedes cometeu um deslize ao comentar a promessa de campanha do governo Bolsonaro de aumentar a faixa de isenção da tabela do Imposto de Renda.
Questionado sobre a promessa de isentar do imposto os trabalhadores com renda de até R$ 6 mil mensais – acima dos R$ 5 mil prometidos pelo ex-presidente Lula – o ministro da Economia afirmou que o governo Bolsonaro 'rouba menos'.
"Eu, se fosse o Bolsonaro, diria: tudo o que o Lula fizer, eu faço mais. Por quê? Porque nós roubamos menos", afirmou. E se corrigiu imediatamente em seguida: "Nós não roubamos".
Defesa da gestão na Economia
Paulo Guedes aproveitou o evento para destacar sua atuação à frente do Ministério da Economia no governo de Jair Bolsonaro (PL).
"Nós já colocamos o país no caminho da prosperidade [...] comparado ao período anterior, onde não houve nem Covid nem essa guerra geopolítica e logística que tá acontecendo no mundo, o desempenho da economia foi bem melhor conosco do que antes", disse.
O próximo ministro da Economia terá de lidar com o aumento da pobreza e da taxa de inadimplência. Em 13,75% ao ano, os juros básicos da economia estão no maior patamar em seis anos – mas economistas esperam uma pequena redução em 2023 (para 11% ao ano).
Depois de crescer 4,6% em 2021, a economia brasileira, em linha com o que acontece no resto do mundo, está desacelerando neste ano. A previsão de analistas é de que o ritmo mais lento se repita em 2023.
PEC da transição
Durante participação no evento desta sexta, Paulo Guedes criticou a falta de definição quanto à fonte de custeio para as despesas listadas na sugestão de texto para a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Transição.
“[...] Esse auxílio pode ser aumentado? Pode, com (...) fonte permanente para financiar isso."
Sem citar nominalmente a PEC, o chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia, Rogerio Boueri, defendeu que o desenvolvimento social depende da responsabilidade fiscal.
“O que pode comprometer o desenvolvimento social do país é nós perdermos o rumo na política fiscal, começarmos a não conseguir mais rolar nossa dívida a taxas aceitáveis e, cada vez mais, descarrilar a economia brasileira”, disse Boueri.
Para permitir o pagamento do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) no valor de R$ 600 a partir de janeiro, o governo eleito enviou ao Congresso Nacional uma sugestão de PEC para tirar da regra do teto de gastos a despesa com o benefício.
Ao g1, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), responsável pelo orçamento de 2023 na equipe de transição, afirmou que caberá ao Congresso Nacional criar eventuais compensações para o aumento de gastos previsto na PEC.
Fonte: g1
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