quarta-feira, novembro 02, 2022

Continência para manifestantes, 'não vou aplicar multa': policiais são investigados por atuação durante bloqueios ilegais de bolsonaristas

A atuação de policiais rodoviários durante os protestos bolsonaristas contra o resultado das urnas se tornou alvo de investigação.


Os casos ocorreram em São Paulo e Santa Catarina e envolvem a Polícia Militar Rodoviária de São Paulo e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).


Segundo juristas, servidores que não atuarem para a liberação das vias bloqueadas podem responder por processos administrativos e criminais. Do ponto de vista administrativo, o servidor estará sujeito à infração que pode levar até a demissão pela prática de insubordinação grave em serviço.


Na esfera criminal, os policiais podem responder por prevaricação, quando um funcionário público retarda ou deixa de realizar um ato de ofício por interesses pessoais, e por desobediência. Em ambos os casos, a pena prevista pode variar de três meses a um ano de detenção e multa.


Até o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, pode responder criminalmente. Ele está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por suposta falta de ação em relação aos bloqueios. Vasques também será investigado por uma possível tentativa de interferência no processo eleitoral por conta de operações realizadas pela PRF no domingo durante as eleições.


Veja mais detalhes sobre esses e outros casos abaixo:


Policiais batendo continência



O último caso de conivência da polícia que ganhou destaque e teve grande repercussão foi o de um grupo de policiais rodoviários estaduais que aparecem batendo continência aos manifestantes em um vídeo que circula nas redes sociais. O registro foi feito na noite de terça-feira (1°) em bloqueio na Rodovia Cândido Portinari (SP-334), em Franca (SP).


O vídeo mostra quatro policiais do batalhão de Polícia Militar Rodoviária de São Paulo prestando continência ao grupo que realizava o bloqueio, em meio a gritos de apoio. Os manifestantes passam a cumprimentar os policiais e um deles parece comemorar com outras pessoas.


Em um grupo de WhatsApp da Polícia Militar para comunicação com a imprensa, um tenente que afirmou estar no local disse que o ato ocorreu como forma de evitar novos bloqueios e conflitos. "Como forma de agradecimento prestamos a continência. Utilizamos de meios de negociação para evitar males e a segurança da rodovia", destacou o policial.


A Corregedoria da Polícia Militar informou, por meio de nota da Secretaria de Segurança Pública (SSP/SP) que vai investigar o caso.


Guardas municipais participam do ato


Guardas municipais de Maceió que estavam de plantão foram flagrados nesta terça-feira (2) em ato dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante ato contra os resultados das eleições. Os protestos acontecem na Avenida Fernandes Lima, principal via da capital, desde domingo (31).


No vídeo (assista acima), é possível ver pelo menos três guardas participando da comemoração junto com os bolsonaristas. Um deles pula junto com os manifestantes, o outro abraça e levanta a bandeira do Brasil. O terceiro, que estava dirigindo o carro da Guarda Municipal de Maceió, sai para vibrar junto com os manifestantes. As imagens circularam pelas redes sociais.


Em nota, a Secretaria Municipal de Segurança Comunitária e Convívio Social (Semscs) informou que identificou os guardas e que um deles foi afastado. O caso será encaminhado para a Corregedoria Geral.


'Não vou fazer multa nenhuma'


Em Santa Catarina, um vídeo mostra agentes da PRF dizendo que não vão intervir ou multar manifestantes. Nas imagens, gravadas na segunda-feira (31), os agentes dizem que a orientação da instituição é para que os policiais apenas permaneçam no local. O órgão disse que vai investigar conduta de agentes.


"Compromisso que eu faço com vocês: nenhum veículo que está aqui na manifestação será alvo de qualquer notificação. Eu não vou fazer multa nenhuma", disse.

As falas foram gravadas em vídeos e são acompanhadas de aplausos e gritos por quem participa do protesto contra o resultado das urnas nas eleições presidenciais.


Homem é agredido por manifestantes e PRF não faz nada


Homem conta que teve roupas rasgadas durante agressão. — Foto: Reprodução/RPC


Um homem afirmou ter sido agredido por manifestantes bolsonaristas em um bloqueio na BR-277, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, na tarde de segunda (31). Segundo o homem, policiais da PRF estavam presentes no momento da agressão, mas não interviram na situação.


"Três policiais da PRF estavam ali assistindo, e eu olhei pra eles e pedi socorro, porque ali eu achei que ia morrer linchado. [...] Fiquei ali sem auxílio nenhum, pedi socorro a eles e eles não me auxiliaram. Eram três policiais e não fizeram absolutamente nada", afirmou.

O homem, que preferiu não ter a identidade revelada, disse que registrou uma queixa online na Corregedoria da PRF, inclusive com o nome dos policiais envolvidos.


Policiais cortam grade

Também em São Paulo, um vídeo de um policial cortando uma grade de proteção da Rodovia Hélio Smidt (Guarulhos) em meio a gritos de apoios dos bolsonaristas ganhou repercussão. A polícia nega, no entanto, que a ação tenha ocorrido para apoiar os manifestantes que bloqueavam as vias.


"Tem um vídeo que foi muito divulgado, de um policial da PRF cortando uma telinha. Aquela tela, aquele alambrado pequenininho é um que fica entre as duas pistas da Hélio Smith. A pista Leste e Oeste [da Rodovia] tem um gramado, um colega precisou cortar aquele alambrado para que a viatura que fosse apagar o incêndio pudesse passar, isso, porque a pista do lado Lesta estava totalmente interditada", afirmou Fernando Miranda, superintendente da PRF do estado de São Paulo

Segundo a PRF, dois manifestantes foram presos por não cumprirem ordens dos policiais, um em Guarulhos e outro em São José do Rio Preto. Os detidos vão responder por desobediência à ordem judicial.


Depredação de veículos

Um motorista teve a caminhonete depredada ao tentar furar o bloqueio de bolsonaristas na rodovia, em Coronel Sapucaia (MS), a 381 km de Campo Grande, na terça-feira (1º).


É possível ver os bolsonaristas jogando pneus, cones e pedaços de madeira contra o veículo, para tentar impedir o condutor passasse. O motorista consegue avançar após o bloqueio, mas para a caminhonete após ser cercado por outro carro.


Os bolsonaristas então começam a bater na janela do veículo. “Chama a polícia, chama a polícia”, diz um dos manifestantes enquanto outros gritam. Nenhum boletim de ocorrência foi registrado sobre o caso. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) não comentou sobre a situação.


Policiais fazem churrasco

Na terça-feira (01), em Sorocaba, um vídeo que circulou nas redes sociais mostra um grupo de bolsonaristas fazendo um churrasco durante um bloqueio ilegal na Rodovia Raposo Tavares.


Nas imagens, é possível ver churrasqueiras acesas com espetinhos e linguiça, além de costelas de chão. Vários manifestantes, alguns vestidos de verde e amarelo, são vistos comendo e ajudando a assar a carne. Ao fundo, aparecem alguns policiais militares, que não interferem no ato, considerado ilegal pelas autoridades (assista acima).


O homem que narra o vídeo afirma que o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), esteve no local. "Olha como que tá aqui. O policial tudo lá atrás, os caras 'falou' que não 'vai' nem se intrometer. O Manga veio aqui e falou para nem intervir. Tá suave", diz.


Motorista preso ao tentar furar bloqueio


Imagens gravadas com um celular mostram o homem, de camisa verde, fora do carro e cercado pelos manifestantes. Com os braços para cima, ele faz sinal de rendição enquanto um policial militar conversa com ele. Em seguida, um outro militar se aproxima, algema o motorista e o leva para fora do enquadramento da filmagem.


A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o motorista foi preso porque, impedido de trafegar, ele teria ameaçado furar o bloqueio. Ele foi levado para a Central de Flagrantes, no bairro do farol, para ser ouvido e autuado.


Fonte: g1

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