O estudante Ayrton Almeida, de 23 anos, que denunciou ter entrado em coma após passar por um trote em uma república federal de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, foi ouvido pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, nesta quinta-feira (27), e disse que sofria humilhações e era controlado por veteranos.
Ayrton, que estudava engenharia metalúrgica na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), afirmou que sofria preconceito por ser do Maranhão e ouvia xingamentos como "maranhense safado". Ele disse que era obrigado a consumir bebida alcoólica e que, em alguns casos, só podia dormir quando os veteranos fossem dormir.
"Eles obrigam a gente a beber. São eles que decidem quando a gente pode beber e quando não pode, quando a gente para e quando não para. Eles decidem tudo, têm total controle da gente e fazem uma lavagem cerebral, não só em mim, como fazem em todos os calouros. É um sistema totalmente opressor, eles não aceitam ser contrariados", afirmou.
Sobre o dia 4 de agosto, quando Ayrton foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ouro Preto, ele disse que foi chamado para a república Sinagoga, onde morava, para uma reunião.
Segundo o estudante, em determinado momento, ele deu uma risada e foi repreendido. Ele e outros calouros teriam sido levados para a área externa.
"Vieram com um copo de molho e deram para eu tomar. Para os outros colegas, deram cachaça. Eu tomei e não vomitei. Vieram com outro copo e, desta vez, misturaram com cachaça. Eu tomei e vomitei logo. E, porque eu tinha vomitado, ia ter que tomar um litro de cachaça inteiro", contou.
De acordo com Ayrton, depois disso, jogaram água com pó de café e o líquido acabou atingindo o rosto dele.
"Depois, não me lembro de mais nada", falou.
Ayrton foi transferido da UPA para a Santa Casa de Ouro Preto, onde foi intubado e passou 16 dias internado, metade deles na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Conforme o estudante, os laudos médicos apontaram sinais de abuso sexual – a Santa Casa de Ouro Preto não repassa informações de pacientes.
A mãe de Ayrton, a doméstica Regina Araújo Veras, disse que espera justiça. O filho dela trancou a matrícula na UFOP e voltou para casa com problemas de saúde.
"Acabaram com o sonho dele", afirmou.
Em nota, a República Sinagoga afirmou que "as supostas condutas que vêm sendo imputadas ao moradores divergem da realidade dos acontecimentos, que serão esclarecidos perante as autoridades competentes".
"A República Sinagoga, fundada em 1949 por ex-alunos da antiga Escola de Minas, se trata de residência estudantil ligada à Universidade Federal de Ouro Preto e, em toda a sua longa história, jamais passou por episódio similar ao que ora é atribuído indevidamente a ela e aos seus atuais moradores", disse.
A república falou, ainda, que os atuais moradores "agiram com o estrito espírito de irmandade que norteia a convivência republicana, adotando todas as medidas para conduzir o morador afetado ao hospital, preservando sua integridade física e sua vida, bem como dando todo o suporte à família".
Já a Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (Refop) publicou nota nas redes sociais em que declara "total repúdio à cultura de trotes abusivos, a qual não deve representar o sistema republicano".
Fonte: g1
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