segunda-feira, setembro 26, 2022

Em carta de renúncia, pastor pró-Lula diz que batistas permitem acenos à direita

O pastor Sérgio Dusilek, da Convenção Batista Carioca, afirma em sua carta de renúncia que religiosos batistas permitem acenos à direita. O blog obteve acesso ao documento.


Pastor Sérgio Dusilek foi criticado por evangélicos após participar de evento eleitoral com Lula — Foto: Reprodução


Dusilek foi criticado por participar de um ato pró-Lula (PT) no Rio de Janeiro, no dia 9 de setembro, em São Gonçalo (RJ). Ele decidiu renunciar ao posto cinco dias depois.


Em sua carta, ele afirma que parte dos batistas não reagiram da mesma maneira quando políticos ou religiosos se posicionaram à direita.


"Ao longo dos últimos doze anos, de maneira geral, os batistas convencionais não condenaram os pronunciamentos contra alguns partidos políticos e seus quadros, antes permitiram acenos ao espectro político mais à direita, tolerando inclusive a fala presidencial em Assembleia. Tão pouco condenaram o apoio de líderes denominacionais à candidatos", diz.



O pastor afirma na carta que seu pronunciamento durante evento pró-Lula foi "em caráter estritamente pessoal e intransferível", sem relacionar com seu posto à frente da Convenção.


Diz, ainda, que não contaminou o espaço religioso nem "profanou o sagrado". "Tampouco violei a consciência de qualquer congregação. Estava em um clube, em um evento político, com cidadãos e cidadãs de variados matizes de fé e ideologias", se defende e encerra o texto: "Em Cristo, Justiça nossa".


Confira a carta na íntegra:


"Rio de Janeiro, 13 de Setembro de 2022.


À CONVENÇÃO BATISTA CARIOCA


“Porque nada podemos contra a verdade, porém, a favor da verdade”. (II Cor.13:8)


Prezados Irmãos e Irmãs da Convenção Batista Carioca (CBC), Paz e Graça sobre cada um de vocês e suas casas.


Há cerca de três semanas, sinalizei à Assessoria de Finanças do Conselho da CBC, em sua reunião, meu forte desejo de renunciar ao mandato. Na minha leitura, a ausência de um fluxo de informações cruciais, tornava excruciante a experiência da liderança da CBC, especialmente na busca de solução para problemas que se arrastam há anos. Naquele momento, não efetivei a decisão, pois foi-me pedido para antes nos reunirmos, em caráter informal, com o Conselho da Convenção. A mim, sempre me pareceu que tais dificuldades poderiam estar ligadas ao visível desconforto, por setores da denominação, com minha eleição em final de outubro de 2021.



Tais setores, silentes num primeiro momento, retornaram a fala por ocasião do meu pronunciamento em caráter estritamente pessoal e intransferível no Encontro do Ex-Presidente Lula com Evangélicos na última sexta-feira(09/09), na cidade de São Gonçalo (RJ). O convite, feito por uma amiga na véspera do evento, não foi dirigido à CBC, mas a mim, o que se confirma até pelos trajes casuais que vestia. Nem mesmo sabia de antemão que, além de convidado a ir, também seria convidado para uma breve fala.


O vídeo, se visto na íntegra, atesta que me pronunciei como um batista que sou. Em nenhum momento falei, ou pretendi falar, pelos batistas sejam eles da CBC ou da CBB, o que coaduna com minha formação e lastro denominacional. Desta feita, respeitei tanto o Princípio da Liberdade de Consciência e Expressão, quanto o Princípio de Separação entre Igreja e Estado.


Aproveitei a rara oportunidade que me foi dada para exortar, a partir das Sagradas Escrituras, os candidatos. Falei de Justiça Social. Denunciei a mendicância que violenta nossos compatriotas e avilta a Deus.


De igual modo não contaminei o espaço religioso: o templo. Não profanei o sagrado: o culto. Tampouco violei a consciência de qualquer congregação. Estava em um clube, em um evento político, com cidadãos e cidadãs de variados matizes de fé e ideologias.



Apenas a título de exemplo, meu procedimento foi exatamente o mesmo quando, em um evento no final de junho, por conta de um convite feito por um amigo, estive em um encontro em que o Deputado Hélio “Bolsonaro” Lopes, candidato à reeleição, foi homenageado.


Naquela ocasião, fui chamado para compor a mesa e, quando — sem saber de antemão que falaria — foi-me dada a palavra, me apresentaram como Presidente da CBC. De igual modo, falei como Batista e não em nome dos batistas.


Por isso, me parece fácil concluir que o problema nunca esteve em — alheio à minha vontade — ser apresentado como Presidente da CBC, e muito menos no conteúdo da minha fala como cidadão, e sim para quem eu falei.


Digo isto porque ao longo dos últimos doze anos, de maneira geral, os batistas convencionais não condenaram os pronunciamentos contra alguns partidos políticos e seus quadros, antes permitiram acenos ao espectro político mais à direita, tolerando inclusive a fala presidencial em Assembleia. Tão pouco condenaram o apoio de líderes denominacionais à candidatos.


Isto posto, com a lisura e desapego a cargos com que sempre me conduzi, e visando pacificar a Convenção Batista Carioca, renuncio, em caráter irrevogável, ao meu mandato de Presidente da Convenção Batista Carioca.



Em Cristo, Justiça nossa, fraternalmente,


Fonte: Blog da Andréia Sadi

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