Ao menos seis deputados estaduais entraram com pedido de cassação do deputado bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos) no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa (Alesp). Garcia ofendeu e intimidou a jornalista Vera Magalhães após o debate entre candidatos ao governo de São Paulo, realizado por TV Cultura, Folha e UOL na noite da terça-feira (14).
Os deputados estaduais Emídio de Souza e Paulo Fiorilo, ambos do PT, informaram em suas respectivas contas no Twitter que vão pedir na Alesp a cassação de Garcia. "Aliás é contra esse tipo de postura que lutamos diariamente. Nojo desse tipo de pessoa que se esconde na imunidade parlamentar para intimidar e agredir", tuitou Fiorilo.
A deputada estadual Monica Seixas (PSOL) informou à imprensa que apresentou ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Alesp o pedido de cassação do mandato de Douglas Garcia. O motivo do pedido de cassação seria a quebra de decoro em função da agressão amplamente noticiada contra a jornalista Vera Magalhães. "Atitudes assim não podem passar impunes", informou a assessoria da parlamentar.
Além de Emidio, Fiorilo e Monica, os deputados Patricia Bezerra (PSDB), Leci Brandão (PCdoB), Márcia Lia (PT), Isa Penna (PCdoB) e Luiz Fernando Teixeira Ferreira (PT) também entraram com pedido de cassação.
Questionada, a assessoria da Alesp afirmou que recebeu uma representação pela cassação do deputado feita pelo PT por conta do caso.
O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) informou nesta quarta que irá apurar a conduta de Garcia (Republicanos).
"O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo irá apurar as denúncias em relação à conduta do deputado Douglas Garcia com transparência e celeridade. A Alesp não compactua e repudia condutas ofensivas e desrespeitosas, sempre prezando pelo respeito, diálogo e tolerância entre todos. O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Carlão Pignatari, manifesta a sua solidariedade à jornalista Vera Magalhães e seu repúdio à atitude irresponsável do deputado Douglas Garcia. Pignatari reforça o seu compromisso e respaldo ao Conselho de Ética que, nesta gestão, tem cumprido com o seu dever e cumprirá mais uma vez", informa nota divulgada à imprensa pela Alesp.
Vera, que é colunista do jornal O Globo, comentarista da rádio CBN e apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura, estava na área reservada para jornalistas quando foi abordada por Douglas Garcia.
Com o celular em punho, ele se aproxima de Vera e diz que ela é "uma vergonha para o jornalismo" e a intimida. A frase é a mesma usada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) contra a jornalista durante o debate da Band entre candidatos à Presidência.
O que diz Douglas Garcia
Em seu perfil nas redes sociais, Douglas Garcia divulgou um vídeo no qual negou ter agredido a jornalista. Ele afirma que a abordou para questionar o contrato dela com a TV Cultura e que registrou um boletim de ocorrência contra ela por “calúnia e difamação”. Ao final da gravação, ele repete as ofensas que proferiu durante o debate.
O parlamentar também voltou a falar a mentira que tem sido compartilhada em redes sociais de que Vera Magalhães receberia R$ 500 mil anualmente. “Eu ganho R$ 22 mil por mês da TV Cultura, desde o ano de 2020, num contrato que é público, que ele como deputado já requereu e ao qual ele tem acesso, e que eu já publiquei nas minhas redes sociais. Ele veio mentir novamente", declarou Vera em um vídeo em seu perfil no Instagram.
O que diz o Republicanos
Nota obtida pelo Blog da jornalista Andréia Sadi informa que o Republicanos repudiou a maneira como Douglas Garcia abordou Vera Magalhães durante o debate na TV Cultura. No mesmo comunicado, o partido informou que irá convocar o parlamentar para se explicar. Depois disso, o Republicanos decidirá se tomará alguma medida.
"O Republicanos repudia o ocorrido nos bastidores do debate da TV Cultura envolvendo o deputado estadual Douglas Garcia e não compactua com a forma como ele abordou a jornalista Vera Magalhães. A conduta do partido, que preza pelo conservadorismo na sua essência, é sempre pela via do diálogo, do bom senso e do respeito aos demais partidos, às instituições e às pessoas. Isso foi deixado claro ao Douglas no ato da sua filiação no ano passado. Não reagimos com destempero às meias-verdades ou mentiras publicadas a nosso respeito. Ao contrário: procuramos sempre mostrar o outro lado ainda que ele seja muitas vezes ignorado. Nunca o partido agrediu de nenhuma maneira qualquer pessoa. Sendo assim, a Executiva Estadual do Republicanos de São Paulo irá convocar o deputado Douglas Garcia para dar suas explicações e avaliará eventuais medidas concretas a serem tomadas", informa o comunicado da Executiva estadual do partido em São Paulo.
Repercussão entre candidatos
Candidato a deputado federal, Garcia estava na comitiva do ex-ministro e candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nas redes sociais, Tarcísio alegou que não viu o ocorrido e criticou a postura do correligionário, sem citar o nome dele.
Fernando Haddad, candidato do PT ao governo de SP, criticou o comportamento de Garcia. "Lamento profundamente e repudio veementemente a agressão sofrida pela jornalista Vera Magalhães enquanto exercia sua função de jornalista durante o debate de hoje. Essa é uma atitude incompatível c/ a democracia e não condiz c/ o que defendemos em relação ao trabalho da imprensa".
Rodrigo Garcia, governador de SP e candidato à reeleição pelo PSDB, usou as redes sociais para manifestar repúdio. "Meu total repúdio ao ataque covarde que a jornalista Vera Magalhães sofreu, após o debate da TV Cultura, vindo de um sujeito que não representa os valores democráticos nem o povo de São Paulo. Minha solidariedade a você, Vera."
Candidatos à Presidência da República também utilizaram as redes sociais para repudiar a ofensa e a intimidação feitas pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP) à jornalista.
Celular arremessado
No momento da confusão, Leão Serva, apresentador do debate, pegou o celular do deputado e arremessou longe.
Em um vídeo que circula nas redes sociais, o apresentador afirma que o assédio do parlamentar a jornalista é antigo e que tomou tal atitude na intenção de conter o político.
"Ele veio aqui visivelmente com a intenção de ‘lacrar’. A única solução possível naquele momento era afastá-lo da ‘lacração’”, disse Serva. "[Garcia] já tem uma prática de assédio a Vera Magalhaes há um bom tempo.”
Boletim de ocorrência
Vera afirmou que precisaria sair escoltada do local do debate, e que fará um boletim de ocorrência.
"Esse tipo de postura vinda de um parlamentar é inaceitável, intolerável na democracia. Não será um truculento, nem dois, que irão me intimidar a continuar fazendo meu trabalho. O deputado tem o meu contrato, porque o requereu. Mente reiteradamente. Agride mulher. Não vai me calar", afirmou, na rede social.
Jornal o Globo e rádio CBN divulgam nota de repúdio
O jornal O Globo e a rádio CBN divulgaram nesta quarta-feira (14) uma nota de repúdio aos ataques do deputado Douglas Garcia (Republicanos) contra a jornalista Vera Magalhães.
Leia a íntegra da nota:
"É inaceitável sob todos os aspectos o ataque feito pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) à jornalista Vera Magalhães, colunista do GLOBO, da CBN e apresentadora da TV Cultura. Não há espaço para esse tipo de ataque contra profissionais de imprensa em um ambiente democrático. Ao ofender e constranger a jornalista, uma das mais respeitadas do país, o deputado desferiu um atentato à imprensa livre. A situação é agravada pelo fato de Douglas estar no debate como convidado do candidato Tarcísio de Freitas, que, menos mal, repudiou a agressão. O episódio também prova, para que ainda tinha alguma dúvida, que a conduta violenta do presidente Jair Bolsonaro, que atacou a jornalista no debate da Band, há duas semanas, gera agressões subsequentes. Os ataques não impedirão que o jornalismo independente siga fazendo as perguntas necessárias a todos que ocupam, ou pretendem ocupar, cargos de poder".
Processos, ofensas e polêmicas
Deputado bolsonarista, Douglas Garcia tem histórico de agressões, polêmicas e denúncias no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de SP.
Em junho de 2020, ele foi suspenso pela presidência da Casa por conta do envolvimento na disseminação de fake news e de ataques a instituições pilares da democracia.
No ano passado, ele foi condenado a indenizar todas as pessoas que tiveram seus dados divulgados em junho de 2019 no chamado "dossiê antifascista", que contém centenas de dados pessoais de opositores do governo federal.
No documento de quase mil páginas, os nomes, fotografias, endereços e telefones pessoais de várias pessoas foram divulgados sem prévia permissão e associados a termos como "terroristas" e "organização criminosa".
Ele responde a pelo menos onze processos na Justiça de São Paulo por causa do suposto dossiê. No total, as indenizações perdidas por ele já somam R$ 70 mil.
Em maio deste ano, a deputada Erica Malunguinho entrou com representação por transfobia contra Garcia. Em uma sessão na Alesp, ele disse que trans é "homem que se acha mulher".
Em junho, o YouTube suspendeu o canal oficial da Assembleia Legislativa do estado de São Paulo (Alesp) por sete dias após Douglas Garcia exibir um vídeo com desinformação sobre Covid.
Fonte: g1
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