O adolescente que matou uma colega cadeirante ao promover um ataque armado no Colégio Municipal Eurides Sant'Anna, em Barreiras, no oeste da Bahia, usou o revólver do próprio pai – um subtenente aposentado da Polícia Militar – na ação. A arma estava guardada debaixo de um colchão na casa onde a família mora.
O ataque foi praticado na manhã de segunda-feira (26) e o jovem também usou um facão. Nesta terça-feira (27), ele está hospitalizado sob custódia, após ter sido baleado quatro vezes. A pessoa que disparou contra ele ainda não foi identificada.
O nome dele não foi divulgado por se tratar de um menor de idade. O estado de saúde do adolescente é estável, apesar de grave, de acordo com o delegado Rivaldo Luz, que investiga o caso.
"Arma era do pai dele. O pai é subtenente aposentado no Distrito Federal. Ele disse que a arma estava guardada. Disse que o filho era introspectivo, calado, tinha poucas amizades, mas era um bom menino, tirava boas notas, embora relatasse que ele tinha faltado muito às aulas, e tinha dificuldade de fazer amizades".
"Dentro de casa, ele tinha uma boa relação e cuidava, inclusive, de um tio que é cadeirante também. O pai relatou que não consegue entender o motivo que levou a criança fazer isso".
Por causa disso, o pai do jovem também poderá responder pelo caso, já que a arma usada no ataque deveria estar sob o cuidado dele. Por ser policial, ele tem autorização para portar arma, mas precisa seguir regras.
"O dever de cautela é do portador da arma, que é quem tem a autorização legal. Vamos avaliar com bastante calma, junto com outros delegados que também estão trabalhando no caso, para que agente possa fazer as coisas com bastante serenidade, com bastante cuidado, para conseguirmos chegar a um final comum".
Adolescente não tinha alvo definido
As investigações da polícia apontam que a jovem Geane Brito, de 19 anos, não era alvo primordial do adolescente. A Prefeitura de Barreiras informou que as aulas na escola em que aconteceu o ataque foram suspensas por uma semana.
"Ele já entrou atirando, não tinha um alvo fixo, então ele tentou acertar o maior número de pessoas possíveis. Em algum momento, a arma 'picotou' [falhou]. Houve uma certa imperícia dele, porque o revólver falhou em alguns momentos. Quando ele conseguiu atirar na entrada do colégio, as pessoas começaram a correr.
"Ele não teve condição com arma, que só tinha seis balas e ele teria que recarregar – e ele tinha material para recarregar –, ele não teve tempo de executar mais pessoas".
Inicialmente, a polícia informou que Geane teria sido baleada. No entanto, durante as investigações, a informação foi corrigida. A vítima foi morta por golpes de um facão. "Infelizmente a vítima era uma cadeirante, deficiente física. Ela não teve condições de reagir. Ele conseguiu degolá-la e esfaqueá-la".
Publicações nas redes sociais
O delegado detalhou que a polícia apura publicações na internet, feitas pelo adolescente, e informou que investiga a participação dele em outros ataques, que teriam sido praticados em outros estados.
"Nós estamos em contato com autoridades de outros estados, porque há indício de relação com outras situações, em outros estados. Ele tinha uma relação na internet muito forte, e nós estamos investigando outras autoridades para conseguir entender os motivos, a forma, se alguém financiou e incentivou de alguma forma, se participou desse atentado".
O delegado Rivaldo destacou que o adolescente foi responsável por comentários racistas na internet, e todo o material publicado por ele será investigado.
"Ele é aluno introspectivo, conversava pouco, gostava de usar roupas pretas, de fazer comentários racistas na suas escritas. Então nós entendemos que ele programou tudo isso".
Depois que receber alta médica, o adolescente seguirá apreendido. O delegado também informou que já acionou o Ministério Público da Bahia (MP-BA) e a Justiça, com relação ao ataque.
"É uma prisão diferenciada, por ele ser menor de idade, mas é uma prisão. Ele está à disposição da Justiça. Estamos em contato com o Ministério Público e o Judiciário, para que a gente consiga mantê-lo apreendido pelo maior tempo possível, até para entender a situação melhor, tomar o depoimento dele e conseguir avançar bastante na investigação", explicou.
Escola não tinha câmeras de segurança
Rivaldo disse ainda que a escola não tinha câmeras internas de segurança, o que dificulta as investigações para entender como aconteceu a dinâmica do ataque. No entanto, as imagens registradas pelos alunos e por moradores, do lado de fora, vão ajudar nas apurações.
"Essas imagens poderiam nos ajudar bastante para entender como aconteceu o fato. As imagens da câmera de fora já foram recolhidas, estão sendo tratadas para que a gente consiga montar toda a logística do atentado. Na investigação, a gente tem muita coisa para desvendar ainda. Vamos continuar ouvindo algumas pessoas e vamos fazer a investigação digital".
Pai da vítima ficou consternado
O pai de Geane se emocionou ao falar da filha. Antes de saber que a garota tinha sido atacada com golpes de facão, ele chegou a dizer que, se pudesse, teria ficado na frente dos disparos para salvar a filha.
"O sentimento não é de culpado, porque um pai não se sente culpado em um momento desse. Se eu estivesse na hora, eu me atravessava na frente da bala para salvar minha filha. Eu peço desculpa a vocês, porque é triste, um pai está na frente de uma situação dessa, é dolorido", disse José Ferreira.
Fonte: g1
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