Após ter sido afastado preventivamente, o professor de Direito e juiz do trabalho Marcos Scalercio "não tem mais vínculo nenhum com a instituição", informou o Damásio Educacional, por meio de nota.
A divulgação ocorre após o g1 revelar na segunda-feira (15) que alunas do cursinho, advogadas e uma funcionária da Justiça do Trabalho acusam-no de assediá-las sexualmente. Naquela ocasião, ao menos dez mulheres diziam ter sido assediadas por Scalercio entre 2014 e 2020.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministério Público Federal (MPF) analisam três dessas denúncias contra o magistrado e professor, respectivamente, nas esferas administrativa e criminal. Os dois procedimentos estão em sigilo.
Depois da repercussão do caso nas redes sociais, o Me Too Brasil, que tem parceria com o Projeto Justiceiras, recebeu mais 61 relatos de possíveis vítimas de Scalercio. Os órgãos, que prestam assistência jurídica gratuita a vítimas de violência sexual, encaminharam 20 desses casos para as autoridades competentes avaliarem.
O Damásio não informou, entretanto, se foi Scalercio que pediu desligamento, se foi o cursinho que o demitiu ou, ainda, se a decisão foi de comum acordo entre o professor e a instituição.
"Informamos que o docente não tem mais vínculo nenhum com a instituição", informa um dos comunicados do Damásio. "A Administração informa que o professor não faz mais parte do quadro de docentes da instituição."
Na segunda, o cursinho havia informado que afastou Scalercio das aulas até que o caso fosse "esclarecido e concluído". Mas, na quinta (18), a instituição informou, sem dar mais detalhes, que ele não integra mais a equipe.
"O docente não atua mais em nossos cursos. Infelizmente, a instituição não pode passar informações detalhadas sobre esse processo", respondeu o Damásio ao ser questionado pela reportagem sobre como ocorreu o desligamento do professor.
A defesa de Scalercio também não havia comentado o assunto até a última atualização desta reportagem. Na terça, o magistrado pediu férias do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), onde trabalha como juiz substituto.
Nesta semana, ex-alunas do Damásio Educacional usaram as redes sociais para dizer que, pelo menos desde 2016, já haviam procurado o cursinho e denunciado Scalercio por comportamento inadequado. Entre as queixas relatadas estavam convites do docente para sair com as estudantes e envios de mensagens inapropriadas com conotação sexual para as redes sociais delas.
Segundo as ex-alunas, quem recusasse as investidas do professor sofria retaliações no curso. O g1 conversou com algumas das mulheres.
O Damásio sempre negou que soubesse de casos de assédio sexual envolvendo o professor e alunas dos seus cursos preparatórios para concurso público e para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O cursinho não respondeu ao g1 se havia queixas sobre comportamento inadequado dele com estudantes que tenham sido encaminhados pessoalmente a funcionários.
"A instituição ressalta que não recebeu manifestação de estudantes em seus canais oficiais", informou o Damásio por meio de nota divulgada nesta terça por sua assessoria de imprensa. "Os Canais Oficiais são: Ouvidoria e Fale Conosco. Ambos estão disponíveis no portal da Instituição."
"O professor Marcos Scalercio estava com conduta inadequada nas redes sociais, no caso, misturando a parte profissional com a pessoal, e isso estava me constrangendo nas aulas, em vê-lo aos sábados", disse na terça (16) ao g1 uma ex-aluna do Damásio sobre a denúncia que ela afirmou ter levado ao conhecimento de um funcionário da secretaria do cursinho em 2018. "Ele pediu desculpas e disse que isso seria averiguado." Mas a resposta nunca veio.
"Depois deixei o curso e fui para outro", disse a ex-aluna, que contou não ter tido consciência à época de que havia sido vítima de assédio sexual. "Hoje sei que fui assediada por ele."
Segundo a mulher, que se atualmente trabalha como modelo, Scalercio passou a procurá-la depois que ela postou uma foto do professor na rede social dela e o marcou, elogiando suas aulas.
"Ele me procurou no Instagram, passou o celular dele, e ali mesmo já começou dizendo coisas como se eu curtia beijos no corpo todo, perguntava se eu era santinha ou safadinha. Dizia que gostava de preliminares", falou a ex-aluna. "Me sentia constrangida e invadida até pelo linguajar."
Fonte: g1
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