A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio (MPRJ) investigam indícios de que o vereador Willian Carvalho dos Santos, o Willian Coelho (DC), e o pai dele, o ex-policial Edson dos Santos Filho, poderiam intermediar a receptação de uma carga de trilhos do Metrô Rio.
"No bojo das investigações, constatou-se indícios de que o vereador Coelho e seu pai integrassem essa organização criminosa e pudessem estar desviando trilhos do Metrô Rio pra encaminhar pra receptadores no estado de São Paulo", explicou o delegado João Valentim.
Em nota, o MetrôRio informou que não teve registro de furto de trilhos nos últimos anos (veja a nota completa mais abaixo).
Os dois foram alvos nesta quarta-feira (3) de mais uma fase da Operação Resina, contra integrantes de uma organização criminosa especializada em furto de cargas de caminhões, como aço, ferro e outros materiais valiosos.
Edson é um dos cinco presos na ação. Ele chegou a ser preso em flagrante em casa com uma pistola com numeração raspada, mas pagou R$ 6 mil de fiança e foi liberado. O ex-policial civil já tem uma condenação por tráfico internacional de armas.
Outro homem, preso em flagrante com munição em casa, também foi liberado após pagar fiança.
Já William foi alvo de buscas. No gabinete dele, os policiais apreenderam um computador.
"Hoje, no gabinete, nós tivemos a apreensão do computador do vereador e vai ser submetido também à perícia, justamente por esse envolvimento. Inclusive, na prisão do seu próprio pai, nós verificamos que no seu passado pregresso já havia também essa questão de tráfico de armas, ou seja, denotando uma efetiva participação nesse tipo de crime", falou a delegada Juliana Emerique.
Entre os presos está o empresário Christiano Burti Gianetti, encontrado em Piracicaba, no interior de SP. Ele vai ser trazido para o Rio.
"Durante a investigação, surgiu a notícia de que o Edson e o Willian estariam envolvidos num furto de trilhos do Metrô Rio. E o Cristiano, em contato com o Marcus Vinicius, que é um outro denunciado, estariam acertando o comprador em São Paulo. E que já teriam dois compradores para o trilho furtado aqui do Rio de Janeiro", falou o promotor Rogério Sá, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro (Gaeco/MPRJ).
Diálogo levantou as suspeitas
No diálogo abaixo, encontrado num celular apreendido em fases anteriores da operação, Christiano Burti Gianetti e outro denunciado, Marcus Vinicius Lima de Souza, falam sobre a negociação dos trilhos.
Marcus Vinicius: Fala meu amigo, beleza? Bom dia. Cara, tu tem algum contato aí que trabalhe com compra de trilho de trem? Porque assim, é um lote bom pra c***. É do metrô aqui do Rio, aí deve ter aproximadamente assim, é muito. Tá na mão de um amigo meu, entendeu? Tu tem algum conhecimento aí que arremata isso? Trilho de trem do metrô aqui do Rio de Janeiro. Tem uns trâmitezinhos políticos aí, mas dá pra gente tirar, se tiver encaixe certo, a pessoa certa dá pra gente tirar. Com nota, tudo direitinho.
Christiano Giannetti: Velho, tem sim, tem uns dois caras fortes pra abraçar tudo. Precisa saber a quantidade, mil toneladas, duas mil? Precisava de foto, precisava saber qual é o trilho e se tiver esquema, cara, vamos abraçar tudo isso aí sim.
De acordo com os promotores, Christiano, apesar de não ser formalmente sócio de Marcus Vinicius, era parceiro dele nas empreitadas criminosas e o responsável por manter contato com os receptadores finais, principalmente no estado de São Paulo.
O esquema
A polícia diz que o esquema funcionava assim: os criminosos usavam uma plataforma de anúncios de frete pela internet para escolher os alvos.
Eles se ofereciam para fazer o transporte de cargas valiosas. E, quando eram contratados pelas empresas, desviavam o carregamento para os receptadores.
Depois, o motorista contratado procurava uma delegacia para dizer que tinha sido roubado. Assim, os criminosos lucravam com a venda do material e com o dinheiro recebido do seguro dos caminhões e das cargas.
21 denunciados
Pela manhã, os agentes também apreenderam seis caminhões, em Duque de Caxias e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, além da Land Rover de Marcus Vinicius.
A Justiça aceitou a denúncia contra 21 pessoas, incluindo Rodrigo Iacontini e Gilberto Donizete Pires, agentes da Polícia Civil de São Paulo. Eles teriam forjado registros de roubos e furtos de cargas para os comparsas.
As investigações continuam. A polícia afirma que vai avançar sobre a rede de empresas e pessoas que compram o material furtado.
Mandados
Agentes do Gaeco/MPRJ e da Polícia Civil saíram para cumprir sete mandados de prisão preventiva e 27 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a empresários, proprietários de caminhões, motoristas e intermediários.
Willian Coelho também atuava como secretário municipal de Ciência e Tecnologia da do Rio, mas se afastou para cuidar da campanha da mulher.
A operação cumpriu os mandados na capital, em Duque de Caxias, Piraí, Mesquita e Nova Iguaçu, além das cidades paulistas de Piracicaba, Ribeirão Pires, Guarulhos e São Paulo. Em um dos endereços em SP, agentes apreenderam R$ 20 mil em espécie e R$ 320 mil em cheques.
Um aparelho celular apreendido durante a segunda fase da Operação Resina com um dos suspeitos revelou a existência de mais atividades criminosas.
Conversas telefônicas entre o dono do celular e Edson demonstrariam a existência de pagamentos de despesas e aluguéis referentes a caminhões e retroescavadeiras utilizadas em obras públicas.
De acordo com as investigações, os criminosos furtavam caminhões e se organizavam para distribuir a carga.
Segundo a polícia, mais de R$ 1,16 milhão em materiais como aço, resina, telas de aço e tubos de dragagem de ferro foi furtado pelos criminosos.
O que dizem os envolvidos
A Secretaria de Governo e Integridade da Prefeitura do Rio afirma que a busca e apreensão na casa de Willian Coelho não possui qualquer relação com o exercício das funções dele enquanto esteve secretário Municipal de Ciência e Tecnologia, cargo que ele deixou no dia 5 de julho. E pelo que se tem conhecimento até o momento.
A Câmara Municipal diz que colaborou com os investigadores durante as buscas.
O RJ1 não conseguiu contato com os advogados e assessores do vereador Willian Coelho e dos outros citados na reportagem.
O MetrôRio informou que está "à disposição das autoridades competentes para apoiar nas investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro e Ministério Público".
A concessionária esclareceu ainda que "não houve registro de ocorrência de furto de trilhos no sistema metroviário nos últimos anos".
Fonte: g1
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