Moscou e Kiev voltaram a trocar acusações neste domingo (07/08) por novos bombardeios na usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, atualmente sob controle russo. No dia anterior, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU, já havia apontado um "risco muito real de desastre nuclear" na instalação, que fica no sudeste da Ucrânia.
A companhia nuclear ucraniana Energoatom disse que ataques realizados na noite de sábado por militares russos danificaram três sensores de radiação da usina, e que um funcionário foi ferido por estilhaços e hospitalizado. Segundo a empresa, o bombardeio atingiu as instalações de armazenamento seco, onde ficam 174 containers com tubos de combustível nuclear já usados.
"Como resultado [do ataque], a detecção e reação rápida em caso de deterioração no status da radiação ou de vazamento de radiação dos containers (...) não são possíveis no momento", disse a Energoatom, que acusou os militares russos de "atos de terrorismo nuclear".
A Rússia, por sua vez, afirmou que militares ucranianos haviam atingido a instalação usando um sistema Uragan de lançamento múltiplo de foguetes de 220 mm. "Os edifícios administrativos e a área adjacente à instalação de armazenamento foram danificados" e os projéteis caíram "no raio de 400 metros de um reator em funcionamento", afirmaram autoridades russas que controlam a cidade de Enerhodar, onde fica a usina, segundo a agência estatal de notícias russa Interfax.
Não foi possível confirmar de forma independente as alegações dos dois lados em conflito.
Na quarta-feira, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, afirmou que a usina, que segue sendo administrada por técnicos ucranianos, estava "extremamente vulnerável" a um colapso e que todas as medidas de segurança haviam sido "violadas" pelas forças russas.
Grossi relatou que os funcionários ucranianos sob comando dos ocupantes russos não estavam conseguindo cumprir adequadamente suas funções e enfrentavam ameaças de violência. Ele afirmou também que uma inspeção para verificar a segurança técnica era urgentemente necessária, mas que o acesso era impossível sem o acompanhamento de forças de paz da ONU, razão pela qual ele está com contato com o secretário-geral da ONU, António Guterres.
No sábado, Grossi afirmou em um comunicado: "Estou extremamente preocupado pelo bombardeio ontem na maior usina nuclear da Europa, que realça um risco muito real de um desastre nuclear".
Sequência de bombardeios
A usina de Zaporizhzhia vem sendo alvo de seguidos bombardeios nos últimos dias que motivam alarme na comunidade internacional e na AIEA. A usina tem seis reatores e é capaz de gerar 5.700 megawatts – no momento, três reatores estão em operação.
Na sexta-feira, um ataque à usina danificou uma linha de alta tensão e uma usina de nitrogênio e levou ao desligamento de um dos reatores – a autoria do bombardeio também foi alvo de troca de acusações entre a Ucrânia e a Rússia.
Segundo a Energoatom, os ataques de sexta-feira "provocaram um risco sério para a operação segura da instalação" e danificaram uma usina de nitrogênio e uma seção auxiliar da usina nuclear. O local, segundo o órgão, "opera sob risco de violação das normas de radiação e proteção ao fogo". "O risco de vazamento de hidrogênio e da dispersão de partículas de radiação continua, e o perigo de um incêndio é bastante alto." O operador ucraniano pede a saída dos militares russos da instalação e que ela seja declarada uma zona desmilitarizada.
Segundo especialistas, se a usina perder a energia da rede, há risco de os geradores e baterias de backup não serem suficientes para resfriar os reatores e os reservatórios de combustível radioativo. Somam-se a essas preocupações as suspeitas de que as forças russas estariam usando Zaporíjia como depósito de armas e cobertura para o lançamento de ataques.
Em 4 de março, no início da ocupação russa, houve um incêndio na usina após um bombardeio russo, que foi controlado duas horas e meia depois e provocou pânico sobre a possibilidade de um desastre nuclear.
Fonte: g1
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