A decisão de Alexandre de Moraes autorizando a operação contra empresários apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que sugerem um golpe de estado em caso de vitória de Lula incendiou os bastidores do governo na terça-feira (23).
Diversas fontes ouvidas pelo blog atacaram a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pois avaliam que a busca e apreensão foi uma “provocação” ao presidente para que ele reagisse e voltasse ao “roteiro do golpista”.
Um ministro de Bolsonaro disse ao blog que “tem gente defendendo” nos bastidores que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) seja “repolitizado”.
A ideia, segundo o ministro ouvido pelo blog, é que ele volte para o Ministério da Justiça, órgão que, por lei, é comandado por um escolhido pelo presidente da República – e atualmente, está sob o comando do bolsonarista Anderson Torres.
O Coaf esteve sob o Ministério da Justiça quando o titular da pasta era Sergio Moro até que, em 2019, Bolsonaro decidiu transferir o órgão para o Ministério da Economia,, abrindo uma crise com o ex-juiz e esvaziando a atuação dele no governo. Depois, o órgão foi para o Banco Central, por força de lei aprovada pelo Congresso e aprovada pelo presidente.
Sugerir controlar o Coaf é, na prática, sugerir que a definição dos alvos de relatórios de movimentações suspeitas feitas pelo órgão passem a ser definidos pela política – mirando pessoas consideradas inimigas pelo bolsonarismo, como é o caso de ministros do STF.
Nos bastidores, Bolsonaro sempre argumentou que o Coaf “persegue seus familiares e aliados” Foi o Coaf, por exemplo, que apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz, que havia atuado como motorista e assessor do Flávio Bolsonaro à época em que o atual senador era deputado estadual.
Em dezembro de 2021, quando o Ministério da Justiça já estava sob o comando de Anderson Torres, o president já havia consultado assessores sobre a possibilidade. A operação contra os empresários bolsonaristas na terça-feira (23) reativou a ideia.
'Defendam-se', disse Guedes a empresários
A operação uniu em contrariedade o comitê bolsonarista e multiplicou a elaboração de cenários do que eles consideram como contra-ataques a Alexandre de Moraes.
Uma das avaliações dominantes entre integrantes do governo é a de que, se Bolsonaro for reeleito, vai “engrossar” nas indicações de nomes ao STF para buscar garantir mais decisões “alinhadas” ao governo, como avaliam as tomadas pelo ministro Nunes Marques, um dos dois indicados por Bolsonaro para a Corte.
Assim que saiu a decisão de Moraes, uma parte de ministros quis cancelar um encontro com cerca de 40 empresários organizado pelo grupo Esfera, temendo que o tema fosse o tema principal. Mas Flávio Bolsonaro e os ministros das Comunicações, Fábio Faria, e da Casa Civil, Ciro Nogueira convenceram o presidente a não cancelar a agenda.
A preocupação de que o assunto virasse o tema principal do encontro tinha razão de ser: a busca e apreensão tendo como alvo grandes empresários não só dominou o encontro na casa do líder do grupo Esfera, João Camargo Neto – organizador do evento – como foi a primeira pergunta dirigida à comitiva presidencial.
Assim que ela foi feita, o ministro da Economia, Paulo Guedes, assumiu a palavra, não deixando o presidente cair na tentação de atacar publicamente e nominalmente Alexandre de Moraes.
Contrariado, Guedes disse que o presidente não ia ficar respondendo a tudo, que colocar Poderes um contra os outros é ruim e que os empresários é que precisavam se defender.
“Defendam-se”, afirmou o ministro da Economia.
Participantes do encontro ouviram dos interlocutores do governo que, se hoje, aquele grupo de 8 investigados pelas mensagens golpistas era alvo da PF, amanhã qualquer outro empresário poderia ser.
Bolsonaristas argumentaram que o STF buscava criar uma "nova Lava Jato", tendo empresários alinhados com o governo na mira.
Eles também foram cobrados a assumir o lado de Bolsonaro na eleição, mas a comitiva presidencial não conseguiu um compromisso público e unânime. Os interlocutores do presidente foram avisados de que o grupo Esfera não pode tomar lado pois recebe diferentes correntes para dialogar – o ex-presidente Lula, que já sinalizou aos organizadores que quer comparecer a um dos encontros com empresários.
Fonte: g1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!