A diarista que trabalhou nos últimos quatro anos na casa do cônsul alemão Uwe Herbert Hahn e do seu marido assassinado, o belga Walter Henri Maximillen Biot, contou que a vítima não apresentava marcas de violência na véspera do crime.
A mulher – que terá seu nome preservado – esteve na cobertura do casal pela última vez na quinta-feira (4), véspera do crime.
O laudo do IML mostrou que o corpo de Walter tinha marcas nos pés, pernas, braços, costas, nádegas, barriga, tórax, rosto e a lesão principal, na cabeça, na região da nuca – que ocasionou o traumatismo craniano e a morte do belga.
As fotos foram apresentadas à testemunha, que esteve com Walter na casa do casal. Ela disse “que não apresentava nenhuma lesão aparente" e "categoricamente" afirmou que Walter não apresentava nenhuma das lesões observadas”, segundo depoimento obtido com exclusividade pelo RJ2.
A testemunha revelou que tinha pouco contato com o cônsul, já que trabalhava às segundas e quintas, mas costumava chegar das 9h às 16h, horário em que o diplomata estava trabalhando.
Ela confirmou o episódio de uma suposta briga que deixou vidros quebrados, que outra testemunha já havia relatado.
“Em abril ou maio, notou que a porta da dispensa e o vidro de um dos armários da cozinha estavam quebrados; que acredita que a porta e os vidros não quebraram em virtude de mau uso; que parecia que algum objeto havia sido lançado contra o vidro.”
E acrescentou outros detalhes: “Por duas ou três ocasiões neste ano, já notou que a fronha do travesseiro usada por Walter continha manchas de sangue”.
No sábado, peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) usaram luminol, e a fronha de um dos travesseiros indicou marcas de sangue.
A diarista contou também que, no mês passado, viu Walter com um corte na região da testa, mas que ele disse ter sido em virtude de um arranhão do gato.
“Nas duas últimas semanas em que esteve na residência, notou Walter extremamente cabisbaixo, mas mesmo não lhe disse o motivo”. Ela confirmou também ter encontrado pinos de cocaína durante algumas vezes em que limpou o imóvel.
'Não há dúvidas sobre a autoria', diz delegada
A delegada Camila Lourenço, responsável pela investigação afirmou, nesta segunda, que a polícia não tem dúvida sobre a existência do crime.
"A gente não tem dúvida sobre a existência do crime. Queremos saber o que teria motivado, qual o plano de fundo, os bastidores, como estava o clima do casal, qual a relação do casal. Essas circunstâncias vão ser importantes, não para definição se autoria, que já está definida, mas para incidência de circunstâncias que vão qualificar o crime e na persecução penal que vai interferir na pena", disse.
A delegada acredita que o depoimento da diarista que trabalhava para o casal pode ser determinante para a conclusão do caso.
Ainda de acordo com a delegada, a vítima tinha inúmeras lesões e até uma mangueira de ar-condicionado teria sido usada nas agressões.
"Foi uma sucessão de espancamentos. Uma das lesões é compatível com pisadura humana na região da costela e outra decorrente de ação contundente com objeto cilíndrico. A gente apreendeu uma mangueira de ar-condicionado que pode ter sido utilizada para realizar as agressões. Também foi apreendido um bastão. Ele foi espancado", afirmou.
Durante a perícia no imóvel, os investigadores encontraram manchas de sangue em diversos cômodos do imóvel. De acordo com a delegada, a explicação do cônsul para a família foi que o marido teve um infarto.
""Ele (o cônsul) teria que apresentar uma versão, tinha que justificar a morte do marido para os familiares. Ele contou que o marido infartou. A versão que ele apresenta para pessoas de seu convívio, inclusive para a secretária dele, era que o marido havia infartado", explicou a delegada.
Tentativa de esconder provas
Ainda de acordo com a delegada Camila Lourenço, os peritos encontraram o apartamento do casal "em completo desalinho". A delegada ainda lembrou que, antes do trabalho de perícia, a secretária do diplomata tentou limpar algumas manchas de sangue no imóvel.
"O apartamento estava em completo desalinho. Chegou ao nosso conhecimento que antes da perícia de local, a secretária do cônsul ingressou no imóvel e limpou uma mancha de sangue no local onde o cadáver foi encontrado. Ela alegou que limpou ali porque o cachorro estava tendo contato com aquela mancha de sangue", explicou.
Além dessa mancha de sangue na sala, os investigadores identificaram que alguém no local teria tentado esconder outras evidências do crime.
"Os peritos identificaram no quarto, na fronha onde o casal dormia, manchas de sangue, na fronha, no chão e no banheiro. Esse banheiro era uma suíte e na porta de entrada tinha um baú, uma mobília que havia sido colocada ali, meio que para dificultar o ingresso. Como se a pessoa estivesse numa tentativa desesperada de tentar ocultar elementos que pudesse incriminá-la", disse a delegada.
"O apartamento estava sujo, mas houve uma tentativa de ocultar indícios. Como se fosse uma tentativa desesperada de dar um jeitinho. Um jeitinho atrapalhado que não conseguiu encobrir a verdade", completou Camila Lourenço.
"Me perguntaram se poderia ser uma prática sexual. Pode ser, mas não é uma tese que a gente tá abraçando. Não descartamos essa tese porque existem algumas lesões muito singulares, que nos levam a crer que pode ter havido isso".
Foram apreendidos um porrete e um chicote verde no apartamento do casal.
Traumatismo craniano
Segundo Camila Lourenço, não há dúvidas sobre a causa da morte do belga.
"A causa determinante para a morte foi um traumatismo craniano na região da nuca. Não há dúvidas que a causa da morte foi essa. A ação contundente gerou uma infiltração hemorrágica e essa foi a causa morte. Mas há um contexto que sugere ter havido espancamento".
"Segundo o perito, algumas das lesões eram recentes e outras mais antigas, o que sugere que ele vinha sendo agredido, que ele vinha sofrendo espancamentos, mais ou menos uns dois dias. Isso pra mim tá claro".
Relembre o caso
Em seu depoimento à Polícia Civil, o diplomata alemão Uwe Herbert Hahn, lotado no Consulado da Alemanha no Rio, disse que seu marido Walter Henri Maximilien Biot sofreu um mal súbito por volta das 20h da ultima sexta-feira (5) e caiu.
Uwe disse também que o companheiro “tomava pastilhas para dormir” e “bebia muito”.
O cônsul contou que o marido teria entrado em surto e começado a correr em direção ao terraço. Ele disse que o marido tropeçou no carpete e caiu com o rosto no chão e fez alguns barulhos, que ele não sabe informar se seriam gemidos ou dor.
Uwe disse ainda que estava na cozinha preparando uma massa, quando ocorreu a queda e que ele não sabe dizer se o marido bateu com a cabeça em alguma mobília ou no chão.
Em depoimento, o diplomata afirmou que ficou desesperado e chegou a dar um tapa nas nádegas de seu marido para tentar reanimá-lo e que depois foi até a portaria para pedir ajuda ao porteiro, que acionou o Samu.
Os socorristas encontrou o belga já em parada cardiorrespiratória e com lesões no corpo — em especial, uma na cabeça e outra nas nádegas — e não atestou a causa da morte.
O corpo, então, foi levado para o IML, onde foram constatados inúmeros ferimentos na cabeça e no corpo de Biot.
O casal estava junto havia 20 anos, morava em uma cobertura em Ipanema e tinha passaporte diplomático. Walter faria 53 anos no próximo sábado.
Uwe foi preso na noite de sábado (6) e transferido para o presídio de Benfica na manhã de domingo (7).
Também neste domingo, a defesa do cônsul deu entrada em um habeas corpus, mas o pedido foi negado pelo plantão judiciário.
Fonte: g1
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