Profissionais que atuam no Censo 2022 estão encontrando dificuldades para entrevistar moradores no Rio Grande do Norte. Os relatos são de recusas por moradores, complicações para atuação em condomínios e até ameaças. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), episódios como esses dificultam o andamento da pesquisa.
Um dos casos mais extremos foi o de um recenseador que chegou a registrar um boletim de ocorrência contra um morador do bairro da Redinha, na zona Norte de Natal. De acordo com o profissional, mesmo com as explicações do que se tratava a pesquisa, o homem se manteve irredutível e fez diversas ameaças contra o profissional.
"Ele disse que era pra eu sair da rua dele e mandou eu não voltar mais. Se eu voltasse, ele ia me dar um tiro, isso com a mão na cintura", afirmou o recenseador, que preferiu não ser identificado.
Após o registro do boletim de ocorrência, ele relata que continua trabalhando na função, mas em outro setor. "Fui remanejado. Eu participei do processo seletivo para melhorar minha renda, mas, após a situação, já pensei em desistir", revela.
Recusa
A atuação dos recenseadores se dá por área de atuação. Cada um tem um setor a ser preenchido, com uma quantidade de residências disposta em uma lista prévia. Diante desse cenário, a recusa de alguns moradores em receber os profissionais vem trazendo morosidade no serviço.
É o caso de um recenseador de 43 anos. Ele atua no Alecrim, e tem a previsão de fazer a coleta de dados em mais de 300 domicílios. "Em alguns casos, o pessoal não tem interesse em responder, falam conosco em tom áspero, num tom de voz grosseiro, com palavras de baixo calão", afirma.
Uma recenseadora, que também pediu para não ser identificada, afirmou que já ultrapassou 85% dos atendimentos previstos, mas vem tendo dificuldades para ouvir moradores de condomínios.
"Meu supervisor foi nesse condomínio e o que disseram foi que seria realizada uma assembleia com os moradores para viabilizar nossa entrada. Mas pra quê assembleia?", questiona a recenseadora, que afirma que precisa concluir o setor para receber o seu pagamento.
O acesso a um condomínio também é problema para Mara Oliveira, de 26 anos. "O gerente do condomínio chegou a dizer que não era obrigado a receber a gente, mas eles são. Se eles não têm noção do que é a lei, não cabe a mim", afirma.
A legislação que torna obrigatória a participação no Censo é a mesma que garante o sigilo das informações repassadas. Conforme texto, "toda pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, é obrigada a prestar as informações solicitadas pelo IBGE".
'Atrapalha a pesquisa', afirma IBGE
Rogério Campelo é coordenador de operações do Censo 2022 no RN e destaca que a recusa traz problemas para o andamento do levantamento.
"A gente faz esse apelo, para que permitam o acesso do recenseador. O censo faz o quadro brasileiro e permite o planejamento para a próxima década, mas algumas pessoas ainda tem dificuldades de entender isso. O IBGE quer apenas fazer o seu trabalho", afirma.
O Censo é uma pesquisa realizada a cada dez anos pelo IBGE, sendo a última feita em 2010. Esse tipo de levantamento é capaz, através de uma ampla coleta de dados sobre a população brasileira, de traçar um perfil socioeconômico do país.
São dois tipos de questionário aplicados: básico e ampliado. Caso prefira, o morador pode optar por responder as questões por telefone ou internet. Mesmo assim, é preciso ter contato com um recenseador, porque é esse profissional que gera um ticket digital.
Para sair da lista prévia, uma mesma residência precisa ser visitada quatro vezes, no mínimo, sendo uma em turno alternativo.
Identificando o recenseador
Segundo o IBGE, os recenseadores estarão sempre uniformizados, com o colete de identificação, boné do Censo, crachá e o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC).
É possível confirmar a identidade do agente do IBGE no site Respondendo ao IBGE (respondendo.ibge.gov.br) ou pelo telefone 0800 721 8181.
"O recenseador sempre estará identificado com boné, colete, crachá e o dispositivo de coleta, o DMC", afirma Samuel Marques, coordenador de treinamento do Censo no RN.
Fonte: g1
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