As famílias de dois pacientes que morreram nesta quinta-feira (28) no Hospital Municipal Aluízio Bezerra (HMAB), em Santa Cruz, no Agreste potiguar, denunciaram supostos erros médicos que teriam provocado os óbitos.
Uma das famílias disse que a paciente Hanna Letícia da Silva Venâncio, de 27 anos, morreu após ter recebido a medicação dipirona, mesmo tendo avisado à equipe médica que era alérgica à substância.
No socorro à jovem, outro erro teria ocorrido. Segundo a família de Manoel Ferreira da Silva, de 86 anos, que estava internado no local, a equipe médica teria tirado o ventilador mecânico de oxigênio que estava com o idoso para usar na jovem. Ele também morreu.
Após a repercussão das denúncias, a Secretaria de Saúde do município informou nesta sexta-feira (29) que abriu um inquérito administrativo para apurar os fatos.
Segundo a direção do hospital, o homem morreu às 14h39. Já a mulher deu entrada na unidade às 13:26h e foi dada como morta às 15:26h, após ter mal súbito e passar por 40 minutos de tentativas de ressuscitação.
Pacientes
Hanna Letícia da Silva Venâncio, 27 anos, era casada, mãe de dois filhos - um menino de 7 anos e uma de menina de 1 ano e sete meses. Trabalhava em uma empresa de costura.
Manoel Ferreira da Silva, 86 anos, aposentado, casado há 50 anos com a mesma mulher e pai de oito filhos, dois já falecidos.
Medicação para paciente alérgica
A agricultora Simone Silva é tia de Hanna Letícia e contou que a jovem ligou para a mãe no início da tarde informando que iria ao hospital porque estava com uma dor no abdômen. No local, ela teria preenchido uma ficha informando que era alérgica ao remédio dipirona. Ainda assim, segundo a tia, a equipe teria aplicado a medicação nela. Hanna passou mal, foi socorrida, mas não resistiu.
"A médica receitou uma injeção que contém a Dipirona, mistura de Dipirona com Buscopan. Ai na hora que aplicaram nela, já caiu, fez xixi na roupa e faleceu naquele momento ali. Quando a mãe dela chegou lá, minha irmã, ela já estava sem vida, no chão. E eles tentando reanimar ela", afirmou. "Ela falou que já tiraram o aparelho de outra pessoa para ela, mas não conseguiram reanimar", revelou.
Ainda de acordo com Simone, a família está em posse de duas fichas no nome da paciente. Uma delas, que teria sido a primeira, informa que a mulher era alérgica à medicação. A outra não tem a informação. Os familiares dizem que a segunda ficha já foi preenchida após o falecimento de Hanna.
"Você já viu morto falar? Já? A médica quis fazer uma nova documentação como se uma morta tivesse falado. Como é que uma morta vai falar? Não tem como falar. Ela fez, mas contrariou a si mesma. Ela mesma se culpou", diz a tia.
Idoso sem oxigênio
Outra família enlutada é a do aposentado Manoel Ferreira da Silva, de 86 anos, que estava internado na unidade desde o dia 26 de julho, com pneumonia. Segundo os familiares, ao tentar socorrer Hanna Letícia, a equipe médica teria tirado a ventilação mecânica de oxigênio que o homem estaria usando.
"Ele estava com o pulmão bem comprometido, mas da forma que retiraram o aparelho, para socorrer a moça, isso me deixou muito indignada, porque era uma vida que estava ali. Minha irmã viu ele sem ar, faltando fôlego, morrendo sem o aparelho", relatou a assistente de serviços gerais Ana Elizabete Silva, filha de Manoel.
"Nesse momento, eu acho que foi uma negligência. Se ele não podia ficar sem o ar, sem o oxigênio, por que tinha que tirar dele? Se tinha outros (equipamentos), como dizem que tem, por que não trouxeram? Por que não socorreram com os outros que tinham? Isso é muito revoltante", declarou.
Secretaria abre investigação
Em entrevista à Inter TV Cabugi, a secretária de Saúde do município, Cássia Penha, afirmou abriu um inquérito administrativo para investigar os fatos denunciados pelas famílias.
"Está sendo aberto um inquérito administrativo, que é uma ferramenta legal que vai apurar todos os fatos que ocorreram. A partir do resultado desse inquérito, nós repassaremos todas as informações. De antemão, não podemos estar emitindo mais informações de ordem clínica, técnicas, que ocorreram dentro do ambiente, das quais não temos propriedade", afirmou.
Questionada se houve aplicação errada de medicação e retirada de oxigênio de um dos pacientes, a secretária disse que ainda não poderia responder. "São informações que serão apuradas mediante o inquérito", disse.
A secretária não deu prazo para que a apuração seja concluída e negou que haja desabastecimento de oxigênio na unidade de saúde.
"Não está faltando oxigênio na unidade. Temos usina de produção de oxigênio e temos cilindro para retaguarda. São quatro leitos de estabilização, com oxigênio", disse.
Fonte: g1
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