O roteiro parece ter sido plagiado. O presidente Jair Bolsonaro cria a mesma narrativa fictícia de uma eleição roubada antes de sua realização, tramada em 2020 por Donald Trump. Com a campanha sistemática de mentiras para desacreditar o pleito, o ex-presidente americano plantou as sementes para o ataque fatídico do dia 6 de janeiro de 2021 na sede do Congresso.
As audiências da Câmara dos Representantes que investigam a invasão do Capitólio revivem o espetáculo criado em vários atos por Trump para impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden. Durante meses que antecederam as eleições ele preparou as bases para a sua estratégia de fazer seus seguidores acreditarem que os democratas montavam uma grande fraude eleitoral a partir da votação por correio.
O jornal “Washington Post” contabilizou de abril e novembro de 2020 mais de 150 alegações infundadas sobre cédulas fraudulentas na conta do então presidente no Twitter. A essa altura, ele já previa que não conseguiria a reeleição. Contados os votos, alimentou a fúria dos partidários para contestar a eleição.
Enquanto Bolsonaro se aferra nos ataques às urnas eletrônicas, Trump se concentrou em minar a confiança no voto pelo correio, que em 2020 ganhou força e tornou-se popular pelas circunstâncias causadas pela pandemia de Covid-19. Na altura da eleição, 220 mil americanos haviam morrido após contrair o vírus.
Em entrevistas na Casa Branca e post no Twitter, o então presidente deixava claro que os republicanos perderiam terreno para os democratas no voto por correspondência e passou a deslegitimá-lo como corrupto e perigoso.
“As cédulas por correio trapaceiam. As pessoas trapaceiam”, declarou em junho, diante da possibilidade de os estados ampliarem o mecanismo por correio.
As teorias da conspiração disseminadas pelo presidente não tinham fundamento. Segundo um estudo de 2017 realizado pelo Brennan Center for Justice, a taxa de fraude eleitoral nos EUA situou-se entre 0,00004% e 0,0009% do total de votos.
Seus partidários, contudo, encamparam a tese da eleição roubada como uma espécie de lavagem cerebral, e a crença ainda persiste: uma pesquisa de opinião Axios-Momentive, divulgada no início deste ano, revelou que cerca de 40% dos americanos acreditavam que a votação foi comprometida.
As cédulas enviadas pelo sistema postal são assinadas pelo eleitor e comparadas com a do arquivo de seu cadastro, além de outros mecanismos de verificação. Em eleições anteriores, o próprio Trump recorreu a esse método, enviando sua cédula pelo correio. Só passou a desacreditá-lo quando se viu perdedor e se deu conta de que entraria para a História como um presidente de um só mandato.
Fonte: g1
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