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quarta-feira, maio 18, 2022

'Vai piorar muito para Rússia', disse ex-coronel, furando censura de TV estatal russa

Um analista militar deu uma mensagem altamente franca para os telespectadores da televisão estatal russa: A guerra na Ucrânia vai piorar muito para a Rússia, que enfrenta uma mobilização em massa apoiada pelos Estados Unidos, enquanto a Rússia está quase totalmente isolada.


Mikhail Khodaryonok, ex-coronel e conhecido analista militar na Rússia, durante entrevista ao canal estatal Rússia-1 — Foto: Reprodução/Rússia-1


Desde que o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, a mídia estatal russa - e especialmente a televisão estatal - apoiaram a posição do Kremlin. Poucas vozes dissidentes receberam tempo no ar.


O presidente da Rússia, Vladimir Putin, oferece flores em cerimônia na Túmulo do Soldado Desconhecido nas comemorações do Dia da Vitória — Foto: Sputnik/Divulgação via Reuters


Isso parece ter mudado na noite de segunda-feira (16), quando Mikhail Khodaryonok, um ex-coronel e conhecido analista militar no país, fez uma avaliação contundente ao principal canal de televisão estatal da Rússia sobre o que Putin diz ser uma "operação militar especial".


"Você não deve engolir informações tranquilizantes", disse Khodaryonok no programa de entrevistas "60 Minutes" no canal estatal Russia-1, apresentado por Olga Skabeyeva, uma das jornalistas mais pró-Kremlin na televisão.


Membros das tropas pró-Rússia disparam granada anti-tanque em Mariupol, na Ucrânia — Foto: REUTERS/Alexander Ermochenko


"A situação, francamente falando, vai piorar para nós", disse Khodaryonok, um convidado regular na TV estatal que faz avaliações muitas vezes francas sobre a situação.


Ele disse que a Ucrânia poderia mobilizar um milhão de homens armados.


Khodaryonok, que também é colunista militar do jornal “gazeta.ru”, é graduado em uma das academias militares de elite da Rússia. Ele advertiu, antes da invasão, que tal ação não seria dos interesses nacionais da Rússia.


Um homem olha para veículos militares russos destruído em uma estrada na cidade de Bucha, perto da capital Kiev, Ucrânia, — Foto: Serhii Nuzhnenko/AP Photo


A invasão russa à Ucrânia matou milhares de pessoas, deslocou milhões de refugiados e levantou temores do confronto mais sério entre a Rússia e os Estados Unidos desde a Crise dos Mísseis Cubanos de 1962.


Khodaryonok e Skabeyeva não puderam ser contatados para comentar a entrevista.


Senso de realismo

A guerra também mostrou os limites pós-soviéticos do poder militar, de inteligência e econômico da Rússia: apesar das tentativas de Putin de reforçar suas forças armadas, os militares russos se saíram mal em muitas batalhas na Ucrânia.



Um cerco de Kiev foi abandonado e a Rússia voltou seu foco para tentar estabelecer o controle sobre a região oriental de Donbass, na Ucrânia. O Ocidente forneceu bilhões de dólares de armas às forças ucranianas.


Projéteis russos não detonados perto de Kiev — Foto: Getty Images via BBC


As perdas não são relatadas publicamente, mas a Ucrânia diz que as perdas russas são piores do que as 15.000 mortes soviéticas nos 10 anos da Guerra do Afeganistão (1979-1989)


"O desejo de defender a pátria realmente existe na Ucrânia e eles pretendem lutar até o fim", disse Khodaryonok antes de ser interrompido por Skabeyeva.

As maiores consequências estratégicas da invasão da Rússia até agora foram a unidade incomum dos aliados europeus dos Estados Unidos e as propostas da Suécia e da Finlândia para se juntar à aliança militar liderada pelos EUA na OTAN.



Khodaryonok disse que a Rússia precisava ver a realidade.


"O principal em nosso negócio é ter um senso de realismo político-militar: se você for além disso, então a realidade da história vai bater tão forte que você não vai saber o que te atingiu", disse ele.


"Não acene foguetes na direção da Finlândia, pelo amor de Deus - parece que é piada", disse ele.

A Rússia, disse ele, estava isolada.


"A principal deficiência de nossa posição político-militar é que estamos em plena solidão geopolítica e - no entanto, não queremos admitir isso - praticamente o mundo inteiro está contra nós - e precisamos sair dessa situação."


Fonte: Reuters

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