Um analista militar deu uma mensagem altamente franca para os telespectadores da televisão estatal russa: A guerra na Ucrânia vai piorar muito para a Rússia, que enfrenta uma mobilização em massa apoiada pelos Estados Unidos, enquanto a Rússia está quase totalmente isolada.
Desde que o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, a mídia estatal russa - e especialmente a televisão estatal - apoiaram a posição do Kremlin. Poucas vozes dissidentes receberam tempo no ar.
Isso parece ter mudado na noite de segunda-feira (16), quando Mikhail Khodaryonok, um ex-coronel e conhecido analista militar no país, fez uma avaliação contundente ao principal canal de televisão estatal da Rússia sobre o que Putin diz ser uma "operação militar especial".
"Você não deve engolir informações tranquilizantes", disse Khodaryonok no programa de entrevistas "60 Minutes" no canal estatal Russia-1, apresentado por Olga Skabeyeva, uma das jornalistas mais pró-Kremlin na televisão.
"A situação, francamente falando, vai piorar para nós", disse Khodaryonok, um convidado regular na TV estatal que faz avaliações muitas vezes francas sobre a situação.
Ele disse que a Ucrânia poderia mobilizar um milhão de homens armados.
Khodaryonok, que também é colunista militar do jornal “gazeta.ru”, é graduado em uma das academias militares de elite da Rússia. Ele advertiu, antes da invasão, que tal ação não seria dos interesses nacionais da Rússia.
A invasão russa à Ucrânia matou milhares de pessoas, deslocou milhões de refugiados e levantou temores do confronto mais sério entre a Rússia e os Estados Unidos desde a Crise dos Mísseis Cubanos de 1962.
Khodaryonok e Skabeyeva não puderam ser contatados para comentar a entrevista.
Senso de realismo
A guerra também mostrou os limites pós-soviéticos do poder militar, de inteligência e econômico da Rússia: apesar das tentativas de Putin de reforçar suas forças armadas, os militares russos se saíram mal em muitas batalhas na Ucrânia.
Um cerco de Kiev foi abandonado e a Rússia voltou seu foco para tentar estabelecer o controle sobre a região oriental de Donbass, na Ucrânia. O Ocidente forneceu bilhões de dólares de armas às forças ucranianas.
As perdas não são relatadas publicamente, mas a Ucrânia diz que as perdas russas são piores do que as 15.000 mortes soviéticas nos 10 anos da Guerra do Afeganistão (1979-1989)
"O desejo de defender a pátria realmente existe na Ucrânia e eles pretendem lutar até o fim", disse Khodaryonok antes de ser interrompido por Skabeyeva.
As maiores consequências estratégicas da invasão da Rússia até agora foram a unidade incomum dos aliados europeus dos Estados Unidos e as propostas da Suécia e da Finlândia para se juntar à aliança militar liderada pelos EUA na OTAN.
Khodaryonok disse que a Rússia precisava ver a realidade.
"O principal em nosso negócio é ter um senso de realismo político-militar: se você for além disso, então a realidade da história vai bater tão forte que você não vai saber o que te atingiu", disse ele.
"Não acene foguetes na direção da Finlândia, pelo amor de Deus - parece que é piada", disse ele.
A Rússia, disse ele, estava isolada.
"A principal deficiência de nossa posição político-militar é que estamos em plena solidão geopolítica e - no entanto, não queremos admitir isso - praticamente o mundo inteiro está contra nós - e precisamos sair dessa situação."
Fonte: Reuters
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