Apresentadoras de emissoras de TV locais no Afeganistão expressaram sua frustração no domingo (22) com uma nova decisão do Talibã de que devem cobrir o rosto quando estiverem no ar.
"Uma apresentadora deve se sentir totalmente calma para transmitir a verdade às pessoas, hoje pela primeira vez vivenciei um momento em que tive que apresentar meu programa usando uma máscara e não estava me sentindo bem", disse a apresentadora da TOLOnews, Sonia Niazi.
A nova regra foi anunciada na quinta-feira (19) e ocorre dias depois que as autoridades ordenaram que as mulheres cobrissem seus rostos em público, um retorno a uma de suas normas anteriores e uma escalada de restrições que provocam temores locais e na comunidade internacional.
Embora o porta-voz do Ministério do Vício e da Virtude do Talibã, Akif Muajer, tenha classificado a medida como "conselho", ele disse à agência Reuters que a última data para apresentarem sem o rosto descoberto seria o sábado, 21 de maio.
No sábado (21) as apresentadoras das principais redes de televisão afegãs foram ao ar sem cobrir seus rostos, desafiando a ordem dos talibãs e se negando a se submeterem à interpretação do grupo sobre o Islã.
Desde que voltou ao poder no ano passado, os talibãs impuseram uma série de restrições à sociedade civil. Muitas delas visam a limitar os direitos das mulheres.
No início deste mês, o chefe supremo dos talibãs emitiu uma ordem, segundo a qual as mulheres devem se cobrir completamente em público, incluindo o rosto e, de preferência, com a burca tradicional. Antes, bastava um lenço, cobrindo o cabelo.
O temido Ministério afegão para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício ordenou às apresentadores de televisão que fizessem isso até sábado. Mas as jornalistas dos canais TOLOnews, Shamshad TV e 1TV foram ao ar, ao vivo, sem esconder o rosto.
"Nossas irmãs temem que, se cobrirem o rosto, a próxima coisa que vão dizer a elas é que parem de trabalhar", explicou o chefe de notícias da Shamshad TV, Abid Ehsas. "Esta é a razão, pela qual eles não respeitaram a ordem até agora."
O porta-voz do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, Mohamad Sadeq Akif Mohajir, alertou que essas mulheres estavam violando a determinação dos talibãs.
"Se não acatarem, falaremos com os responsáveis", disse Mohamad. "Todo mundo que vive sob um sistema - e um governo, em particular - deve obedecer às leis e ordens desse sistema, então eles devem aplicar a ordem."
Os talibãs ordenaram que as mulheres que trabalham no governo sejam demitidas, se não cumprirem o novo código de vestimenta. Os funcionários também correm o risco de serem suspensos se suas esposas, ou filhas, não acatarem a ordem.
Fonte: g1
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