A baixa adesão dos pais em vacinarem seus filhos contra a Covid-19 tem retardado o avanço dos percentuais de vacinação no Rio Grande do Norte. Passados quase três meses do início da vacinação pediátrica, segundo dados do RN + Vacina, 58% do público-alvo foi vacinado com uma dose, o equivalente a 196.050 crianças. Nas projeções da Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN (Sesap), os índices deveriam estar em pelo menos 80%. Nas taxas gerais, levando-se em consideração os adultos e adolescentes, o percentual vacinal do Estado está em 92%.
“Está bem abaixo das expectativas. Esperávamos acabar março com 80% e não conseguimos, mas observamos esse patamar de 50% nos outros imunizantes do calendário vacinal infantil”, avalia Kelly Lima, subcoordenadora de Vigilância em Saúde da Sesap. Com relação aos adolescentes, os patamares são melhores: 87% com ao menos uma dose e 70% com duas doses.
Atualmente, crianças com duas doses são 75.713 no Rio Grande do Norte. Para aumentar este patamar, a Sesap está em vias de conclusão para lançar, nas próximas semanas, um programa de vacinação para as crianças nas escolas no Estado.
“Estaremos lançando, nos próximos dias, uma grande campanha de retomada da vacinação nas escolas. A ideia é que possamos ter uma adesão em todos os municípios do projeto Escola Nota 10 para que essas escolas possam vacinar as crianças”, acrescenta Kelly Lima.
A vacinação infantil no Estado contra o coronavírus começou no dia 16 de janeiro, numa cerimônia simbólica na cidade de São Gonçalo do Amarante. Inicialmente, a ideia da Sesap era começar por crianças com comorbidades, porém, após análises técnicas, foi liberada a demanda espontânea nos municípios.
Segundo Kelly Maia, ainda há certa resistência por parte dos pais na vacinação dos filhos. “Os pais reclamam da dificuldade de acesso e há o movimento de negação à vacina na primeira infância, que acaba tendo impacto em todas as coberturas vacinais, não só na covid”, finaliza.
Passados dois anos do decreto de pandemia de Covid-19 por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS), autoridades sanitárias começam a discutir a mudança de classificação do momento pandêmico. No Rio Grande do Norte, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) avalia que a classificação do momento epidemiológico poderá ser tratada como “endemia” em junho, caso se mantenham os atuais índices assistenciais, registros de casos diários e óbitos por covid. O atual cenário, inclusive, embasou a decisão da governadora Fátima Bezerra (PT) para desobrigar o uso da máscara em ambientes fechados nesta quarta-feira (06).
“A mudança de classificação da doença de epidêmica para endêmica depende da análise da curva de distribuição de casos ao longo do tempo. Geralmente se trabalha com períodos anuais. Quando essa curva fica muito abaixo da média dos períodos de calendários dos anos anteriores, é o que caracteriza endemia. Não é questão de decretar, é analisar os dados. Mantendo-se o número de casos que estamos vivenciando hoje, por dois ou três meses, se configurará, do ponto de vista da análise da evolução dos casos, uma situação endêmica”, aponta o secretário de Saúde do RN, Cipriano Maia.
O titular da Sesap acrescenta ainda que a mudança de classificação para endemia não seria baseada num “decreto”, sendo uma questão de análise de dados. O fim da pandemia, no entanto, só pode ser declarado pela OMS.
Recentemente, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga chegou a dizer que a medida já está em estudo por parte do Ministério. “Nós rumamos para pôr fim a essa emergência sanitária. É uma prerrogativa do ministro [da Saúde], por meio de um ato, porque assim a lei determina. Mas o ministro não vai tomar essa decisão sozinho, vai tomar essa decisão ouvindo as Secretarias Estaduais de Saúde, outros ministérios, outros Poderes, para que transmitamos segurança a nossa população”, disse Queiroga.
O conceito de endemia considera a presença de uma doença de forma recorrente em uma região, mas sem aumentos significativos no número de casos. Uma doença se torna pandemia quando atinge níveis mundiais.
A infectologista Monica Bay, professora da UFRN, prega cautela na mudança de classificação. “Ainda estamos vivendo a pandemia, muito provavelmente o Sars-Cov-2 se tornará endêmico, mas ainda não temos essa mudança de classificação. Precisamos observar a evolução dos casos ainda esse ano e no próximo”, disse.
O Governo do Estado publicou, nesta quarta-feira (06), o decreto com novas diretrizes para o cenário da pandemia de Covid-19 no Estado. O texto, publicado no Diário Oficial do Estado, desobrigou o uso de máscaras em locais fechados.
De acordo com o secretário de Saúde do RN, Cipriano Maia, a medida foi tomada com base nos atuais índices epidemiológicos e assistenciais do Estado, atrelado ao fato de que a vacinação no RN já atinge números consideráveis.
“A decisão foi tomada com base na recomendação do Comitê que analisou cenário epidemiológico das últimas semanas, que mantém patamar de casos abaixo de parâmetros e que consideramos a pandemia sob controle. A média de casos está em 50 por dia e o indicador composto mostra o Estado em todo verde claro ou verde escuro, nenhum município em amarelo. A demanda por leitos está num patamar abaixo da média, assim como a taxa de ocupação. Temos também taxa de vacinação satisfatória, apesar de trabalharmos para melhorá-la”, diz.
bate papo
Leonardo Lima
imunologista do LAIS/UFRN
O cenário de melhora da pandemia já nos permite falar em mudança de classificação para "endemia"?
A mudança de epidemia pra endemia não vai ser realizada a partir de um decreto, de uma nova portaria, de uma nova norma que vai afetar esse cenário, que vai ter o poder de afetar o dado da realidade. O que a gente tem observado agora é que com a redução acentuada do número de casos, e com a vacinação massiva da população, o que a gente espera é que nos próximos meses, nos próximos anos, o coronavírus se torne um um micro-organismo endêmico na nossa sociedade. Isso significa o que na prática? Como acontece com dengue, com outros vírus respiratórios como influenza, rinovírus, a gente não tem a pretensão de erradicar completamente com vacinação, especialmente um vírus tão recente quanto o SARS-COV-2. Então é bastante provável que a gente passe conviver com esse vírus ao longo dos próximos anos. É difícil precisar quando isso vai acontecer num dia específico.
O momento da pandemia já permite ficar sem máscara?
Em relação ao impacto na saúde pública, a gente está monitorando o que está acontecendo em outros países, outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, que já tinham desobrigado o uso de máscaras há mais tempo e não houve um aumento do número de casos ao longo desse período. Na prática, boa parte da população já não estava mais aderente, já não estava mais usando as máscaras com a mesma frequência de anteriormente. Então, na verdade, em muitos aspectos, isso passa a ser uma adequação do decreto à prática da sociedade, inclusive como acontece, por exemplo, nos eventos que foram liberados anteriormente onde as pessoas não não estavam usando máscara. O que reforça mais uma vez que, se não houve um aumento do número de casos após esses grandes eventos, especialmente depois do do mês de fevereiro e passando pelo Carnaval, significa dizer que as vacinas de fato tiveram um papel protetor importante na prevenção.
Fonte: Tribuna do Norte
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