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domingo, abril 10, 2022

Prefeitura estuda fazer o carnaval de rua de SP no mês de junho, durante o feriado de Corpus Christi

Com o arrefecimento dos números da Covid-19 e a cobrança dos blocos de Carnaval pela volta da festa ainda este ano, a Prefeitura de São Paulo quer organizar a folia nas ruas da capital em junho, segundo a secretária municipal da Cultura, Aline Torres. A nova data que deve ser discutida é a do feriado de Corpus Christi.


Cortejo do Bloco Sargento Pimenta, que embala os foliões com músicas dos Beatles em ritmos brasileiros em 2020. — Foto: Divulgação/Soul em Cena


Uma nova reunião, porém, ainda não foi marcara para discutir a proposta com os blocos.


Perguntado sobre a possibilidade de um carnaval em junho, Zé Cury, presidente do Fórum de Blocos de Rua, afirmou que considera a data ruim porque seria no mesmo período da festa junina, em que vários blocos da cidade já participam de eventos.



“Todo mundo hoje que faz cultura, em junho faz festa junina. Inclusive os blocos, seja em festas fechadas ou na rua mesmo, com barraquinhas, girando a economia local. Não acredito que seja uma data que os blocos vão aderir”, afirmou à GloboNews. Segundo ele, o ideal seria fazer o carnaval fora de época no segundo semestre.


Pedro Anacleto, do coletivo Ocupa, concorda com o argumento. “A gente acha que junho está muito próximo para todos os blocos se organizarem. A data que estamos sugerindo é mais para o fim do ano, agosto, setembro ou outubro, mesmo que seja próximo da eleição”, disse.


Feriado Tiradentes

Na semana passada, seis entidades que representam a maioria dos blocos paulistanos divulgaram uma carta pública demonstrando o interesse de sair às ruas. Partes dos blocos quer desfilar no feriado de Tiradentes, entre os dias 21 e 24 de abril, quando ocorrem os desfiles das escolas de samba no Anhembi.


Na carta, o grupo afirma que “não há motivos” para que a gestão municipal proíba os cortejos, já que os eventos esportivos, os festivais de música e o Carnaval de Sambódromo foram liberados com a queda nas mortes e internações por Covid-19. O último boletim da Friocruz mostra que os casos de Covid chegaram ao menor valor percentual da pandemia no país.



O prefeito Ricardo Nunes (MDB) chegou a dizer que o Carnaval de rua poderia ocorrer durante o feriado de Tiradentes, desde que os blocos tivessem condições de bancar a infraestrutura e segurança do evento.


A ideia que foi rebatida por uma das representantes do coletivo ‘Arrastão dos Blocos’, Lira Alli, entidade signatária do manifesto. Para ela, os blocos não devem e nem têm condições de assumir o papel do Poder Público na organização do evento.


Por isso, a prefeitura marcou uma reunião na última sexta-feira (8) com os organizadores de blocos. Mas o encontro terminou com protestos contra a gestão de Nunes, insultos à secretária e a gestão municipal mantendo o argumento de que não tem tempo hábil para organizar a festa.



“Antes da prefeitura decidir cancelar o Carnaval de rua, os próprios blocos anunciaram que não iriam desfilar. Em pouco mais de dez dias, não conseguimos organizar um carnaval. Mas vamos sentar com os organizadores e definir uma nova data, um feriado de junho, e ver quem quer desfilar e quais as condições”, afirmou Aline Torres à GloboNews neste sábado (9).

No caso, o único feriado em junho é o de Corpus Christi.


Em janeiro, quando houve o cancelamento, o país enfrentava um pico de casos de Covid por causa da variante ômicron e cerca de 250 blocos divulgaram um manifesto dizendo que não sairiam no Carnaval, independente do que a prefeitura decidisse. Já outras entidades defendiam um adiamento, com uma nova data estabelecida para a folia ainda este ano, o que não aconteceu. A cidade de São Paulo tem cerca de 800 blocos.


Agora, cerca de 60 blocos afirmam que pretendem desfilar com ou sem apoio da prefeitura no feriado de Tiradentes, decisão que preocupa a gestão municipal.


“Mesmo um bloco pequeno pode causar um impacto grande para a cidade e colocar as pessoas em risco. Imagina um carro atropelar alguém porque a via não foi bloqueada ou aquela rua ser o caminho de uma ambulância?”, afirma a secretária.


A secretária municipal de Cultura de São Paulo, Aline Torres (MDB). — Foto: Secom/PMSP


Já os integrantes dos coletivos reclamam da falta de diálogo com a prefeitura e de não ter havido antes uma proposta para um Carnaval atípico, menor.


“Acho que a gente tem que tomar cuidado pra não inverter o que é papel da sociedade e qual o papel do estado. A gente, como bloco de carnaval, pode garantir a produção da cultura popular. O que é papel do estado é garantir a estrutura. A gente não tá sendo irresponsável de dizer que vamos colocar blocos de centenas de milhares de pessoas nas ruas. Não é isso. A gente tá falando do nosso direito cultural”, afirmou Lira Alli.



Durante a semana, em nota, a Prefeitura de São Paulo havia informado que apresentaria às entidades carnavalescas de blocos de rua “as exigências e regras da legislação municipal que normatiza a realização do carnaval de rua, como a necessidades de apoio das forças policiais, estrutura de atendimento de saúde com diferentes níveis de complexidade (chegando até à viabilização de pequenas cirurgias nos próprios locais dos desfiles); plano de adequação de trânsito e linhas de ônibus, entre outros, e o prazo necessário para o atendimento de todas as providências necessárias.


“Em todos os desfiles, é proibida a utilização de cordas, correntes, grades e outros meios de segregação do público ou que constituam áreas privadas, tais como camarotes. Não são autorizadas em logradouros públicos manifestações carnavalescas com cobrança de ingresso”, disse a nota da gestão municipal, que ainda não publicou as tais regras.


Fomento

Em janeiro, quando o Carnaval de rua foi cancelado, a secretária da Cultura, Aline Torres, prometeu criar um programa de fomento aos blocos de rua.


A ideia do programa é ajudar blocos de rua que precisam de recursos para se manter, após quase dois anos sem as verbas, que eram arrecadadas com apresentações no Carnaval e patrocínios e foram cortados ao longo da pandemia.


O programa só saiu do papel neste início de abril. Segundo a secretária, porque os blocos precisaram se adequar à burocracia municipal.


A pasta vai contratar ao menos 300 pequenos cortejos de rua para fazer apresentações artísticas na programação dos equipamentos municipais, como centros e casas de cultura e bibliotecas, por exemplo. Eles receberão até R$ 5.700.


“Vamos contratar blocos periféricos, que sem esse fomento, não conseguiriam desfilar. Depois, nossa ideia é aumentar esse número”, explicou Torres.


Protestos na reunião

A reunião entre a Prefeitura de São Paulo e os organizadores de blocos de rua da cidade terminou sem acordo na noite desta sexta-feira (8), e com protestos contra a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Os organizadores sustentam que vão desfilar com o sem apoio.


A gestão municipal manteve o argumento de que não tem tempo hábil para organizar a festa e estabeleceu uma série de exigências de segurança para que os desfiles de rua sejam autorizados durante o feriado de Tiradentes, entre 21 e 24 de abril, na capital paulista.



Os organizadores levaram cartazes cobrando o direito à festa e pedindo garantias de que a polícia não será acionada. "Sem violência", pediam.


Reunião de blocos com a Prefeitura de SP — Foto: Reprodução/TV Globo


Participaram da reunião pelo menos quatro secretários municipais: Aline Torres (Cultura), Elza Paulino de Souza (Segurança Urbana), Alexandre Modonezi (Subprefeituras) e Marcos Duque Gadelho (Urbanismo e Licenciamento).


No encontro, os secretários ouviram a reivindicação das seis entidades que assinaram na segunda (4) uma carta pública demonstrando o interesse de realizar desfiles do carnaval de rua durante o feriado prolongado de Tiradentes, em 21 de abril, a exemplo das escolas de samba.


Porém, os secretários apresentaram as razões da Prefeitura de não poder organizar o carnaval dos blocos, dizendo que não há tempo hábil para realizar as devidas licitações para o evento, além da falta de um plano de segurança em relação aos foliões que participarão da festa.



"Agora, em 10 dias pra vários blocos saírem ao mesmo tempo, é uma operação que a gente não consegue organizar. E a ideia aqui é pensar como a gente faz isso ainda esse ano mas mais pra frente, com mais planejamento, mas construindo [uma data] com os blocos. Além disso, além de saírem soltos, como não temos patrocínio, a gente quer fazer esse fomento para que os blocos consigam sair", disse na reunião a secretária Aline Torres.


As secretárias municipais de Cultura, Aline Torres, e Segurança, Elza Paulino, durante protesto de organizadores de bloco de rua nesta sexta (8). — Foto: Acervo pessoal


A falta de segurança para os foliões era uma preocupação que o próprio prefeito já havia demonstrado durante a semana, antes da realização da reunião no Centro Cultural São Paulo.



“Nós iremos apresentar a eles todos os planos que existem de segurança e se eles tiverem condições de seguirem, porque a Prefeitura não tem mais tempo de fazer. Lembrando que a questão pública eu preciso publicar edital, tem prazo pra concorrência, existe toda uma estruturação”, disse Nunes na quarta (6).


Falta de diálogo

Os organizadores de bloco reclamaram da falta de diálogo da Secretaria de Cultura e da gestão Ricardo Nunes com os blocos após o cancelamento do carnaval de rua de 2022, anunciado em janeiro pela prefeitura.


Para os organizadores, a secretaria de Cultura deveria ter procurado os blocos antes da decisão para realizar um adiamento, não um cancelamento definitivo da festa, a exemplo do que aconteceu com a Liga das Escolas de Samba de São Paulo.


“A Prefeitura disse o tempo todo durante a reunião que queria dialogar, mas a postura foi sempre de intransigência, sem dar direito à réplica das entidades de blocos de rua que estavam na reunião. Eles simplesmente disseram que não há tempo hábil para organizar o carnaval e querem que a gente assuma toda a responsabilidade pela segurança dos foliões, sem nem mesmo apresentar uma proposta alternativa”, declarou Thaís Haliski, coordenadora da Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo, que participou da reunião.


“Os blocos de rua nunca foram consultados sobre o cancelamento total do carnaval. A secretária de Cultura nunca nos recebeu para tratar de um eventual adiamento dos desfiles de rua, como aconteceu com as escolas de samba. Eles simplesmente cancelaram o evento e acabou. O diálogo da gestão Nunes simplesmente não existe com os blocos”, completou Haliski.

Os coordenadores dos blocos dizem que os desfiles estão mantidos, mas a prefeitura ainda não se manifestou oficialmente.


Blocos não têm condições de organizar desfiles

Conforme o g1 adiantou na última segunda (4), seis entidades que representam cerca de 85% dos blocos de rua do carnaval paulistano emitiram uma carta pública, endereçada à sociedade, falando da intenção deles de desfilarem nas ruas de São Paulo no feriado de Tiradentes.


Na carta, o grupo afirma que “não há motivos” para que a gestão municipal proíba os desfiles, já que os eventos esportivos, os festivais de música e o carnaval de sambódromo na cidade estão liberados.


Uma das representantes do coletivo ‘Arrastão dos Blocos’, Lira Alli, entidade signatária do manifesto, disse nesta quarta (6) que os blocos de rua da capital paulista não têm condições de assumir o papel do Poder Público na organização do evento.


“Acho que a gente tem que tomar cuidado pra não inverter o que é papel da sociedade e qual o papel do estado. A gente, como bloco de carnaval, pode garantir a produção da cultura popular. O que é papel do estado é garantir a estrutura. A gente não tá sendo irresponsável de dizer que vamos colocar blocos de centenas de milhares de pessoas nas ruas. Não é isso. A gente tá falando do nosso direito cultural. Os blocos têm direito à cultura, liberdade artística, de expressão, e também à manifestação pública”, afirmou.


“A gente acha que o diálogo é muito importante, mas o diálogo em que o Poder Público faça o papel do Poder Público. Nós não somos empresários do carnaval, somos defensores do nosso direito à Cultura. Os blocos não têm condições de garantir nada mais que a sua manifestação cultural, porque esse é o nosso papel”, declarou Lira Alli.

Durante a semana, em nota, a Prefeitura de São Paulo havia informado que apresentaria às entidades carnavalescas de blocos de rua “as exigências e regras da legislação municipal que normatiza a realização do carnaval de rua, como a necessidades de apoio das forças policiais, estrutura de atendimento de saúde com diferentes níveis de complexidade (chegando até à viabilização de pequenas cirurgias nos próprios locais dos desfiles); plano de adequação de trânsito e linhas de ônibus, entre outros, e o prazo necessário para o atendimento de todas as providências necessárias.



“Em todos os desfiles, é proibida a utilização de cordas, correntes, grades e outros meios de segregação do público ou que constituam áreas privadas, tais como camarotes. Não são autorizadas em logradouros públicos manifestações carnavalescas com cobrança de ingresso”, disse a nota da gestão municipal.


A Prefeitura de São Paulo também reiterou que parte das entidades que assinaram o novo manifesto para garantir os desfiles no feriado de Tiradentes já tinham deliberado voluntariamente sobre o cancelamento do carnaval de rua da capital paulista neste ano, lá no mês de janeiro. O cancelamento, segundo a gestão Nunes, não foi um adiamento dos desfiles.


“Três coletivos (Fórum de Blocos de Carnaval de Rua de São Paulo, União Blocos Carnaval do Estado de São Paulo e Comissão Feminina de Carnaval de São Paulo), responsáveis por mais de um terço dos blocos inicialmente agendados, anunciaram o cancelamento antes mesmo da Prefeitura, em janeiro, o que mostra que a percepção dessa necessidade era, não só da administração municipal, mas também da sociedade civil, devido à incerteza dos rumos da pandemia à época, com o surgimento da variante ômicron. Desde o início, foi anunciado o cancelamento do carnaval de rua para esse ano e não o adiamento dos desfiles”, declarou a nota da quarta (6).


Fonte: g1

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