A Polícia Civil do Distrito Federal concluiu a investigação sobre o crime contra o jornalista Gabriel Luiz, de 29 anos, da TV Globo Brasília, atingido por 10 facadas na noite de 14 de abril, véspera do feriado de Páscoa, na região do Sudoeste. Segundo o delegado delegado Douglas Fernandes, chefe da 3ª Delegacia de Polícia, do Cruzeiro, o crime "foi um latrocínio tentado".
Gabriel foi esfaqueado por dois homens, perto do prédio onde mora, quando voltava para casa, e atingido no pescoço, no abdômen, no tórax, na perna, no estômago, no pulmão, no pâncreas e no diafragma, além do braço e do pulso . O jornalista foi ouvido, nesta segunda-feira (25), no Hospital Brasília, no Lago Sul, onde permanece internado (veja detalhes mais abaixo).
"Ele recorda que esses dois elementos teriam se aproximado dele e que ambos teriam, antes de qualquer agressão, teriam mencionado 'acabou' ou 'perdeu'. Gabriel não recorda exatamente qual palavra foi e que no momento seguinte, logo depois, começaram as agressões com faca", diz o delegado Ranquetat.
O inquérito já foi encaminhado para a Justiça e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) tem o prazo de até cinco dias para oferecer denúncia. Além de Gabriel, outras 16 pessoas foram ouvidas.
José Felipe Tunholi, de 19 anos, que confessou ter esfaqueado Gabriel Luiz, está preso na Papuda. O adolescente de 17 anos que participou do crime está em uma unidade de internação para menores de idade.
"Não houve nada nos depoimentos que nos levasse a qualquer outra conclusão que não fosse o latrocínio tentado", diz o delegado Douglas Fernandes.
O que Gabriel Luiz contou à polícia
O delegado Petter Ranquetat, da 3ª DP, da região do Cruzeiro ouviu o jornalista Gabriel Luiz nesta tarde. A polícia aguardava a liberação da equipe médica para conversar com Gabriel.
O delegado disse que o depoimento do jornalista durou cerca de uma hora, e que Gabriel deu detalhes sobre a noite do crime. De acordo com o policial, Gabriel também confirmou que um dos jovens o segurou, enquanto o outro o esfaqueou.
Ele disse que pediu aos assaltantes que levassem tudo e que gritou para que parassem. Neste momento, Gabriel contou ter ouvido um vizinho gritar, da janela, "estou filmando", e que, por isso, os agressores correram.
Segundo a Polícia Civil do DF, o depoimento de Gabriel Luiz confirma que houve uma tentativa de latrocínio.
"O Gabriel narrou que, pela quantidade de facadas, eles tinham o intuito de matá-lo. Mas os fatos, a conjugação do com a subtração, é latrocínio tentado", diz o delegado.
Ataque a facadas
O ataque contra Gabriel Luiz ocorreu às 23h15 de quinta-feira (14), quando ele voltava de um bar, na região do Sudoeste, em Brasília. Câmeras de segurança registraram a aproximação dos dois jovens que atacaram o jornalista.
As imagens mostram, primeiro, o repórter passando pelo local. Um suspeito apareceu logo em seguida e outro, atrás.
Um pouco mais adiante, a dupla agrediu Gabriel e, depois, correu. Outras imagens mostram os agressores caminhando em uma rua, perto do local do ataque.
Gabriel passou por diversas cirurgias bem-sucedidas no Hospital de Base do DF e, depois, foi transferido para o Hospital Brasília, no Lago Sul. Na terça-feira (19) ele recebeu alta da UTI e foi para um quarto, mas ainda não há previsão para que ele deixe a unidade de saúde.
Segundo o hospital, o quadro de saúde de Gabriel Luiz "tem evoluído bem, ele já caminha sozinho e passou da dieta líquida para a dieta pastosa"
A investigação
José Felipe Tunholi, de 19 anos, e o adolescente de 17 anos que confessaram ter esfaqueado Gabriel Luiz foram presos entre o fim da tarde e o início da noite de sexta-feira (15). Segundo a polícia, a dupla afirmou que decidiu assaltar Gabriel Luiz porque ele estava caminhando sozinho, e alegou não conhecer o jornalista.
Segundo os delegados Douglas Fernandes e Petter Ranquetat, da 3ª Delegacia de Polícia, no Cruzeiro, os investigadores refizeram o caminho dos suspeitos com a ajuda de câmeras de segurança.
"Com base nessas imagens, conseguimos vincular que esses indivíduos saíram da região da QRSW 3, na região do Sudoeste, e foram em direção ao local onde ocorreram os fatos e, após o crime, retornaram para o mesmo endereço. No local próximo onde o celular da vítima foi localizado, era o endereço onde um dos autores estava passando uns dias, estava ali, na verdade, na casa de um amigo. Ele mora no Cruzeiro", disse Fernandes.
À polícia, os suspeitos disseram que o menor de idade segurou Gabriel Luiz e o imobilizou com um golpe de mata-leão, enquanto o maior desferiu as facadas. Durante a ação, o adolescente acabou sendo ferido na perna.
O adolescente pediu à mãe de um amigo que o levasse a um hospital, alegando ter sido vítima de um assalto. Quando foram registrar o crime na delegacia, ele acabou dando versões contraditórias.
"Ao ser entrevistado, ele começou a apresentar diversas contradições e, por fim, acabou confessando que, na verdade, não tinha sido vítima de roubo e sim havia levado uma facada do próprio comparsa durante a ação criminosa", disse Fernandes.
De acordo com a Polícia Civil, os criminosos dispensaram o celular de Gabriel Luiz pois sabiam que o aparelho poderia ser rastreado. Eles levaram R$ 250 da carteira da vítima, que também foi jogada fora, perto do local do crime.
A Globo divulgou uma nota nota sobre o caso. Veja a íntegra:
"A Globo lamenta profundamente o ocorrido, presta irrestrita solidariedade ao Gabriel Luiz e à sua família, a quem dará toda ajuda necessária para que ele se recupere plenamente. A Globo agradece à polícia pela pronta atuação, que levou à prisão dos dois suspeitos, aos socorristas do SAMU e dos bombeiros, que foram rápidos e eficientes nos primeiros socorros, e ao SUS, em especial à equipe médica do Hospital de Base de Brasília, que foi de extrema perícia nas cirurgias a que Gabriel se submeteu . O jornalismo da Globo continuará acompanhando os desdobramentos do crime na Justiça."
Quem é Gabriel Luiz?
Formado em Jornalismo na Universidade de Brasília (UnB), Gabriel Luiz entrou na Globo como estagiário, em 2014.
Em 2017, foi contratado como repórter do g1 DF, portal no qual ficou por dois anos, até 2019, quando migrou para a equipe do DF1, como editor do jornal local da capital
Conhecido pelo estilo irreverente e bem-humorado, Gabriel produz reportagens investigativas, que apuram irregularidades nos mais variados setores do poder.
Fonte: g1
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