A Meta , controladora do Facebook e do Instagram, derrubou uma rede de perfis falsos que coordenavam a disseminação de desinformação sobre a Amazônia, entre outros temas. O relatório de ameaças publicado pela empresa nesta quinta-feira (7) aponta que a rede tinha ligações com "dois indivíduos ligados ao exército brasileiro".
De acordo com um relatório da agência Graphika, contratada pela Meta para investigar as postagens e perfis, a rede era controlada por dois brasileiros que estavam "servindo ativamente no exército em dezembro de 2021, de acordo com registros do governo brasileiro de pagamentos de funcionários federais". Os nomes não foram divulgados.
O relatório explica que a menção aos indivíduos associados aos militares não quer dizer que o grupo seja controlado ou comandado pelas Forças Armadas.
A assessoria de imprensa do Exército Brasileiro informou ao g1 que está buscando mais informações sobre o assunto.
De acordo com o relatório, os perfis falsos postavam sobre desmatamento, incluindo o argumento de que nem todo desmatamento é ruim e criticando organizações não-governamentais que condenam a prática na Amazônia.
No documento, a Meta afirma que removeu 14 contas e 9 páginas do Facebook, além de 39 contas do Instagram, por violarem sua política contra "comportamento inautêntico coordenado".
A Graphika afirma que a rede era relativamente pequena comparada às que a dona do Facebook já removeu anteriormente por esse motivo. E que as páginas não conseguiram números altos de engajamento e audiência: cerca de 1.200 seguidores em suas páginas no Facebook e mais de 23 mil em seus perfis no Instagram.
Mas a agência afirma que foram encontrados sinais claros de ação coordenada. O documento da Meta aponta: "Encontramos essa rede como resultado de nossa investigação sobre suspeita de comportamento inautêntico coordenado na região. Embora as pessoas por trás dele tenham tentado esconder suas identidades e coordenação, nossa investigação encontrou ligações com indivíduos associados às Forças Armadas brasileiras".
Perfis usavam memes e se passavam por ONGs
Segundo o relatório, a operação começou em 2020, com a publicação de memes sobre questões sociais e políticas, incluindo a reforma agrária e pandemia de Covid-19. Algumas postagens incluíam críticas ao governo Bolsonaro sob perfis como "Resistência Jovem" e "Orgulho Sem Terra", por exemplo.
A Graphika diz que o grupo não teve engajamento e, então, abandonou essa atividade.
Em 2021, os usuários criaram páginas onde se passavam por ONGs e ativistas focados em questões ambientais na região da Amazônia. Entre mensagens que enalteciam a importância de buscar "informações seguras" sobre o tema, eles chegaram a dizer que nem todo desmatamento é prejudicial, segundo o relatório.
Algumas postagens também enalteciam a atuação do governo federal na área de meio ambiente, que tem sido alvo de críticas internacionais.
Um post de agosto de 2021 divulgado no relatório diz que países estrangeiros, "com mentiras repetidamente faladas, querem criar uma verdade em prol de seus interesses".
Na época, a Amazônia sofria queimadas acima da média histórica para o mês, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Hashtags usadas na postagem defendiam atos de 7 de Setembro e o PL490, desengavetado pela base governista na Câmara, que muda a demarcação de terras indígenas.
Outras mensagens questionavam a atuação de ONGs ambientais. Um desses perfis, chamado "O fiscal das ONGs", acusava que organizações internacionais como Greenpeace de "demagogia". E defendia uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) sobre essas entidades.
Outra página excluída se apresentava como se fosse de uma organização ambientalista chamada “NatuAmazon”, que compartilhava principalmente notícias e estatísticas sobre desmatamento que favorecessem a imagem do governo e dos militares, de acordo com os conteúdos analisados pela agência a pedido da Meta.
De acordo com o relatório da Graphika, em todas as imagens postadas havia a logomarca da suposta entidade e links para suas redes sociais, o que representa uma tentativa de conquistar seguidores e se mostrar como um autêntico grupo ativista.
Endereços falsos
A página “NaturAmazon” usava regularmente hashtags em inglês e português para promover seu conteúdo. Algumas estavam relacionadas a tópicos como #amazônia, #preserve, #selva e #desmatamento. Outras, porém, faziam parte de um esforço para gerar engajamento, como #naturephotography, #insta #instadaily, e #viajar, aponta o relatório.
Além do Facebook, a falsa organização também tinha um perfil no Instagram com as mesmas imagens. Ela informava um e-mail ligado a um perfil falso e um endereço que, na verdade, era de uma loja abandonada em Manaus, segundo o relatório.
A investigação também encontrou duas páginas e um perfil do Facebook, além de uma conta no Instagram, que diziam ser da organização “Amazônia Sustentável”. Todas eram semelhantes aos perfis de duas organizações reais que trabalham para preservar a floresta tropical.
O relatório ainda aponta que as páginas chegaram a adicionar uma foto de perfil com a imagem de uma onça e colocaram o endereço do escritório do Greenpeace, em São Paulo. As contas também criticavam ONGs que se manifestaram contra o desmatamento na Amazônia.
Outra página se apresentava como um site de notícias e mídia e era dedicada a promover a Operação Pipa, um programa militar de transporte de água potável a áreas atingidas pela seca no Nordeste.
Fonte: g1
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