domingo, abril 24, 2022

Diretora de escola investigada por maus-tratos e tortura completa 1 mês foragida da Justiça de SP

A diretora da escolinha particular da Zona Leste de São Paulo investigada por maus-tratos e tortura contra crianças completa nesta sexta-feira (22) um mês que está foragida da Justiça. Roberta Regina Rossi Serme, de 40 anos, que é também uma das donas da Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica, continuava sendo procurada pela Polícia Civil até a última atualização desta reportagem. Ela não havia se entregado ou sido presa.


Roberta Sermes, diretora da Escola Infantil Colmeia Mágica, onde crianças foram amarradas; vídeo que circula nas redes sociais mostra maus-tratos — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal


A Justiça decretou a prisão temporária da diretora Roberta no último dia 22 de março, a pedido da polícia. Vídeos que circulam nas redes sociais mostraram alunos da creche amarrados com lençóis e chorando em banheiros. Eles aparecem com os braços imobilizados, enrolados com panos, como se usassem camisas de força. E estão presos em cadeirinhas de bebês embaixo da pia e perto da privada. Fotos de crianças machucadas também foram compartilhadas.



As imagens viralizaram e chegaram ao conhecimento da Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 8ª Delegacia Seccional, que abriu inquérito para investigar o caso.


O prazo para o cumprimento do mandado de prisão temporária de 30 dias contra Roberta expira nesta sexta. O g1 entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) para saber se a delegacia que investiga os crimes solicitou ao poder judiciário a prorrogação da temporária contra a diretora, mas a pasta informou que, devido ao feriado de Tiradentes, "não temos condições de atualizar o caso esta semana, uma vez que os cartórios estão fechados."



Em abril, a polícia indiciou Roberta, a irmã dela, a pedagoga e outra dona da escolinha, Fernanda Carolina Rossi Serme, 37 anos, e Solange da Silva Hernandez, de 55 anos, auxiliar de limpeza da creche, por maus-tratos, tortura, associação criminosa, perigo de vida e constrangimento contra crianças. Fernanda e Solange respondem aos crimes em liberdade.


Todas as três investigadas negam as acusações e se dizem inocentes (leia mais abaixo). Elas foram responsabilizadas criminalmente pela investigação por suspeita de participarem dos castigos às crianças que choravam ou se recusavam a se alimentar.


Segundo a polícia, além de planejar fugir, Roberta retirou materiais de dentro da escola para atrapalhar as investigações e ameaçou funcionárias. A investigação já vasculhou mais de 20 endereços à procura da diretora.


Donas e funcionária indiciadas


A Colmeia mágica atende alunos de 0 a 5 anos de idade, do berçário ao ensino infantil. Os vídeos e fotos dos alunos amarrados e chorando provocaram protestos dos pais dos alunos e indignação da população. O caso foi revelado em março pelo g1.


O que as 3 investigadas dizem

A reportagem não conseguiu localizar a defesa das irmãs Serme para comentar o assunto. Em seus depoimentos anteriores à polícia, Roberta e Fernanda negaram as acusações.


Antes de fugir, Roberta chegou a confirmar em seu depoimento à polícia que os vídeos foram gravados na sua escola e que as crianças que aparecem lá são seus alunos. Mas negou que as amarrasse ou ordenasse a alguém para amarrá-las. Disse ainda que desconhecia quem teria feito isso. Mas desconfiava que as cenas pudessem ter sido montadas por alguma funcionária insatisfeita para prejudicar ela e sua irmã. Fernanda também se mostrou surpresa com os vídeos quando foi ouvida na delegacia.


O advogado André Dias, que defende as irmãs Serme, falou no mês passado à imprensa que sabe onde Roberta está escondida, mas que ela não irá se entregar até que a Justiça julgue os pedidos para que a diretora não seja presa. Um dos habeas corpus solicitados, feito antes da decretação da prisão dela, foi negado. Outros dois, providenciados após o mandado para que ela fosse presa, ainda não teriam sido analisados.



Solange também negou ter cometido algum crime. Além de acusar Roberta de "embalar'" as crianças, a funcionária falou à polícia, e em entrevista à TV Globo e ao g1, que as professoras da Colmeia Mágica eram orientadas pela diretora a fazer o mesmo "procedimento". Ela ainda falou que não ajudou a patroa a amarrar os alunos.


Professoras acusam donas e funcionária


Menino com hematoma perto do olho e garoto internado no respirador. Ambos chegaram feridos e doentes em casa após saírem do berçário da Colmeia Mágica, em São Paulo — Foto: Reprodução/Divulgação


As professoras que trabalhavam na escola também confirmaram em seus depoimentos à polícia que era Roberta que enrolava as crianças em lençóis, acreditando que com isso elas parariam de chorar. Segundo elas, a diretora não suportava ouvir choros dos alunos. Elas, porém, deram uma versão diferente da de Solange e negaram que ajudassem a diretora nesse "procedimento".



Essas mesmas professoras, que foram ouvidas pela investigação na condição de testemunhas, disseram que viram Solange cobrir o rosto de um bebê de 2 meses com um cobertor, deixando-o sufocado. O garoto acabou internado por dois dias num hospital com dificuldades de respirar no ano passado.


Na entrevista, Solange negou essa acusação feita pelas professoras.


Ainda segundo as professoras, Fernanda, a outra dona da creche, sabia dos maus-tratos e outros crimes cometidos contra os alunos, mas a pedagoga era conivente ao ser omissa e não impedir que isso ocorresse. Na entrevista, Solange disse que nunca viu Fernanda amarrando crianças na escolinha.


As professoras também contaram à investigação que viram outras punições: algumas crianças, que desobedeciam as regras da direção, eram levadas para um banheiro escuro, sem a presença das educadoras. E as maiores eram colocadas em pé por horas na sala de Roberta para "pensarem" sobre o que fizeram.


De acordo com as professoras, a diretora gritava com funcionárias e com as crianças, que tinham "muito medo" dela.


Crianças tiveram sofrimentos, diz MP


Pais de alunos ouvidos pela investigação identificaram seus filhos nos vídeos e fotos e relataram que alguns deles iam para a escolinha e voltavam de lá machucados.


Quando concordou com o pedido de prisão temporária contra Roberta, o Ministério Público havia informado que os vídeos das crianças amarradas, as fotos de algumas delas machucadas após saírem da escolinha, e os depoimentos de testemunhas (tanto das professoras quanto dos pais de alunos) que estão com a polícia mostram que os alunos tiveram "intensos sofrimentos físicos e psicológicos".


No entendimento da Justiça , que decretou a prisão temporária por 30 dias da diretora, as provas demonstram que "há fortes indícios" de que ela esteja envolvida "na prática dos delitos".


Polícia apura remédio para dormir e morte


Heloísa Vitória Teodoro tinha pouco mais de 3 meses quando foi levada às pressas da escolinha até o hospital, onde morreu de parada cardíaca em 2010 — Foto: Reprodução/Redes sociais/Divulgação/Arquivo pessoal/Google Maps


A Colmeia Mágica fica na Vila Formosa e foi fundada em 2000. De acordo com a prefeitura, ela funcionou de forma irregular por 16 anos e somente em novembro de 2016 a Secretaria Municipal de Educação deu autorização para o funcionamento.


A escolinha passou a ser investigada pela Cerco da 8ª Delegacia Seccional depois que os policiais receberam as filmagens por meio de uma denúncia, solicitando que elas fossem apuradas. Não há confirmação de quem gravou os vídeos. A suspeita é de que possa ter sido alguma funcionária da creche descontente com o que viu.


Como há relatos de que a direção da escola dava remédios que causavam sono nas crianças, a polícia investiga se medicamentos foram usados para fazer os bebês dormirem. Segundo depoimentos de testemunhas, a prática seria usada para evitar também que as crianças chorassem.


Comprimidos foram apreendidos pela investigação numa das duas buscas e apreensões realizadas na Colmeia Mágica com autorização judicial. No começo de março, três celulares das proprietárias também foram recolhidos para análise. Sete lençóis que teriam sido usados para amarrar os bebês acabaram apreendidos. Em outro mandado judicial de busca e apreensão, a polícia apreendeu cadeirinhas infantis. Todo o material será periciado.



A polícia identificou outros casos mais antigos envolvendo a escolinha. Em 2010, uma bebê de 3 meses morreu após ter se engasgado no berçário da creche. O hospital confirmou que ela teve uma parada cardiorrespiratória. O Cerco da 8ª Seccional pediu à Justiça a reabertura deste caso, que acabou arquivado à época.


Em 2014, a mãe de um garoto de 3 anos gravou um vídeo que mostra o filho dela acusando Roberta de arranhá-lo no rosto. Este foi outro caso arquivado.


Fonte: g1

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