A potiguar Bárbara Schneider disse que sentiu como se o pai falasse novamente com ela quando leu, no aniversário de 15 anos na última sexta-feira (4), a carta escrita por ele antes mesmo dela nascer e que estava desaparecida.
Karlo morreu em março do ano passado, vítima da Covid, aos 40 anos. E as cartas ficaram desaparecidas porque estavam em encartes dos discos dos Beatles e dos integrantes do grupo, como John Lennon e Paul McCartney, que foram vendidos por ele durante a pandemia, por problemas financeiros.
Ele era beatlemaníaco - como são conhecidos os fãs do grupo britânico - e tinha uma coleção rara em casa, que precisou se desfazer. A história se espalhou na internet no ano passado e criou uma mobilização coletiva em busca delas.
O objetivo de Karlo Schneider era de que a filha lesse a mensagem exatamente quando completasse 15 anos, em 2022.
Após a história se espalhar em 2021, um dos compradores dos discos, que preferiu não se identificar, encontrou três cartas - uma de Karlo Schneider e outras duas do amigo Francisco Segundo - e as devolveu para a família.
"Eu senti como se ele estivesse lendo a carta para mim, porque é como se a forma que ele escrevesse 15 anos atrás fosse a mesma que ele continuava falando todos esses anos", contou Bárbara ao g1.
"As perguntas que ele fez na carta foram como se ele estivesse viajando, voltasse para cá e quisesse saber como eu estava".
O anônimo enviou as cartas e o disco "Imagine", de John Lennon, de volta para a família em dezembro do ano passado. Mas, para cumprir o desejo do pai, de que ela apenas lesse essas cartas quando completasse 15 anos, Bárbara decidiu esperar três meses para abri-las.
"Minha mãe comentou antes sobre as cartas, mas eu decidi ler só no dia, como ele queria. E eu resolvi esperar para fazer esse momento, para que acontecesse da forma que era pra acontecer. Da forma que ele tinha planejado", disse Bárbara.
'Tive esperança desde o começo'
Bárbara conta que só soube da existência das cartas no ano passado e que o pai nunca havia comentado com ela.
Quando o caso ganhou notoriedade e muitas pessoas passaram a se mobilizar na internet para saber o paradeiro dos escritos, a adolescente disse manteve a esperança a todo momento, mas também se mostrava ansiosa.
"Eu tinha esperança desde o começo, mas quando o tempo foi passando eu fui ficando, não é sem esperança, mas eu queria que encontrassem logo pra eu sentir aquele alívio de ter encontrado. Mas eu nunca deixei de acreditar que ele estava lá em cima mexendo os palitinhos pra tudo dar certo", falou.
Segundo Bárbara, na carta, o pai diz que é estranho escrever para ela no futuro, conta um pouco sobre ele, a deseja feliz aniversário e pergunta outras coisas do cotidiano, como se, por exemplo, o ex-Beatle Paul McCartney está vivo.
Na carta, ele diz que "não tinha ideia das coisas que iriam acontecer durante todos esses anos, mas ele falou que que me ama, que ama a minha mãe, falava sobre sobre ele, falava que ele era beatlemaníaco, flamenguista e perguntava sobre as viagens e se eu já tinha feito alguma viagem internacional", conta Bárbara.
A filha conta que o pai conseguiu cumprir o papel deixá-la feliz com esse presente de aniversário de 15 anos.
"Eu fiquei muito feliz. Conseguiu fazer o papel. Eu consegui terminar o dia feliz. Minha mãe tinha até comentado que eu parecia estar mais feliz durante esses dias, depois que meu aniversário passou".
Disco vendido
Karlo guardou as cartas na coleção justamente por achar que nunca precisaria se desfazer dos discos, mas precisou vender quando ficou desempregado em 2020 por conta da pandemia.
Segundo a mãe de Bárbara, Alcione Araújo, o homem que entregou as cartas também passou por uma tragédia semelhante. "Ele só disse que estava muito feliz de poder presentear uma filha que perdeu o pai, sendo ele um pai que perdeu um filho", conta Alcione.
A carta é muito ele. É como se ele tivesse viajado e voltado para falar com ela. São perguntas sobre como ela estava. A gente ficou muito feliz de encontrar essa carta e Bárbara poder receber esse 'abraço' dele. Depois que ela leu, eu senti o rosto dela mais leve. Apesar da dor, aquilo fez bem. Foi um momento muito emocionante
— Alcione Araújo, mãe de Bárbara
Karlo já tinha voltado a trabalhar como gerente de hotel quando pegou Covid-19 em 2021.Foi intubado no dia 2 de março - dia do aniversário da esposa e dois dias antes do aniversário de 14 anos da filha - e faleceu no dia 11 do mesmo mês, em Mossoró, no Oeste potiguar.
'Minha bonequinha'
A carta de Schneider não foi concluída. Na última frase, ele pergunta à filha se eles ainda moram em Natal. A tinta da caneta começou a desaparecer no início e foi acabando até o nome da cidade ficar praticamente apagado. O texto sequer leva sua assinatura.
Porém, para Alcione, não restam dúvidas de que a carta é do marido dela. Primeiro por causa da letra e, segundo, pela expressão usada para a menina: "Minha bonequinha". "É como ele chamava ela", lembra.
"Isso mexeu comigo, porque nos últimos dias, ele foi perdendo o oxigênio, e a carta é isso, a tinta vai se apagando", conta.
"Parece um filme, quando a pessoa não terminou de escrever a história. Tem toda uma simbologia", comenta a amiga da família, Ulla Saraiva, que foi quem postou a história que viralizou na internet.
Fonte: g1
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