Pessoas com deficiência física enfrentam dificuldades para escapar da guerra na Ucrânia, porque:
os abrigos antibombas não costumam ter recursos de acessibilidade, como rampas e avisos em braille;
e qualquer tentativa de fuga exige meios de transporte com estrutura adequada e/ou auxílio de motoristas voluntários.
“Desde o começo do conflito, somos deixados para trás. Ninguém tenta melhorar as condições dos abrigos, ninguém tenta nos salvar, nos tirar daqui, nos ajudar de alguma forma”, afirma ao g1 Tanya Miroshnikova, ucraniana de 31 anos que, desde a infância, usa cadeira de rodas.
Em fevereiro, ela conseguiu fugir de sua cidade, Kamyanske (no oeste do país), até Lviv. Depois, seguiu para outro país (mantido em sigilo para garantir a segurança da entrevistada).
O objetivo dela, agora que está protegida, é resgatar outras pessoas com necessidades especiais que ainda não tiveram oportunidade de escapar. Ela organiza mutirões para arrecadar doações e encontrar voluntários, instituições parceiras e colaboradores.
A fuga de Tanya
Tanya descreve seu trajeto:
“Foi muito difícil. Peguei um trem com a minha mãe, que depende de muletas [para se locomover], enquanto escutávamos o som dos aviões militares acima de nós. Foi a viagem mais longa da minha vida”, afirma.
Desde então, o foco é conseguir que mais cidadãos com dificuldade de mobilidade também consigam fugir.
“A cada dia, fica mais e mais difícil. Pessoas com deficiências mais severas ainda necessitam de atenção médica especial no transporte. Nós, voluntários, estamos tentando levantar fundos e encontrar lugares seguros”, conta Tanya.
Ajudar esse público não é uma novidade na vida dela. Antes da guerra, a jovem já liderava uma ONG focada na defesa dos direitos dos ucranianos com deficiência, a “Fight for Right”.
Até esta sexta-feira (11), o projeto reunia mais de 100 pedidos de ucranianos clamando por ajuda para deixarem o país.
Casal cego recebe ajuda para fugir
“Cada história de resgate é única”, diz Tanya. Uma das mais marcantes, conta a ucraniana, foi a de um casal de cegos na cidade de Bucha (atacada pelas tropas russas).
“A gente tentou por muitos dias encontrar um motorista que pudesse pegá-los, até que finalmente achamos um voluntário que os levou até a estação [de trem].”
No dia da fuga, a piora no estado de saúde
O caso mais difícil, segundo Tanya, foi o de Serhiy e Olga, ucranianos que estavam em Lviv e queriam se mudar para um local seguro. Os dois são cadeirantes e têm condições de saúde muito delicadas.
“Quando finalmente conseguimos um carro para buscá-los, o estado de Serhiy piorou muito. Foi exatamente no dia marcado para o resgate", relata Tanya.
"Tivemos de esperar mais 48 horas para que a situação se estabilizasse -- mas, quando você está na guerra, nunca é possível saber o que acontecerá no dia de amanhã”, relata Tanya.
Depois do sufoco, a fuga deu certo, e o casal chegou à Polônia. “Nosso time conseguiu, depois disso, negociar com uma ONG da Alemanha. Os dois já estão no hospital de lá, recebendo atendimento.”
Fonte: g1
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