Joe Biden já se traduziu como uma máquina de gafes. É daqueles que se deixa levar pela emoção e fala sem pensar. Como presidente dos EUA, isso tem um preço. Foi o que aconteceu no sábado à noite em Varsóvia. No fim de um poderoso discurso de 27 minutos em que definiu a mais grave crise mundial em seis décadas como uma batalha entre democracia e autocracia, entre liberdade e repressão, Biden escorregou, mas foi verdadeiro: “Pelo amor de Deus, esse homem não pode permanecer no poder.”
O homem em questão era Vladimir
Putin, a quem o presidente americano nos últimos dias chamou de bandido,
assassino, criminoso de guerra e carniceiro. O conteúdo do discurso, que também
era endereçado ao dividido público americano, foi ofuscado pela interpretação
de que Biden defendia abertamente a mudança de regime na Rússia.
A Casa Branca correu para consertar o
estrago, que daria mais munição à propaganda alardeada por Putin aos russos –
de que os EUA, em última análise, têm como objetivo destroná-lo. O remendo,
contudo, deixou marcas. O governo americano esclareceu rapidamente o que
presidente quis dizer de seu homólogo russo: “ele não pode ter permissão para
exercer poder sobre os vizinhos ou a região”.
Quem se habituou ao estilo Biden,
após oito anos como vice-presidente de Obama, entendeu que ele se empolgou e
expressou o que pensa em relação a Putin. A ofensiva russa na Ucrânia trouxe de
volta os EUA ao multilateralismo, com Biden à frente no esforço de cooptar a
união de aliados contra a Rússia e manter a contenção. Ele foi firme nas
sanções econômicas e escapou de armadilhas como a criação de uma zona de
exclusão aérea na Ucrânia.
No meio do caminho, houve tropeços.
Num encontro com soldados americanos na Alemanha, Biden exaltou a bravura dos
ucranianos. “Vocês verão isso quando estiverem lá”, disse, dando a entender que
mandaria tropas para o país. Também prometeu devolver na mesma moeda o ataque
de armas químicas pela Rússia na Ucrânia.
Seus assessores correram, de novo,
para apagar o fogo que saía desordenado da boca do presidente: os EUA não
entrariam na guerra nem usariam armas químicas.
No sábado, a declaração improvisada
de que Putin não pode ficar no cargo o afastou de aliados europeus, como o
presidente francês, Emmanuel Macron, que tem tentado assumir o papel de
mediador para pôr fim à sanha bélica de Putin na Ucrânia.
Como presidente, Biden pode ter
cruzado a linha da diplomacia – nada que o aproxime da metralhadora giratória
apontada pelo antecessor, Donald Trump. Seu desabafo serviu mais para distrair
as atenções de uma guerra, que não dá sinais de arrefecer, do que para agravar
as suas consequências.
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