O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (22) que reduzir impostos pode permitir uma queda nos preços no curto prazo, mas "estruturalmente" não ajuda no combate à inflação.
Campos Neto se manifestou sobre o assunto ao ser questionado na tarde deste terça, em evento do banco de investimentos BTG Pactual, sobre a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Pela manhã, no mesmo evento, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o governo federal reduzirá o IPI em 25%. O ministro argumentou que há décadas a tributação elevada dificulta o crescimento da indústria nacional, de modo que o corte no imposto permitirá, segundo ele, a “reindustrialização” do Brasil.
Ao responder, Campos Neto não se referiu ao anúncio de Guedes. Mas descreveu a avaliação geral do BC — “tanto no caso global quanto no nosso caso" — sobre um corte de tributos como meio de conter a inflação.
“Se você baixa o imposto ou faz alguma coisa que abre mão de receita para obter um preço de um produto mais baixo naquele momento, estruturalmente você não está ajudando a inflação”, afirmou.
“Você pode ter uma queda [de preços] no curto prazo. Mas, na expectativa [do mercado financeiro] de inflação, isso vai se incorporar, e esse elemento tende a prevalecer estruturalmente no médio e no longo prazo”, complementou.
Para Campos Neto, a escalada de preços no Brasil e em outros países está relacionada ao aumento dos gastos públicos para colocar em prática medidas de combate à pandemia da Covid.
Como o corte nos tributos também eleva as despesas do governo, o presidente do BC pondera que, mais à frente, a redução de tributos pode piorar a inflação.
“É com alguma curiosidade que a gente vê alguns países que sugerem que, para combater essa inflação da persistência, que foi em parte gerada por esse grande plano fiscal [ligado à pandemia], a solução é fazer mais [estímulo] fiscal. Ou seja: ‘Vamos diminuir impostos para baixar o preço e, baixando o preço, a gente resolve o problema’. Lembrando que, de fato, parte da razão pela qual o preço está onde está é o impacto dessas medidas que foram feitas”, declarou.
De acordo com o relatório "Focus" divulgado pelo BC nesta segunda-feira (21), os economistas do mercado financeiro elevaram pela sexta semana consecutiva a expectativa de inflação para 2022.
Em pesquisa realizada com mais de 100 instituições financeiras, os analistas estimaram que a inflação medida pelo IPCA deve fechar 2022 em 5,56%. Na semana passada, a expectativa era de 5,56%.
Se a previsão for confirmada, será o segundo ano seguido em que o Brasil estoura a meta de inflação. A meta oficial de inflação do país para 2022 é de 3,5% e será cumprida se oscilar entre 2% e 5%.
Fonte: g1
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