A Ucrânia disse neste domingo (16) ter provas do envolvimento da Rússia no ciberataque que deixou diversos websites do governo ucraniano fora do ar na última sexta-feira (14).
"Até a data, todas as provas indicam que a Rússia está por trás do ciberataque", afirmou Kiev em comunicado.
Para o governo da Ucrânia, o objetivo é "não apenas intimidar a sociedade", mas também "desestabilizar" a situação no país, "minando a confiança dos ucranianos no poder".
O ciberataque ocorreu na madrugada de quinta para sexta-feira e deixou páginas na internet de vários ministérios inacessíveis durante horas. O ataque ocorreu em meio à escalada de tensões entre Kiev e Moscou, que mantém um número significativo de forças militares russas ao longo da fronteira com a Ucrânia.
Nas páginas hackeadas, entre elas as dos ministérios do Exterior e da Educação, aparecia uma mensagem alertando os ucranianos a "esperarem o pior". Também ficaram temporariamente indisponíveis os sites de cinco outras pastas, do gabinete de governo, do Serviço de Emergência Nacional e o que cadastra os certificados de vacinação dos ucranianos.
A mensagem que aparecia nos sites dizia, em ucraniano, russo e polonês: "Ucranianos! Todas as informações sobre vocês foram tornadas públicas, tenham medo e esperem o pior. Isso vale para o seu passado, presente e futuro."
O Serviço de Comunicação e Proteção da Informação ucraniano afirmou, no entanto, que nenhum dado pessoal foi vazado. O ministro de Transformação Digital, Mykhailo Fedorov, reforçou que os dados pessoais estão seguros, pois "a operabilidade dos sites e não dos registros" foi afetada pelo ataque.
A Ucrânia e os seus aliados ocidentais acusaram repetidamente hackers russos de realizar ataques coordenados contra a sua infraestrutura estratégica, o que Moscou nega.
UE condena o ataque
Na sexta-feira, a União Europeia (UE) condenou o ciberataque e afirmou que o bloco vai "mobilizar todos os recursos" para ajudar Kiev.
"Infelizmente, já esperávamos que isto pudesse acontecer. Evidentemente, não podemos apontar o dedo a ninguém, pois não temos provas, mas podemos imaginar [quem está por detrás do ataque]", disse o chefe da diplomacia da EU, Josep Borrell.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também condenou o ataque e anunciou que nos próximos dias a Aliança Atlântica assinará um acordo de cooperação cibernética com Kiev.
Tensões entre Moscou e o Ocidente
Os EUA estimam que a Rússia tenha mobilizado cerca de 100 mil soldados perto da fronteira com a Ucrânia, o que desperta temores de uma nova invasão, nos moldes da tomada da Península da Crimeia, em 2014.
Moscou afirma não ter planos de atacar o país vizinho, mas rejeita os pedidos de Washington para remover as tropas, invocando seu direito de deslocá-las para onde seja necessário.
Além disso, o Kremlin ameaça recorrer a ações militares, caso certas demandas não sejam atendidas. Estas incluem a exigência de que a Otan desista da filiação da Ucrânia e de outras ex-repúblicas soviéticas e reduza sua presença militar na Europa Central e Oriental.
Washington e seus aliados se recusaram a atender a esses pedidos, mas se disseram abertos a conversar sobre controle de armamentos, mísseis e limites a exercícios militares.
Nesta semana, conversações entre Moscou e os EUA, seguidas de um encontro entre representantes da Rússia e da Otan e de uma reunião na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, não trouxeram nenhum progresso imediato.
EUA suspeita de ataque de "bandeira falsa"
Na sexta-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, informou que o governo dos EUA acredita que Moscou esteja planejando uma operação de "bandeira falsa" no leste da Ucrânia para justificar uma invasão.
De acordo com a inteligência dos EUA, agentes russos já estariam em posição e Moscou teria começado a realizar uma campanha de desinformação nas mídias sociais, com o objetivo de enquadrar Kiev como o agressor para justificar uma invasão russa da Ucrânia.
"Estamos preocupados que o governo russo esteja se preparando para uma invasão na Ucrânia que pode resultar em violações generalizadas dos direitos humanos e crimes de guerra caso a diplomacia não cumpra seus objetivos", disse Psaki.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou as acusações, dizendo que eram baseados em informações "infundadas", informou a agência de notícias TASS.
Atividades de sabotagem
Na quinta-feira, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse que a Rússia já estava preparando as bases para uma invasão, planejando "atividades de sabotagem e operações de informação" para acusar Kiev de instigar hostilidades.
Ele também apontou que táticas semelhantes foram usadas antes da invasão russa da Crimeia, fomentando uma narrativa de russos étnicos na Ucrânia sendo alvo de extremistas ultranacionalistas com apoio dos EUA.
Desta vez, a inteligência dos EUA observou como os influenciadores russos nas mídias sociais enfatizaram os abusos dos direitos humanos na Ucrânia e culparam o Ocidente pelo aumento das tensões, informou a Associated Press.
Andras Racz, membro sênior do programa de Segurança e Defesa do Conselho Alemão de Relações Exteriores, disse à DW que considera uma possibilidade real uma operação de bandeira falsa.
"Usar operações de bandeira falsa como ferramenta e como pretexto de guerra, de fato, não seria estranho às práticas russas de travar a guerra", disse Racz.
A ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, alertou Moscou na sexta-feira sobre as consequências caso ela invada a Ucrânia, mas enfatizou que: "Devemos esgotar todas as opções para resolver este conflito".
O sentimento foi espelhado por outros ministros das Relações Exteriores da UE reunidos na cidade francesa de Brest na sexta-feira.
"A União Européia certamente está pronta para responder diretamente a qualquer agressão, mas nossa preferência... é a do diálogo e das negociações", disse o chefe da diplomacia da EU, Josep Borrell.
Fonte: Deutsche Welle
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