Na noite de sexta-feira (7), Ana Paula se equilibrava no solo irregular, entre escombros, no terreno do supermercado que pegou fogo em João Pessoa. Ela é uma das pessoas que decidiram se arriscar para coletar produtos que restaram de um incêndio que aconteceu em um supermercado na última quinta-feira (6). A mulher chegou ao local no meio da tarde de sexta e durante a madrugada ainda estava lá, tentando recuperar alimentos para levar para casa. "Os mais empobrecidos, por causa da pandemia, estão em necessidade", desabafa a mulher.
Adultos e crianças correm riscos ao tentar recolher os produtos — há resquícios de fiação elétrica no local e, em imagens, ainda é possível ver fumaça. Na tarde de sexta, circularam nas redes sociais imagens de crianças com queimaduras. Um dos meninos chegou a ser atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e foi levado a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para cuidar dos ferimentos, que eram leves.
Outro morador que estava no local durante a madrugada, um senhor chamado Aguinaldo, carregava macarrão instantâneo e vinagre. Questionado se tinha medo de se ferir ele disse que não. "Cheguei aqui às 10 da noite, não tenho medo porque quem tá aqui é porque tá necessitando", contou ele.
O contexto econômico tem oferecido, ainda, riscos de saúde. Muitos dos alimentos que estão sendo coletados estão há mais de dois dias sem a refrigeração necessária e podem não estar mais em boas condições para consumo.
O prédio do supermercado foi demolido durante o trabalho do Corpo de Bombeiros, que durou mais de 12 horas. As equipes da Defesa Civil de João Pessoa estão no local na tarde deste sábado (8) para recolher os entulhos que restaram do incêndio. A população segue no local, na tentativa de recolher o que pode ter abaixo dos escombros. O coronel Kelson Chaves, que coordena a retirada, alega que isso pode ser ainda mais arriscado:
"Parece um cenário de guerra, tem ferragens, pedras, fios e alguns focos de incêndio, estamos tentando convencer a população a sair do local para que possamos acelerar a retirada dos entulhos", explicou o coronel.
A Defesa Civil acionou a Polícia Militar para tentar retirar os moradores do local. Procurados pelo g1, o Corpo de Bombeiros da Paraíba informou que não recebeu mais chamados por parte da população depois que o supermercado foi demolido.
Entenda o caso
O incêndio foi percebido por volta das 4h30 da última quinta (6). Às 6h, o fogo começou a se alastrar também para a parte de trás do estabelecimento, colocando uma residência em risco, e as chamas aumentaram. Às 7h, a possibilidade das chamas se alastrarem para casas e estabelecimentos vizinhos foi descartada, com o mínimo controle do fogo. Por volta das 8h30, as chamas mais fortes que saíam na parte de cima do estabelecimento foram controladas, mas o fogo continuou.
O anexo de armazenamento, que fica localizado na parte de trás, foi danificado com as chamas. Ainda há muita fumaça saindo dos escombros.
Pelo menos quatro equipes do Corpo de Bombeiros realizaram o trabalho de resfriamento da área e tentaram diminuir o alastramento do fogo. A equipe que estava fazendo o controle do fogo na parte interna do supermercado foi retirada, no início da manhã da quinta, por questão de segurança e risco de desabamento.
Alguns funcionários do supermercado se juntaram em uma força-tarefa para retirar do depósito alguns produtos que ainda podiam ser recuperados. Ninguém ficou ferido durante o incêndio.
Fonte: g1
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