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quinta-feira, novembro 25, 2021

'Não é momento de pensarmos em carnaval, dinheiro deveria ser utilizado de outra forma', defende médica da USP



Na avaliação da médica Ludhmila Hajjar, cardiologista da Universidade de São Paulo (USP) e intensivista da Rede D´OR, o Brasil não deveria investir dinheiro para realizar o carnaval no ano que vem, e sim "vencer a pandemia em 2022, para aquecer a economia e fazer o maior carnaval em 2023".


Ela afirma que a pandemia ainda está em curso, e o risco de o país perder o controle e vivenciar uma nova onda de contaminação após um evento do tipo é alto.


"Não é o momento de pensarmos em carnaval, é o momento de nós utilizarmos esse dinheiro de outra forma. Uma vez que a gente evite isso, nós estaremos, sim, tentando exterminar o vírus, tentando determinar o final da pandemia. Não vamos adotar uma estratégia de flexibilização imensa com enormes multidões, com pessoas de fora, com noites e noites sem o menor distanciamento, 15% a 20% das pessoas não estarão vacinadas", disse Hajjar em entrevista à GloboNews.


E emendou: "Não é nem uma questão de inspirar confiança, eu não faria o carnaval no Brasil no ano de 2022, e que isso servisse de exemplo de tudo o que a gente passou, dos erros que cometemos. Que a gente começasse essa história diferente e preparasse o país para vencer a pandemia em 2022, para aquecer a economia e fazer o maior carnaval em 2023".


Hajjar chegou a ser cotada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para substituir o ex-ministro Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde em março deste ano, mas não aceitou a proposta à época porque não havia "convergência técnica" entre ela e o governo.


Desde o início da pandemia, a médica defendeu medidas de isolamento social para reduzir a mortalidade e prioridade à negociação de vacinas.


Uso de máscaras

Sobre o fato de estados, como São Paulo, e cidades, como o Rio de Janeiro, estarem flexibilizando a obrigatoriedade do uso de máscaras, Hajjar diz ser contrária a essas decisões neste momento. "Há estados e municípios em que a taxa vacinal ainda não chegou a 60%, então, enquanto estamos agora chegando nas festas de final de ano, enquanto nós ainda precisamos aumentar a cobertura vacinal, eu não dispensaria a população do uso de máscaras."



Ela avalia que a máscara é "algo completamente inofensivo" e que "já parte da nossa vida" e questiona se esta deveria ser uma decisão regional, em vez de algo nacional.


"Temos boa parte da população sem dose de reforço, sem completar a segunda dose... Eu não flexibilizaria, manteria a adoção das máscaras, passaria o final de ano e aguardaria para a gente tomar uma decisão nacional."


E emenda: "Acho muito complexo prefeituras e estados tomarem medidas independentes. Há um trânsito muito grande de pessoas de trabalho, de turismo, então nesse estado, nessa prefeitura, nesse município, eu uso máscara, naquele, eu não uso máscara".


"Existem várias estudos sendo feitos no mundo e muitas provas de que, à medida que você aumenta a cobertura em 60%, 70%, a máscara agrega pouco, mas nós temos que lembrar que nós temos uma população muito heterogênea, de hábitos diários e de condições sanitárias muito pobres, muitas pessoas não conseguem simplesmente lavar as mãos, e o uso de máscaras no transporte coletivo, no emprego, pode muitas vezes auxiliar e evitar uma contaminação", finaliza.


Passaporte vacinal

Na avaliação da especialista, exigir o passaporte vacinal de estrangeiros é o mínimo necessário para conseguir manter o controle da pandemia em um momento de flexibilização de regras no país.


“A gente simplesmente está replicando o erro do passado. Onde essa pandemia se iniciou, do ponto de vista de epicentro? Na Europa. China e Europa. Depois para onde ela veio? Para o Brasil", afirmou.


"Estamos vivendo um momento em que estamos enxergando que a flexibilidade, mais a falta de controle das fronteiras, mais o negacionismo, que infelizmente está em todo o mundo, foram os responsáveis por mais uma nova onda na Europa."

A médica destacou outro fator que justificaria a exigência do passaporte de vacinas: o aumento das viagens, com a proximidade das festas de fim de ano e de férias de verão. "Estamos perto do final do ano, teremos turismo, infelizmente teremos cidades e estados com o carnaval. Não há outro sentido a não ser que a gente se una neste momento para cobrar o passaporte vacinal. Isso é uma questão prioritária. Nós já erramos, a gente não pode dar o direito de mais uma vez o nosso povo pagar por esse erro, de nós não termos o controle."



"Temos, sim, que lutar pela obrigatoriedade do passaporte vacinal. Pessoas erradas, com conceitos inadequados, não podem ser responsáveis pela vida dos outros, pela economia e pela saúde.”


Variantes

Ela ainda afirma que o risco não é apenas de o turista trazer uma nova cepa do vírus para o país. Novos focos de variantes já conhecidas são extremamente temerários.


“A gente nem precisa esperar novas mutações. Basta vir as já conhecidas. A entrada no país de focos da cepa delta já é suficiente para que a gente, infelizmente, possa ter o recrudescimento da pandemia.”


Fonte: g1

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