O endividamento das famílias brasileiras atingiu o maior nível em 11 anos. Foi a consequência do uso de crédito para compensar a queda de renda.
A pandemia deixou uma conta que nem todo mundo pode pagar; R$ 2 mil no cartão de crédito, no caso da dona Fátima Costa Silva, que fazia faxina antes da pandemia.
“A patroa não quis mais, ninguém quis mais, mandou todo mundo embora e eu fui”.
O aposentado Antonio José da Silva parou de fazer bicos, por causa de problema de saúde, e a dívida cresceu.
“Vai pagar um aluguel, pagar uma luz e a água, e aí o salário mínimo não dá para nada”.
O país tem o maior número de famílias com dívidas dos últimos 11 anos, segundo um estudo nacional feito pela Federação do Comércio de São Paulo.
“Hoje você paga uma e daqui dois, 10 dias, paga outra”, afirma o autônomo Marcio Frutuoso.
“Cortando dali, cortando acolá, economizando os gastos, mas superando, né? Todo dia a gente supera uma barreira”, conta o técnico de refrigeração Manoel de Oliveira.
Manoel e Márcio moram em Rio Branco, a capital com mais famílias endividadas, seguida por Curitiba e Natal, bem acima da média histórica, que é de 61,8%. Antes da pandemia, 64% das famílias brasileiras estavam endividadas. Hoje, são muito mais: 71%.
“O endividamento em si não é uma coisa negativa, mas as circunstâncias da capacidade de pagar as dívidas sim. O que a gente tem que avaliar é: se essas famílias terão condições, no futuro, de arcar com esses compromissos. Aí nós temos alguns desafios pela frente. Primeiro: a taxa de desemprego extremamente elevada, que ameaça a massa de rendimento das famílias; e, o fator mais importante: a inflação, que corrói, diariamente, o poder de compra”, explica Altamiro Carvalho, assessor econômico da FecomercioSP.
As famílias brasileiras empobreceram. Em 16 das 27 capitais do país, a renda ainda não voltou ao que era antes da pandemia. Na média, o recuo foi 0,7%. Mas em algumas cidades, como em Vitória, Boa Vista e Fortaleza, o orçamento das famílias encolheu muito mais.
Os economistas dizem que esse raio X das contas das famílias ajuda a explicar porque a economia segue travada. Com o orçamento cada vez mais apertado por causa das dívidas e dos preços subindo, sobra menos para gastar. E sobra menos ainda para tomar crédito, que é um oxigênio da economia. O estudo mostra que é preciso aliviar a pressão sobre as contas do consumidor, para que ele volte a comprar, e a indústria, o varejo e os serviços reajam.
“Você tendo seu nome limpo, você mesmo vai lá, faz a compra que você quer”, afirma o funcionário público Reinaldo Augusto
“O crédito é fundamental para qualquer tipo de economia. Ao se elevar e ficar caro, esse crédito cria o risco da inadimplência. O que seria ruim para todos os segmentos: seja para o governo, seja para as empresas, seja para as famílias”, diz Altamiro Carvalho.
Fonte: Jornal Nacional
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