Uma comerciante de 28 anos, que foi agredida em uma abordagem da Polícia Militar (PM), em Curitiba, na noite de sexta-feira (22), disse ter achado que fosse morrer. Stephany Rodrigues, que é dona de uma hamburgueria que foi fechada pelos policiais, teve ferimentos no braço, pescoço, nariz e boca.
"Eu achei que ele ia me matar, que eu ia morrer. Porque o que eu conseguia ver, não tinha ninguém por perto, eu só via coturno", afirmou a comerciante.
Um vídeo mostra um policial militar agredindo a mulher durante a abordagem. Nas imagens, é possível ver o momento em que o agente derruba a jovem, imobiliza-a no chão e acerta a boina do uniforme na cabeça dela. Veja o vídeo acima.
O celular usado pela mulher para filmar a ação dos policiais foi jogado no chão, mas outra pessoa continuou gravando quando a dona da lanchonete estava imobilizada.
Segundo a comerciante, ela foi até os policiais após os agentes tirarem a força um funcionário de dentro da própria casa, próxima ao estabelecimento. A PM afirmou que ele desacatou os policiais enquanto fumava narguilé.
A hamburgueria foi fechada por estar com a ocupação acima da capacidade permitida por decreto municipal. O local foi multado em R$ 30 mil pelo descumprimento da medida e por não oferecer álcool em gel.
Quando estava imobilizada, a mulher gritou por socorro e disse que estavam quebrando a mão dela. Ela foi atendida em uma unidade de saúde. Depois, assinou um Termo Circunstanciado por desacato e foi liberada.
"Foi uma abordagem muito agressiva, muito agressiva. desnecessária, completamente desnecessária. Eu já estava no chão, eles me machucaram muito, muito", disse.
À RPC, o militar responsável pela operação, capitão Ronaldo Goulart, afirmou que o policial teve um atitude "instintiva" ao acertar a boina na mulher pois ele estava "sendo ofendido, agredido fisicamente e na tentativa de ser mordido" e que a medida foi a forma "menos lesiva".
Ele disse ainda que a mulher deu um tapa no rosto de um policial após receber voz de prisão por desacato e que foi preciso uso de força, além de que os ferimentos dela foram causados por ela pois a mulher ficou se debatendo no chão.
"Uma pessoa totalmente desequilibrada, transtornada, reagindo, ela precisa que a força seja feita para conter. e a força é na medida do necessário. No caso, verifica-se que foi a força necessária para conter a ação", explicou.
O advogado da comerciante disse que vai entrar com uma representação contra os policiais na Corregedoria da PM. "Salta aos olhos, o abuso e o exagero dos policiais. Essa conduta agressiva jamais pode se justificar ainda mais contra uma mulher", afirmou Igor José Ogar.
A comerciante também disse que respeita a PM, mas apontou que quem participou da ação na sexta "estava muito despreparado".
O que dizem os citados e reações sobre o caso
A Polícia Militar disse que vai apurar as circunstâncias do fato, considerado isolado. A PM informou que o policial foi agredido e, por isso, precisou usar de força gradativa para conter a mulher.
Ainda segundo a PM, quem se sentiu ofendido pela ação policial deve procurar a corregedoria da corporação com informações para apuração do fato.
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR) determinou às polícias que apurem o caso e disse que o prazo para a conclusão de procedimentos como este é de cerca de 30 dias.
Segundo a nota, a secretaria não compartilha com condutas que extrapolem os limites da lei e disse que vai acompanhar o andamento da apuração.
Por fim, a Sesp-PR disse que as ações policiais estão ocorrendo em atendimento aos pedidos da população que sofre com a perturbação do sossego e outros crimes na cidade.
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR) afirmou que as imagens revelam exagerado e inaceitável uso da força policial contra a mulher.
Disse ainda que representará às autoridades da PM, bem como ao Ministério Público do Paraná (MP-PR), pelo imediato afastamento das funções dos policiais envolvidos, abertura de inquérito e adoção das sanções penais e administrativas cabíveis contra os responsáveis.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) informou que já cobrou o governo estadual sobre a agressão.
O Governo do Paraná afirmou que entende que excessos não podem ser tolerados e determinou à PM rigorosa investigação do caso.
Fonte: g1
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