Dois presidentes e duas visões antagônicas da realidade de seus países. Na tribuna da Assembleia Geral da ONU, Joe Biden tentou recuperar a credibilidade dos EUA, num momento em que enfrenta ceticismo pela desastrosa retirada do Afeganistão e pela desconfiança de aliados em relação ao acordo com Reino Unido e Austrália para a venda de submarinos.
Pouco antes, no mesmo palco, Jair Bolsonaro tratou de enterrar a credibilidade do Brasil, ao retratar um país fantasioso que só cabe no mundo de seus partidários. Foi para eles que o presidente brasileiro destinou a sua preleção utópica, calcada em auto-elogios ao governo.
Faltou verdade no discurso de Bolsonaro, ao referir-se que, sob seu comando, há dois anos e meio, o Brasil não tem um caso de corrupção, registrou aumento do emprego formal e as maiores manifestações de sua história, no dia 7 de setembro.
Ele repetiu a ladainha de que livrou o país do socialismo, como fez em seu primeiro discurso na ONU, em 2019. Na época, o tom estava em sintonia com o do então presidente Donald Trump -- ambos alinhados ideologicamente nos ataques ao socialismo e no reforço exacerbado do patriotismo.
Debates já ultrapassados pela comunidade científica, como o tratamento precoce contra a Covid-19, voltaram à tona na oratória do presidente brasileiro. Em Nova York, como o único líder do G20 não imunizado, Bolsonaro foi aconselhado a se vacinar, de forma assertiva, tanto pelo premiê britânico Boris Johnson quanto pelo prefeito Bill de Blasio.
Impossibilitado de entrar em restaurantes, comeu pizza na rua e churrasco num puxadinho. No púlpito da ONU, ele deu o troco e reafirmou ser contra o passaporte sanitário ou a obrigatoriedade da vacinação.
Já o presidente americano, que enfrenta resistência de parte da população a se vacinar, fez um apelo didático em favor da imunização e pediu esforço global para enfrentar a pandemia.
“Bombas e balas não podem nos defender contra a Covid-19 ou suas futuras variantes. Para combater essa pandemia, precisamos de um ato coletivo de ciência e vontade política. Precisamos agir o mais rapidamente possível para aplicar mais doses em braços”, resumiu Biden.
Parecia uma resposta endereçada a Bolsonaro, que minutos antes vaticinou que “a História e a ciência saberão responsabilizar a todos.”
Fonte: Blog da Sandra Cohen
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