As sedes das operadoras de planos de saúde Hapvida, em Fortaleza (CE), e do Grupo São Francisco, em Ribeirão Preto (SP), foram alvos de diligências da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) após denúncias envolvendo a aplicação do chamado “kit Covid”.
[ATUALIZAÇÃO: Inicialmente, a ANS afirmou que, durante as diligências, recolheu documentos nas duas sedes das operadoras. Às 16h52, a agência atualizou a nota divulgada no próprio site e disse que foram solicitados apenas esclarecimentos. Por telefone, a ANS confirmou ao g1 que não houve coleta de dados, mas que solicitou a apresentação de documentos às empresas em um prazo de cinco dias úteis.]
As informações foram confirmadas pela ANS nesta terça-feira (28) por meio de nota. A agência informou que membros da Diretoria de Fiscalização estiveram nas unidades na segunda-feira (27) para pedir esclarecimentos e recolheram documentos.
Por telefone, a Hapvida confirmou ao g1 a realização das diligências, mas disse que não houve coleta de documentos por parte da ANS. Em nota, a companhia informou que três colaboradores da agência estiveram na empresa e que solicitaram informações que precisam ser apresentadas dentro do prazo estipulado.
"A companhia vai apresentar os dados solicitados e está certa de que as dúvidas serão plenamente esclarecidas."
Em Ribeirão Preto, a operação da Hapvida é feita pelo Grupo São Francisco, que foi adquirido em 2019 pela empresa de saúde cearense.
De acordo com a ANS, as denúncias envolvem a acusação de que médicos que trabalhavam para o grupo São Francisco eram impedidos de tomar decisões de tratamento para pacientes e também eram obrigados a prescrever o chamado "kit Covid", com remédios que não têm eficácia comprovada no tratamento contra a doença. Apenas as vacinas e o uso de máscaras são meios comprovadamente eficazes contra a Covid.
A ANS informou que deu prazo de cinco dias úteis para que a operadora apresente documentos complementares.
Remédios sem eficácia
O chamado kit Covid reúne uma lista de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19. Os remédios, como a hidroxicloroquina e a ivermectina, não são reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combate do coronavírus no organismo dos pacientes.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da Europa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não reconhecem o uso das drogas para fins de enfrentamento à pandemia.
Até o momento, apenas as vacinas, o uso de máscaras, o distanciamento social e a higiene pessoal com álcool gel são os meios comprovadamente eficazes de combate à doença.
'Kit Covid' e a Prevent Sênior
A Hapvida e o Grupo São Francisco não são as únicas operadoras denunciadas por supostas irregularidades na aplicação do "kit Covid".
Desde agosto, a CPI da Covid apura uma denúncia formal feita por um representante de médicos e ex-médicos da Prevent Senior em que afirmam que a operadora de saúde e o governo federal fizeram um acordo, no início da pandemia do coronavírus, para testar e disseminar medicações, como cloroquina, ivermectina e azitromicina -- medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento contra a Covid.
O documento cita uma série de irregularidades que, segundo os médicos, foram praticadas pela empresa, e reveladas pela GloboNews e o g1 em abril deste ano. O Ministério Público abriu investigação.
O primeiro desdobramento do acordo entre a Prevent e governo federal, segundo a denúncia, foi a pesquisa feita com mais de 600 pacientes para testar a eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19, realizada entre março e abril do ano passado. O resultado teria sido manipulado para que os resultados fossem favoráveis ao uso da cloroquina contra a doença.
A denúncia afirma ainda que a Prevent realizou uma série de tratamentos experimentais em seus pacientes, muitas vezes sem que houvesse consentimento deles. O texto diz que pacientes foram usados como "cobaias humanas" para testar medicações contra a Covid.
Os médicos alegam que eram coagidos pela Prevent a prescrever as medicações do tratamento precoce de forma sistemática e que há um acompanhamento rigoroso do número de kits prescritos.
Nesta terça-feira (28), a advogada Bruna Morato, que representa 12 médicos da Prevent Senior, relatou à CPI da Covid que a empresa e médicos do suposto "gabinete paralelo" fizeram um pacto para tentar validar a hidroxicloroquina como remédio contra a doença e, assim, tentar evitar um "lockdown" (confinamento como forma de evitar a propagação da doença).
Bruna Morato falou em depoimento à comissão na condição de responsável por ajudar médicos a elaborar um dossiê com denúncias envolvendo a Prevent Senior.
O material compilado pela advogada e entregue à comissão cita uma série de irregularidades, entre as quais, a ocultação de mortes pela doença e a prescrição dos remédios sem eficácia.
No último dia 22, também em depoimento à comissão, o diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Junior, admitiu que a operadora usou remédios ineficazes contra a Covid, como cloroquina, mas somente com o consentimento de pacientes ou de seus parentes, e que os médicos tinham autonomia para prescrevê-los ou não. Ele negou que a empresa tenha omitido óbitos.
Um dos médicos da Prevent Senior que teria denunciado as irregularidades na empresa registrou um boletim de ocorrência em que relata ter sofrido ameaças do diretor-executivo. O áudio da ligação foi divulgado durante a CPI na terça-feira (22) .
Fonte: G1
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