O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) fiscalizou, nesta quinta-feira (30), quatro unidades da operadora de saúde Prevent Senior na cidade de São Paulo.
Segundo o Cremesp, as vistorias aconteceram nas unidades de Higienópolis, do Paraíso, de Santo Amaro e na sede administrativa, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio. Dirigentes dos hospitais acompanharam a fiscalização.
Em nota, o conselho afirma que “foram solicitados documentos comprobatórios dos atendimentos médicos, além de relatórios das Comissões de Revisão de Óbito, de Prontuário e de Ética Médica, como prontuários médicos, declarações de óbitos, bem como termos de consentimento para utilização de medicamentos off label. Também foram requeridos e avaliados relatórios e indicadores do Núcleo de Segurança do Paciente”.
Foram, ainda, coletadas informações envolvendo as áreas de telessaúde, farmacovigilância e tecnicovigilância.
De acordo com o Cremesp, todas as informações coletadas serão acrescentadas a “relatórios sigilosos que fazem parte das fiscalizações”.
A Prevent Senior nega as supostas irregularidades e afirma que "sempre atuou dentro dos parâmetros éticos e legais".
CPI da Covid
Na terça-feira (28), após novas denúncias feitas contra a operadora de saúde Prevent Senior na CPI da Covid, em Brasília, o Cremesp voltou a afirmar que está investigando a empresa “com o necessário rigor”.
Durante depoimento de mais de 7 horas na CPI, a advogada Bruna Morato, que representa 12 médicos que denunciaram o plano de saúde, afirmou que a Prevent Senior coagia os empregados a prescreverem remédios ineficazes contra a Covid, além de ter feito um "pacto" com o chamado "gabinete paralelo" do Palácio do Planalto, que, segundo a CPI, orientava o presidente Jair Bolsonaro sobre condutas para o enfrentamento da pandemia.
Bruna Morato também disse a Prevent Senior ergueu um hospital de campanha na Vila Olímpia, em São Paulo, para atender pacientes de Covid-19 durante a pandemia em um prédio que funciona sem elevador para macas e sem as adaptações necessárias para receber pacientes.
O Cremesp afirmou, por meio de nota, que “está ciente dessas graves acusações e, na estrita fiscalização da profissão médica, em benefício da sociedade, instaurou procedimentos para apuração dos fatos e delimitação das responsabilidades”.
“Foram levadas ao conhecimento de diversos entes de fiscalização denúncias envolvendo prescrições de medicamentos sem comprovação científica para o tratamento de Covid-19, suspeitas de fraudes em atestados de óbito, possíveis falsificações de prontuários médicos com mudanças da Classificação Internacional de Doenças (CID) e envio de kit de medicamentos, de maneira compulsória, a serem administrados aos conveniados, sem autorização da família e/ou prescrição médica, além da suposta imposição aos médicos do cumprimento de protocolos institucionais. (...) Este Conselho seguirá colaborando com as autoridades competentes para todos os esclarecimentos necessários e a plena elucidação das denúncias”, disse a nota.
Órgãos de classe
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo também afirmou nesta nesta segunda-feira (27) que notificou o Cremesp, o Conselho Regional de Farmácia (CRF) e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) para “adoção de medidas cabíveis com relação a hospitais da rede Prevent Senior, considerando as atribuições legais de fiscalização do exercício de cada profissão”.
Segundo a secretaria, o pedido foi feito após “os fatos noticiados na CPI da Covid-19 relacionados à ‘alteração’ de diagnósticos nos prontuários de pacientes e omissão do CID da doença nas declarações de óbitos, bem como a prescrição de medicamentos sem eficácia cientificamente comprovada para tratamento da doença, como a cloroquina”.
Apesar da notificação, a secretaria estadual afirmou que os hospitais Sancta Maggiore da rede localizados na capital paulista foram alvo de vistoria das equipes de Vigilância Sanitária estadual e municipal, em março de 2020, após indícios de subnotificação de casos e óbitos naquela fase inicial da pandemia e têm cumprido as exigências sanitárias do estado.
“As Vigilâncias realizaram inspeção colaborativa para avaliar os protocolos e fluxos de atendimento, notificação de casos de COVID-19 e condições técnicas e sanitárias. A rede realizou melhorias, implantou medidas de segurança e de otimização de atendimentos e notificação referentes à doença, sendo constatada conformidade com legislação sanitária”, declarou a secretaria.
Denúncias
No começo do ano, médicos denunciaram à GloboNews que a diretoria do plano de saúde Prevent Senior os obrigou a trabalhar infectados com Covid-19 e a receitar medicamentos sem eficácia para pacientes.
Depois disso, um dos médicos inclusive registrou um boletim de ocorrência em que relata ter sofrido ameaças do diretor-executivo da operadora de saúde, Pedro Benedito Batista Júnior.
Agora, a CPI da Covid-19 investiga um dossiê que aponta que a Prevent ocultou mortes em um estudo com hidroxicloroquina, remédio que não funciona contra Covid.
Os indícios da fraude aparecem em documentos e áudios e, segundo os documentos, houve pelo menos o dobro de mortes entre os pacientes tratados com cloroquina analisados pelo estudo.
A suposta pesquisa seria um desdobramento de um acordo da operadora de planos de saúde com o governo federal, e teria resultado na disseminação do uso da cloroquina e de outros medicamentos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já descartou o medicamento para esse tipo de tratamento.
A Prevent repudia as denúncias e afirma que "sempre atuou dentro dos parâmetros éticos e legais”. O diretor-executivo do plano de saúde, Pedro Batista Júnior, foi ouvido na CPI na quarta-feira (22) e afirmou que foram os pacientes que passaram a exigir a prescrição da cloroquina, mas confirmou que a operadora orientou médicos a modificarem, após algumas semanas de internação, o código de diagnóstico (CID) dos pacientes que deram entrada com Covid-19.
Além da CPI da Covid-19, no Congresso Nacional, a operadora é investigada pelo Ministério Público Federal, pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo e pela agência reguladora dos planos de saúde, a ANS.
Em São Paulo, o Ministério Público iniciou uma investigação ainda em março sobre a distribuição do "kit Covid" pela Prevent Senior. Neste mês, após novas denúncias, o MP criou uma força-tarefa, com quatro promotores: Everton Zanella, Fernando Pereira, Nelson dos Santos Pereira Júnior e Neudival Mascarenhas Filho.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, disse nesta sexta-feira que os profissionais médicos e diretores da Prevent Senior poderão responder por crime contra a vida, caso fique comprovado o uso de tratamentos ineficazes contra a Covid-19 em pacientes da operadora.
O governador João Doria (PSDB) disse nesta sexta-feira (24) que pediu à Secretaria da Saúde uma investigação sobre a atuação da Prevent Senior durante a pandemia do coronavírus no estado de São Paulo.
"Já determinamos à Secretaria da Saúde que avance com uma fiscalização rigorosa em todos os procedimentos da Prevent Senior", disse o governador em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Meses atrás, a Secretaria Estadual da Saúde chegou a apurar os procedimentos de informação da causa da morte dos pacientes internados nos hospitais da Prevent Senior.
Doria foi questionado sobre o convite feito ao secretário Jean Gorinchteyn para depor na CPI da Covid-19, e disse que acha "até bom porque ele vai ajudar a esclarecer pontos importantes que têm sido debatidos e questionados".
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!