A secretária do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro ofereceu em janeiro ao governo português o compartilhamento da "experiência" brasileira com o chamado "atendimento precoce" da Covid-19.
A informação consta de mensagem do e-mail funcional da secretária, cujo conteúdo foi requisitado ao ministério pela CPI da Covid.
"Atendimento precoce" é a expressão com a qual o Ministério da Saúde rebatizou o "tratamento precoce", preconizado pelo presidente Jair Bolsonaro, pelo ex-ministro Eduardo Pazuello e por membros do governo. O "tratamento precoce" consistia no uso "preventivo" de medicamentos como cloroquina e ivermectina, comprovadamente ineficazes contra a Covid.
A oferta da secretária foi feita por e-mail em 25 de janeiro para uma representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros português.
Sete dias antes do e-mail da secretária, em 18 de janeiro, o então ministro Pazuello tentava mudar a terminologia empregada pelo ministério. Durante entrevista coletiva, afirmou que o ministério orientava os pacientes de Covid-19 a buscar "atendimento precoce" — e não "tratamento precoce".
No início de janeiro, Mayra Pinheiro também orientou o uso do "tratamento precoce", no Amazonas (vídeo abaixo). Meses depois, em maio, ela disse à CPI da Covid que o ministério "nunca indicou tratamentos para a Covid”, informação falsa conforme atestou o "Fato ou Fake", serviço de checagem de fatos do Grupo Globo.
Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do ministério, Mayra Pinheiro se colocou à disposição para tratar do assunto com o governo de Portugal.
No e-mail, intitulado "compartilhamento de experiencias de enfrentamento a Covid-19", a secretária destacou que também tem cidadania portuguesa.
"Diante das informações sobre o elevado número de casos e desfechos clínicos desfavoráveis da Covid-19 em território português, e na qualidade de cidadã portuguesa e de Secretária Nacional do Ministério da Saúde, coloco-me à disposição para contribuir com compartilhamento da nossa experiência em atendimento precoce no enfrentamento à doença", escreveu Mayra Pinheiro.
O período da oferta coincide com o auge da crise da Covid-19 no Amazonas. A alta incidência de casos levou ao colapso da rede de oxigênio do estado. Em 25 de janeiro, dia do e-mail enviado pela secretária, o Amazonas registrava 86 óbitos, chegando a uma média móvel de 132 mortes diárias. Atualmente, a média móvel do estado é de 7 mortes diárias.
Pouco antes, em janeiro, o ministério havia orientado o uso do tratamento precoce em Manaus por meio de um ofício enviado para a Secretaria de Saúde do Amazonas.
"Em cumprimento ao Plano Estratégico de apoio ao município de Manaus para o enfrentamento à Covid-19, o Ministério da Saúde solicita autorização da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus para que possa realizar no dia 11 de janeiro de 2021, segunda-feira, a partir das 14 às 22 — visita às Unidades Básicas de Saúde destinadas ao atendimento preventivo à Covid-19, para que seja difundido e aprovado o tratamento precoce como forma de diminuir os internamentos e óbitos decorrentes da doença", apontou o ofício.
Em depoimento à CPI da Covid, Mayra Pinheiro confirmou a orientação de uso da cloroquina (vídeo abaixo), um dos medicamentos que compõem o chamado "kit Covid" de "tratamento precoce", ineficaz contra a doença.
Fonte: G1
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