A crise provocada pela pandemia de coronavírus deixou marcas profundas no mercado de trabalho. Em média, 377 brasileiros perderam o emprego por hora em um ano.
Os números são de um levantamento realizado pela consultoria IDados com base nos indicadores de abril – os últimos disponíveis – da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
Em abril, o Brasil tinha 85,9 milhões de ocupados, 3,3 milhões a menos do que no mesmo mês de 2020. Calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pnad Contínua leva em conta tanto o mercado de trabalho forma como o informal.
"Na pandemia, a queda do emprego foi recorde na comparação ano contra a ano", afirma Bruno Ottoni, analista da consultoria IDados e responsável pelo levantamento. "A partir de abril, maio e junho (de 2020), houve uma retração muito grande do emprego, o que mostra que a pandemia afetou fortemente o mercado de trabalho."
Nessa base de comparação anual (mês contra igual mês do ano anterior), o estudo do IDados mostra que, se o efeito da pandemia ainda se arrasta no mercado de trabalho, o estrago já foi muito pior. Em agosto do ano passado, no período mais agudo da crise, quase 1,4 mil brasileiros perdiam o emprego por hora. Naquele momento, o país tinha 81,6 milhões de ocupados, quase 12 milhões a menos na comparação anual.
"A partir de agora, o que a gente vai ver provavelmente é esse número ficando cada vez menos negativo e, em algum momento, ele deve passar para o terreno positivo", diz Ottoni.
O pesquisador destaca, no entanto, que essa melhora vai ocorrer por causa de uma base de comparação bastante fraca. Em dezembro de 2019, por exemplo, o Brasil chegou a ter 94,5 milhões de pessoas com algum trabalho.
A fragilidade do mercado de trabalho fica evidente na taxa de desemprego. No trimestre encerrado em abril, a desocupação manteve o patamar recorde de 14,7% e atingiu a 14,8 milhões de brasileiros.
"O país atingiu o recorde histórico da taxa de desemprego no início deste ano. A melhora esperada vai se dar com uma queda desse patamar elevado, mas ainda vamos terminar o ano com um desemprego muito alto", afirma Ottoni.
Sem emprego na pandemia
Desde que começou a pandemia, Terezinha de Jesus dos Santos, de 35 anos, nunca mais conseguiu um emprego. Moradora de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, ela tem uma filha de 13 anos e sobrevive apenas com o Auxílio Emergencial.
"Antes da pandemia, eu estava trabalhando como diarista, ganhando bem, mas, depois, com o coronavírus, o pessoal foi ficando preocupado, com medo de falir, e fui dispensada", afirma Terezinha.
O auxílio tem sido insuficiente para que ela consiga pagar todas as suas contas. O aluguel de R$ 550 está atrasado há dois meses.
"Quando sai o auxílio, eu compro básico, essas coisas mais em conta. Coloco no congelador e vou tirando aos pouquinhos", diz Terezinha. "Quando falta alguma coisa, o pessoal (da comunidade de Paraisópolis) sempre me dá uma cesta básica."
Para tentar voltar ao mercado de trabalho, Terezinha diz que sai todos os dias de casa em busca de um emprego. "Estou sempre procurando. Não fico dentro de casa porque é pior. Sempre saio procurando nas empresas, preenchendo fichas. Estou indo em busca."
Medo do despejo
A crise provocada pela pandemia também tirou a renda de André Pacheco, de 42 anos. Ele tem uma barraca de yakissoba na Lapa, centro do Rio, que ficou fechada no ano passado.
André mora numa ocupação e já recebeu ordem de despejo. Ao todo, são nove pessoas da família na mesma casa.
"Pensei em procurar alguma coisa com carteira assinada. Mandei e-mails, tentei alguns contatos, mas ninguém me chamou para nada", diz André.
Com a barraca fechada, a renda da família vinha do Auxílio Emergencial recebido pela esposa de André e de doações.
“O sonho da gente sempre foi ter uma loja de yakissoba para empregar a família e ter uma qualidade de vida melhor”, diz André. “Eu moro em uma ocupação. A gente está com medo de perder a casa porque não temos condição de pagar um aluguel. Não tenho renda. Você vai tentar alugar uma casa, e eles pedem várias garantias. Então, a gente vai vivendo dessa forma.”
Fonte: G1
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