A doutora Fátima Ovando não quer rejeitar pacientes, mas sabe que, no Hospital das Clínicas, nos arredores de Assunção, não há capacidade para recebê-los. O Paraguai vive seu momento mais dramático da pandemia do coronavírus, e as previsões para as próximas semanas são sombrias.
UTI para pacientes com Covid-19 no Hospital das Clínicas em San Lorenzo, no Paraguai, em foto de 14 de junho — Foto: Daniel Duarte/AFP
"Não há uma rejeição direta dos pacientes, mas quando chegam explicamos que não há mais oxigênio suficiente. Por isso, não podemos lhes dar a atenção que merecem. Infelizmente, há duas semanas, vem-se recusando pacientes", disse à AFP esta chefe do Departamento de Controle de Infecções do Hospital das Clínicas.
Caixões empilhados em funerária de San Lorenzo, no Paraguai, nesta quarta (16) — Foto: Norberto Duarte/AFP
Com uma população de 7,3 milhões de pessoas, o Paraguai acumula quase 11 mil mortes por Covid-19 e cerca de 400 mil casos. Nas últimas duas semanas, tem sido o país com a maior mortalidade do mundo, com uma taxa de 24,79 óbitos a cada 100 mil habitantes, segundo um balanço feito pela AFP com base em números oficiais.
O diretor de Vigilância Sanitária, Guillermo Sequera, advertiu que o Paraguai "está no vermelho", devido ao elevado número de mortes.
"O país se encontra com um nível de transmissão comunitária muito alto. As previsões são bastante sombrias para este mês e, provavelmente, para parte de julho também", disse ele.
Os mais de 750 leitos de terapia intensiva do país estão ocupados. Além disso, cerca de 200 pacientes em estado delicado convalescem em salas comuns e até em corredores de hospitais, aguardando a liberação de uma vaga na Unidade de Tratamento Intensivo. Entre 30% e 40% dos pacientes de UTI não resistem e morrem.
"A situação é bastante complicada. Apesar do impressionante crescimento (na capacidade de atenção em terapia intensiva) que se teve, não tem como dar respostas. Se continuarmos nesse ritmo, mesmo que tenhamos 1 mil, ou 2 mil leitos, não poderemos responder", declarou o ministro da Saúde, Júlio Borba.
Hospitais sem insumos
Marta Aquino, de 26 anos, conseguiu internar a mãe no Hospital das Clínicas, onde estuda. Antes, porém, passou pelo sofrimento de vê-la dois dias sem oxigênio, atendida em uma cadeira.
"Chegamos implorar para que ela fosse atendida" no Hospital da Seguridade Social. "Mas eles não nos deram nenhum tipo de atenção. Apenas argumentaram que não tinham espaço no momento, que estavam saturados", disse Marta à AFP.
Segundo a doutora Ovando, não falta apenas oxigênio nos hospitais, mas antivirais e antibióticos.
"Talvez o planejamento do Ministério da Saúde tenha sido insuficiente. Não se teve, a tempo, os equipamentos, a infraestrutura, não se contratou a quantidade suficiente de pessoal que seria necessária para estes tempos", avalia.
De qualquer modo, o resultado são duras imagens que mostram salas lotadas de pacientes gravemente doentes.
Vacinação lenta
Neste quadro, a campanha de vacinação avança muito lentamente. No último fim de semana, longas filas se formaram para a imunização de pessoas acima de 55 anos. Entre sábado e domingo, 55 mil conseguiram se vacinar.
Segundo números oficiais, no Paraguai, 475 mil pessoas receberam a primeira dose, o equivalente a 6,7% da população que deve ser imunizada. A meta é chegar a 30% até dezembro, e a 75% da população, em 2023.
"Menos de 500 mil paraguaios receberam imunização, de forma parcial, ou total, através da vacina. Isso continua favorecendo a alta transmissão e vai contra a diminuição das internações e da taxa de mortalidade", disse o epidemiologista Tomás Mateo Balmelli à AFP.
Fonte: France Presse
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