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quarta-feira, junho 16, 2021

No mais curto depoimento à CPI, Witzel acusa governo e é atacado por filho de Bolsonaro

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No mais curto depoimento (três horas e 20 minutos) desde o início do funcionamento da CPI da Covid, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel afirmou nesta quarta-feira (16) aos senadores da comissão parlamentar de inquérito que houve “sabotagem” e “perseguição” por parte do governo federal contra os gestores estaduais durante a pandemia.


Ele também fez críticas ao governo e ao presidente Jair Bolsonaro em relação à montagem de hospitais de campanha, à abertura de leitos, à entrega de equipamentos, como ventiladores pulmonares, à demora para adoção do auxílio emergencial.


Wilson Witzel foi confrontado pelo senador Flavio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, que não é integrante da CPI. O senador contestou as acusações de Witzel ao governo e atacou o ex-governador, acusando-o de ser responsável por mortes, de mentir à comissão e de usar a CPI como "palanque político" (leia mais abaixo).


O depoimento foi encurtado pelo próprio Witzel (vídeo abaixo). Protegido por um habeas corpus obtido no Supremo Tribunal Federal (STF), ele podia falar o que quisesse e por quanto tempo quisesse. O ministro Nunes Marques concedeu o HC porque Witzel é investigado por fatos em análise na CPI e não pode ser eventualmente obrigado a produzir provas contra si mesmo.


No início da tarde, sob o argumento de que a audiência estava descambando para ofensas, Witzel resolveu parar de falar, embora ainda houvesse uma lista de senadores inscritos para perguntar. "Ele acabou de me comunicar que quer se retirar da sessão, e a gente não pode fazer absolutamente nada", disse o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).


O ex-governador, porém, disse ter informações “graves” e prometeu voltar à CPI, caso seja feita uma reunião reservada. O requerimento de convocação dessa reunião deve ser votado na próxima sexta-feira (18).


Governadores 'à mercê da desgraça'

No depoimento, Witzel afirmou que não houve diálogo entre o governo federal e os estados durante a pandemia – e que, em sentido oposto, houve um esforço para se sabotar as medidas sanitárias que vinham sido empreendidas nos estados.


“O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria", afirmou.


"O único responsável pelos 450 mil mortos que estão aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado, aqui, no Tribunal Penal Internacional, pelos fatos que praticou”, afirmou o ex-governador.

Witzel disse ainda que o governo criou uma “narrativa estrategicamente pensada” para fragilizar os governadores, que defendiam as medidas de isolamento


“Foi a narrativa de que ‘os governadores vão destruir os empregos’, porque sabia o senhor presidente da República que o isolamento social traria consequências graves à economia. E eu avisei a ele. O senhor presidente precisa liderar, sentar na cadeira de presidente, e não ficar fazendo motociata, carreata, porque o que nós vimos no Rio de Janeiro foi vergonhoso”, afirmou.


Segundo ele, a “ideia do governo federal era a contaminação de rebanho”.


Perseguição e sabotagem

Witzel reiterou que também fez parte da narrativa federal que os governadores se aproveitaram da pandemia “para fazer desvios de dinheiro público” – a CPI também apura supostas fraudes em verbas federais enviadas a estados e municípios para o enfrentamento ao coronavírus.


O ex-governador sofreu impeachment no ano passado. Ele é réu em processo que apura corrupção e lavagem de dinheiro em contratos da Saúde durante a pandemia. O caso tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).


“Por trás do meu impeachment estão aqueles que se aliaram a esse discurso de perseguição aos governadores. E eu só fui o primeiro porque, depois de mim, outros governadores foram atingidos por essas investigações superficiais, rasas, e que agora estão fragilizando os governos estaduais. Esse é um objetivo de enfraquecimento do estado democrático de direito, e nós não podemos permitir isso”, disse.


Witzel também relatou que não houve ajuda federal na montagem de hospitais de campanha e na aquisição de equipamentos e fez críticas à demora na concessão do auxílio emergencial.


Segundo ele, houve “sabotagem” durante a pandemia.


“Eu pedi ao presidente que ele me entregasse os hospitais federais para que eu pudesse administrar os hospitais pelo estado. Eu queria construir 1,5 mil leitos de hospitais da campanha, que foram sabotados. Então, a conclusão a que eu chego é que não me deram os leitos e ainda sabotaram os hospitais de campanha exatamente para criar o caos”, afirmou.


Bate-boca e sessão reservada

Durante a audiência, Witzel e o senador Flavio Bolsonaro (Patriota-RJ), trocaram farpas e acusações 


Os dois eram aliados durante a eleição de 2018 – Flavio Bolsonaro participou da campanha do então candidato ao governo fluminense. Ao longo do mandato, porém, houve um rompimento entre os políticos.


Flavio Bolsonaro disse que fazia "questão de desmascarar" Witzel e questionou fala do ex-governador de que é "perseguido". Mencionou acusações contra Witzel, disse que o ex-governador estava mentindo, que usava a CPI como "palanque político" e que "tem a mão suja de sangue entre esses quase 500 mil mortos".


"Esse, sim, é o culpado. E vem aqui e cria um monte de narrativa mentirosa. E eu faço questão de desmascarar porque ele foi eleito mentindo, enganando a população do Rio de Janeiro, e se revelou depois que sentou naquela cadeira de governador", declarou ao senador.

Em meio ao bate-boca, senadores afirmaram que Witzel estava sendo intimidado pelo filho do presidente da República.


Audiência reservada

Vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) propôs a realização de uma audiência reservada. O pedido deve ser votado na próxima sexta-feira (18).


De acordo com o blog do jornalista Valdo Cruz no G1, a cúpula da CPI avalia que uma diligência seria melhor que uma reunião a portas fechadas porque, caso contrário, senadores que não têm cadeira na comissão – como Flavio Bolsonaro (Patriota-RJ) – poderiam participar.


Witzel demonstrou interesse em retornar à CPI, se houver uma sessão sigilosa. Ele disse que, em uma sessão reservada, faz “questão” de apresentar novos elementos, entre eles o motivo do rompimento entre ele e a família Bolsonaro e a suposta interferência do presidente da Polícia Federal. O ex-governador disse ter conhecimento de “fatos graves”.


'Novo caminho' na investigação

Após o depoimento do ex-governador do Rio, a cúpula da CPI se reuniu para tratar das próximas etapas na comissão.


Segundo Omar Aziz, presidente do colegiado, na próxima sexta-feira, a comissão deve votar um requerimento para realizar uma reunião secreta, a portas fechadas, com Wilson Witzel.


"Sexta-feira vamos votar vários requerimentos e um deles é essa sessão secreta com o ex-governador Wilson Witzel", declarou Aziz.


O presidente da CPI disse ainda que a comissão votará pedidos de quebras de sigilo de organizações sociais que atuam na área da saúde no Rio de Janeiro.


Vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) declarou que as medidas são necessárias após o depoimento de Witzel nesta quarta-feira, que abriu um "novo flanco na investigação".


"As informações que ele trouxe à CPI abriram um novo caminho da investigação. Nós descobrimos, com o depoimento de Witzel, que as medidas contra a Covid-19 tiveram a atuação não só de parlamentares, mas tiveram a participação também da milícia. Descobrimos que tem uma atuação miliciana em hospitais do Rio de Janeiro. E ele declinou para nós o conjunto de 5 organizações sociais que, no dizer do ex-governador, são empresas que têm dono e que lucram com as mortes de cariocas", afirmou Randolfe Rodrigues.


Relator da CPI, Renan Calheiros disse que as declarações dadas por Witzel são "importantes" para a investigação.


"Imagina o quanto é preocupante um depoente vir aqui e dizer que essa rede pública enorme [de hospitais federais do Rio], que não tem em nenhum outro estado do Brasil, tem um dono, uma pessoa permanentemente a se beneficiar dela", afirmou.


Em um ataque ao senador Flavio Bolsonaro (Patriota-RJ), o emedebista disse ainda que a reunião desta quarta-feira foi marcada por um "reencontro" da CPI com a milícia. Renan já chamou o filho do presidente da República de miliciano.


"Foi um reencontro com as milícias, haja vista a presença do senador Flavio Bolsonaro, novamente, agredindo, falando mal da comissão, das pessoas e desta vez acompanhado por deputados federais que provocavam, fazendo postagens contra a CPI", disse Renan Calheiros.


Fonte: G1

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