Um comerciante de Itaperuna, no Norte Fluminense, passou por momentos de tensão no último sábado (29). Seu Alair Pontes, dono de uma distribuidora de água e gás de cozinha, recebeu R$ 1.600 após uma entrega, e colocou o dinheiro em uma sacola plástica, que pendurou no portão da casa de sua mãe enquanto lavava o carro.
Minutos depois, ele entrou em casa e se esqueceu da sacola, no mesmo momento em que um caminhão de coleta de lixo passou pelo local. Como na região é comum deixar sacolas de lixo penduradas no muro, os garis pegaram a bolsa plástica e seguiram o trajeto.
Mas pouco depois, o gari Edson Rosa percebeu que havia dinheiro dentro da bolsa e a guardou embaixo do banco na cabine do caminhão, onde os garis colocam itens perdidos que encontram durante a coleta.
Enquanto o veículo seguia no trajeto até o aterro sanitário, o seu Alair percebeu que tinha perdido o dinheiro e tentou ir atrás do caminhão.
Ele e um funcionário da distribuidora foram, em duas motos, por trajetos diferentes, e o funcionário conseguiu encontrar o caminhão. Ele explicou a situação e conseguiu recuperar o dinheiro, para alívio do seu Alair.
"Graças a Deus eu consegui recuperar! Já estava pensando em pedir dinheiro emprestado para conseguir honrar meus compromissos, porque esse dinheiro era para pagamento de funcionários e fornecedores. Ia fazer muita falta", disse o comerciante.
Para os garis, o gesto não poderia ter sido diferente.
"Quando eu vi a primeira nota dentro da sacola, já peguei pra guardar. A gente passa por aquela região três vezes por semana, então pensamos em perguntar [de quem era] quando voltássemos na terça-feira. O dinheiro não era nosso, então não tinha porquê guardar pra gente. Temos que pensar no próximo", disse Edson Rosa.
E essa não foi a primeira vez em que uma situação parecida aconteceu. Os garis contam que se deparam com situações similares constantemente.
"Sempre que vejo algo que pode estar perdido, eu guardo. No sábado, o Edson viu o dinheiro e todos já pensamos em guardar e esperar pra ver se alguém procurava. É o mínimo, uma felicidade enorme em poder ajudar", afirma Carlos Alberto Magalhães, colega de trabalho de Edson.
Entre a equipe, não há divergência quando o assunto são objetos perdidos, como conta Nilton Barbosa, que também atua como gari e estava na coleta no último sábado.
"Tudo que a gente encontrar, vamos devolver. Há algumas semanas, encontramos várias notas caídas pela rua, com cerca de R$ 950. Poucos metros depois, estava uma carteira com documentos e conseguimos identificar o dono. É uma sensação muito boa, de consciência limpa".
Depois da ação, o motorista do caminhão de coleta, Thiago Oliveira, decidiu gravar um vídeo dos colegas e divulgar nas redes sociais para mostrar a nobre atitude.
"Foi uma atitude honrosa, deu muito orgulho de fazer parte dessa equipe. Decidi divulgar porque, geralmente, olham pra gente com uma má impressão, nos diminuindo. Mas aqui, na coleta, tem muita gente honesta, pais de família, pessoas de bem que só querem ajudar", destacou Thiago.
Gesto foi retribuído
Nesta segunda-feira (31), o seu Alair conheceu os profissionais pessoalmente e presenteou cada um deles com um kit de gás de cozinha, como forma de agradecimento. Mas, de acordo com ele, nada se compara à gratidão que ele está sentindo pelos garis.
"Eles me fizeram ter esperança nas pessoas de novo. Ver que ainda tem gente de bem, que tá disposta a ajudar o outro, é lindo demais. Eles poderiam muito bem ter ficado com o dinheiro, ninguém ia saber. Por isso tô dando esse presente pra eles. Por menor que seja, é minha forma de agradecer e retribuir de alguma forma", contou o comerciante.
E o profissional que encontrou o dinheiro lembra que, mesmo que o presente seja muito emocionante de receber, o que eles mais querem da população é respeito e colaboração.
"A gente precisa contar com as pessoas, ter essa colaboração. Sempre vou tentar ajudar, mas nem sempre consigo. Quero que saibam que a gente tá aqui, tentando, sempre, mesmo quando não conseguimos. Mas precisamos, no mínimo, de respeito", pontou Edson.
Fonte: G1
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