O Tupã, supercomputador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pode ser desligado até agosto pela primeira vez na história devido à falta de verba que a instituição enfrenta. O equipamento é responsável pela previsão do tempo e clima, enviando dados ao governo sobre estiagens – como a que afeta atualmente São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. De acordo com o diretor do instituto, caso isso aconteça, o governo ficaria sem dados para monitorar problemas como este.
Para 2021, o Inpe recebeu o menor orçamento da história. O governo federal previu ao instituto R$ 76 milhões, mas apenas R$ 44,7 milhões foram liberados até agora. O valor é 18% a menos que o de 2020. O restante segue contingenciado, sem previsão de ser incluído aos cofres do Inpe.
A falta de verba forçou decisões como o desligamento do Tupã que, só em energia elétrica, consome R$ 5 milhões por ano.
A proposta do diretor, Clézio di Nardin, é desligar parte da operação do equipamento, mantendo só a que faz previsão do tempo, não as previsões de clima.
“Vamos imaginar que a gente tenha a crise hídrica na bacia do Rio Paraná, ela abastece Itaipu e fornece energia para São Paulo. Se isso acontece, não previmos isso e não avisamos”, disse.
Em outubro do ano passado, o Inpe chegou a prever a troca do Tupã por dois computadores de menor porte, que economizam energia. Mas, segundo Inpe, não há recursos para a substituição.
"Nós vamos ter que deligar uma parte, ou fechar parte do Inpe, eu já cheguei no mínimo, no fundo do poço."
As equipes do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), que pertence ao Inpe, usam o Tupã para gerar relatórios de previsão do clima que abastecem o Operador Nacional do Serviço Elétrico (ONS), que coordena a geração e a transmissão de energia elétrica em todo o país.
Por causa do alerta de crise hídrica, os documentos são entregues semanalmente para que o governo federal tome decisões sobre a estiagem.
Segundo Gilvan Sampaio, coordenador do Cptec, o supercomputador desligado significa deixar o governo sem informação sobre o assunto.
“Parar esse tipo de supercomputador é um prejuízo enorme para o país, estamos diante de uma crise hídrica. É extremamente grave. Se você não tem uma ferramenta como essa, você não consegue prever até quando vai essa crise, se ela vai se estender”, explica Sampaio.
Gilvan explica que além da energia, não há verba para pagar o contrato de data center, onde são armazenados os dados gerados pelo supercomputador, o que também força a decisão de desativar.
Orçamento
Em 2021, o Inpe recebeu R$ 44,7 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia, queda de 18% em relação de 2020. O orçamento total previsto era de R$ 76 milhões, mas R$ 32 milhões são incertos para a instituição. Além de menor, houve atraso na liberação dos recursos, por conta da demora na aprovação do orçamento federal. Até maio, a instituição havia recebido R$ 4 milhões do ministério. Com isso, chegou a fazer cortes como:
Redução do contrato de internet e telefonia, com diminuição de linhas móveis e pontos de internet
Redução de serviços de limpeza e manutenção do prédio
Suspensão de verba para pagamento de publicação de pesquisas
Suspensão de bolsas de pesquisadores
Sem a verba aprovada, o Inpe chegou a suspender mais de 100 bolsas de pesquisadores que trabalham na instituição. A ação impactou o lançamento do Amazônia I, o primeiro satélite completamente brasileiro. À época, para manter o lançamento com os pesquisadores que já estavam na Índia, a Agência Espacial Brasileira teve de intervir e enviou cerca de R$ 900 mil de forma emergencial ao Inpe. Após a aprovação do orçamento, as bolsas foram atualizadas.
Além do orçamento menor, houve um congelamento de cerca de R$ 30 milhões nas verbas destinadas ao instituo. Com o bloqueio, o diretor do Inpe diz que não é possível assumir as contas da instituição e o equilíbrio financeiro só seria possível com cortes severos.
“Eu vou ter que desligar alguma coisa. A gente vai ter que fechar o LIT [Laboratório de Integração e Testes], desligar o supercomputador. Isso para fazer as contas caberem. Nós estamos na metade do ano e eu não tenho o dinheiro deste ano ainda”, disse.
O Laboratório de Integração e Testes (LIT) citado pelo diretor presta serviço para empresas, fazendo testes de produtos no mercado, como carros e equipamentos eletrônicos.
O que diz o governo federal
A reportagem do G1 procura desde 31 de maio o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações sobre o orçamento questionou o MCTI sobre o orçamento do Inpe e sobre os riscos de um apagão de dados para ações do próprio governo em situações de crise, mas não obteve retorno.
A Agência Espacial Brasileira (AEB), que fornece parte dos recursos do Inpe, disse que foi impactada pelo corte orçamentário federal e que trabalha para conter possíveis impactos no Programa Espacial Brasileiro "preservando projetos em andamento e garantindo o desenvolvimento das atividades espaciais no país”.
Na manhã desta quarta-feira (9), o G1 procurou o Ministério de Minas e Energia, Ministério da Economia, a Agência Nacional de Energia Elétrcia (Aneel) e Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Fonte: G1
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