O quintal da propriedade de seu Francisco Germano e Dona Nenê está repleto de pés de milho, no Assentamento Hipólito, zona rural de Mossoró. Desde o fim do mês de maio a rotina dos agricultores tem sido de retirar as espigas do milho verde praticamente todos os dias. Mas este ano, o plantio foi marcado pela incerteza do inverno.
"A gente ficou com medo no começo do inverno porque tivemos uma perda. Mas depois o inverno chegou e o milho conseguiu se recuperar. A gente vai conseguir tirar pelo menos uns 90% do que plantou", comemora o agricultor.
Milho no roçado é sinal de comidas típicas ao longo de todo o mês de junho. As espigas retiradas dos pés por Dona Nenê daqui a pouco vão para o fogão. "Todo dia eu venho aqui e tiro milho. Sempre estou fazendo canjica, pamonha, milho cozido, assado. Os meninos gostam muito", conta a agricultura.
O que não vai pra cozinha vira alimento para os animais. Este ano, o agricultor Francisco Germano plantou quatro hectares de milho. Junto com o sorgo, as plantas vão servir de suporte forrageiro para alimentar os animais. O agricultor possui um rebanho ovino de 70 animais.
Na área coletiva do assentamento, muitos agricultores já começaram a colheita. As culturas de maior ciclo, como o milho e o sorgo são maioria. Praticamente toda a produção é destinada a fabricação de silagem. Os silos são feitos ali mesmo no lote.
"Esse sorgo é para dar aos animais nos meses de novembro, dezembro até chegar o inverno do próximo ano. Tem que fazer porque depois o pasto fica pouco", alerta Celso Ferreira, que alugou uma ensiladeira para agilizar o serviço de retirada dos pés de sorgo e transformá-los em silagem.
O Assentamento Hipólito foi uma das localidades privilegiadas com a chuva. Mesmo vindo de forma irregular, os agricultores conseguiram salvar as plantações de inverno, este ano.
"Em fevereiro, a gente já estava perdendo a esperança porque a chuva tinha sido muito pouca. Algumas pessoas cortaram no seco e chegaram a perder. O inverno chegou só em abril e foi rápido. Hoje, podemos dizer que o Hipólito foi abençoado por Deus", comemora a presidente da Associação de Moradores do Assentamento Hipólito, a agricultora Risolene Vitorino.
Chuvas no interior
No início de 2021, a meteorologia já previa um período chuvoso dentro ou abaixo da média para o Rio Grande do Norte. As previsões se cumpriram ao longo dos meses da quadra invernosa que vai de fevereiro a maio. Segundo a meteorologia, dos 167 municípios do Rio Grande do Norte, apenas 30 se incluíram nas condições normais de chuva. No restante do RN, os municípios foram classificados como seco ou muito seco.
"Tivemos as chuvas concentradas praticamente concentradas entre as metades de abril e maio. Somente 20% dos 167 municípios do estado tiveram chuvas dentro da média", explicou o especialista em climatologia José Espínola, professor da Universidade Federal do Semi-Árido (Ufersa).
"Com essas chuvas irregulares, nós podemos dizer que para a agricultura foi suficiente para o agricultor colher o feijão, que é um cultivo de ciclo curto. Mas o milho, que é mais sensível à falta de chuva, foram poucas as regiões que conseguiram produzir".
Segundo o professor, a chuva se destacou na região do Alto Oeste potiguar. Segundo levantamento do Instituto de Gestão das Águas (Igarn), a Barragem de Pau dos Ferros encerrou o mês de maio com 55,82% da capacidade total. No mesmo período do ano passado, o reservatório estava com 38% da capacidade.
O município de João Dias foi o que mais se destacou pelos índices de chuva. Durante o período de inverno, foram registrados 920 milímetros de chuva.
Para os agricultores, o fim do período chuvoso representa mais que o fim de um ciclo. É a renovação da esperança para o próximo inverno. "A gente que é agricultor sempre tem esperança, né", disse o agricultor Antônio Lopes. E que seja de boas colheitas e fartura.
Fonte: G1
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