Moradores da Favela do Jacarezinho denunciaram, em vídeos publicados em redes sociais e em relatos à Defensoria Pública, que suspeitos foram executados durante a operação policial na comunidade, na quinta-feira (6).
Na ação mais letal da história do estado do Rio de Janeiro, 25 pessoas foram mortas baleadas – incluindo um policial civil.
Em um dos vídeos, exibido no Jornal Nacional (veja abaixo), uma moradora filma um policial e afirma que o suspeito quer se entregar. A mulher acusa os agentes de tentarem "encurralar" moradores para evitar que eles chegassem até o local onde supostamente o homem teria se rendido.
Além das denúncias, para defensores públicos fotos compartilhadas em redes sociais e também tiradas por fotojornalistas demonstram que a polícia "desfez" a cena de crimes. Para eles, mais um indicativo de que houve execuções de suspeitos – sem chance de rendição.
"O saldo do dia é muito impactante. Chama atenção uma coisa que eu acho que a gente precisa apurar é quantas dessas pessoas chegaram mortas ao hospital. Isso é um indicativo de que pode ter ocorrido, sim, desfazimento de cena de crime", afirmou a defensora pública Maria Julia Miranda, que esteve no Jacarezinho na quinta-feira.
Durante a entrevista coletiva para detalhar a ação, a polícia negou veementemente qualquer irregularidade durante a operação.
O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário operacional da Secretaria de Polícia Civil, declarou que "se alguém fala em execução nessa operação, foi no momento em que o policial foi morto com um tiro na cabeça". O agente André Farias morreu ao ser atingido enquanto tentava retirar uma barricada.
O Ministério Público estadual informou que vai investigar relatos de abusos policiais, que incluem também invasão a casas e truculência contra moradores.
Policiais civis durante a operação no Jacarezinho, Zona Norte do Rio, na manhã desta quinta-feira (6) — Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Sangue e corpos arrastados
Imagens obtidas pelo G1 mostram a casa de uma das pessoas que vivem na favela com o chão coberto de sangue, e marcas aparentando que corpos foram arrastados pelo piso.
Oficialmente, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Secretaria de Polícia Civil – grupo considerado de elite que integrou a ação – informou, em nota, ter perseguido dois criminosos que invadiram a casa e fugiram até o segundo andar da residência.
Casa de mulher de 50 anos ficou repleta de sangue após ação policial no Jacarezinho — Foto: Reprodução
Na versão da polícia, os agentes seguiram os dois homens enquanto moradores ficaram do lado de fora do sobrado. "Os policiais entraram na casa, houve confronto, os policiais reagiram e os traficantes morreram", resume o texto.
As fotos também foram enviadas à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no RJ (OAB-RJ). O advogado Rodrigo Mondego, procurador da comissão, contou que uma pessoa que vivia na casa foi para uma área externa, após a invasão.
Depois, segundo o advogado, a testemunha relatou ter ouvido de policiais da Core que ficasse fora de casa, enquanto os policiais estavam no local.
"Ela ficou nervosa, e a polícia disse pra ela ficar do lado de fora. Ela ouviu gritos, e, em seguida, os tiros", contou Mondego.
Os vestígios de sangue podiam ser vistos em vários pontos da casa.
"Em nenhuma hipótese, se dois suspeitos de crime entrassem em uma casa de uma pessoa trabalhadora em um bairro nobre do Rio de Janeiro, elas seriam executadas lá dentro”, declarou o advogado.
O representante da OAB também lembrou do trauma dessas pessoas viver a situação, além do prejuízo material ao ter a casa "cravejada de balas, sofás inutilizado por causa do sangue".
Imagens do Globocop mostraram, pela manhã, que bandidos pularam para a casa de moradores para fugir da polícia. Em seguida, policiais também entraram nas residências para perseguir os criminosos.
Foto de morto será apurada
Outra denúncia de moradores do Jacarezinho envolve a imagem de um homem morto em uma cadeira de plástico, numa das vielas da comunidade, com um dedo na boca.
Ao ser questionado sobre a imagem durante a coletiva de imprensa na Cidade da Polícia, o delegado Fabrício de Oliveira, coordenador da Core e que participou da operação, confirmou que a imagem era de um dos mortos na favela, mas que as circunstâncias em que ela foi feita vão ser apuradas.
"Quando a polícia acessou, alguns criminosos foram encontrados já mortos. Caso está sob investigação e em breve a polícia vai dar mais detalhes dobre a dinâmica do que aconteceu", disse.
Fonte: G1
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