A deputada Flordelis (PSD-RJ) disse nesta quinta-feira (13), em depoimento no Conselho de Ética, que se tornou "pária" na Câmara dos Deputados desde que foi denunciada como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019.
Foi a primeira vez em que a parlamentar prestou depoimento no conselho. Antes, já tinha apresentado defesa por escrito. Ela responde a processo que pode levar à cassação do mandato.
Flordelis negou o crime e disse que “é horrível e terrível esse rótulo de assassina”.
“Eu virei pária para o governo, para a direita, para a esquerda, seja lá quem for, desta Casa, que quer surfar nos louros da mídia que clama pelo meu sangue”, disse.
Flordelis é acusada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de ser mandante do assassinato do marido. Ela responde por homicídio triplamente qualificado – "motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima" –, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
“Eu queria que vocês [deputados] pensassem, refletissem para que uma injustiça não seja cometida nesta Casa, que a injustiça não seja cometida com a minha vida. Me deixem continuar com meu mandato, com meu trabalho.”
Na última semana, a juíza do 3º Tribunal do Júri de Niterói (RJ) Nearis dos Santos Carvalho Arce decidiu que a deputada e mais nove acusados irão a júri popular.
O processo ao qual a deputada responde na Câmara foi instaurado somente em fevereiro deste ano, já que o Conselho de Ética esteve parado no ano passado devido à pandemia da Covid-19.
Após o depoimento desta quinta, o relator do caso, deputado Alexandre Leite, terá até dez dias úteis para apresentar seu parecer.
O relatório pode ser pela absolvição ou aplicação de punição, que vai de censura à perda do mandato parlamentar.
Se o Conselho de Ética decidir pela suspensão ou cassação do mandato do parlamentar, o processo segue para o plenário da Câmara, que dará a palavra final.
O conselho tem ouvido outras testemunhas do caso. No mês passado, o filho afetivo da deputada federal Flordelis Lucas Cézar dos Santos de Souza afirmou, também ao conselho, que a mãe o orientou a assumir a autoria do assassinato do pastor Anderson.
Por ter imunidade parlamentar, Flordelis segue em liberdade, mas, desde setembro, tem sido monitorada por tornozeleira eletrônica.
Questionada pelo relator se, caso não fosse parlamentar, também estaria presa, Flordelis respondeu que acredita que sim.
“De forma cruel e covarde, sim. Há uma covardia acontecendo nesta situação deste processo”, disse.
'Articulador'
Durante o depoimento, Flordelis disse que o marido era a "peça principal" e o "articulador" do mandato de deputada.
"Eu só tinha seis meses de mandato, estava começando neste Parlamento o meu trabalho. Trabalho esse que, se os senhores perguntarem e indagarem, meu marido era uma peça principal. O apelido do meu marido nesta Casa era '514' [em referência ao número de 513 deputados]. Muitos deputados nesta Casa nem o chamavam pelo nome", disse. "A parlamentar era eu, mas o articulador era ele".
O inquérito sobre o assassinato concluiu que Anderson foi morto por questões financeiras e de poder na família.
O relator do processo no Conselho de Ética questionou, então, se o fato de o pastor exercer poder sobre o mandato da deputada teria motivado esse entendimento por parte do Ministério Público e da Polícia Federal.
"Conforme narra aqui perante este conselho, claramente ele exercia amplo poder sobre o seu mandato. Teria sido essa conduta, esse exercício amplo de poder e interferência no seu mandato uma das motivadoras a ter feito ou justificar o que o Ministério Público e a Polícia do Rio de Janeiro acusam a senhora?"
A deputada disse que o marido "não exercia esse poder que estão falando" e negou que Anderson influenciava seus votos como deputada na Câmara dos Deputados.
Segundo a parlamentar, somente 40% do salário de deputada ficava com ela.
“Eu é que ficava com 40% do dinheiro, e o restante meu marido ficava para pagar as dívidas, as nossas contas”, disse.
“Esse dinheiro não era administrado só pelo meu marido. O dinheiro da igreja e da família era administrado pelo meu marido e pelo filho principal que me acusou deste assassinato. Infelizmente, eu fui proibida de citar nomes.”
Fonte: G1
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