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segunda-feira, março 01, 2021

H1N1: as razões para um possível retorno da pandemia de 2009

Imagine esta cena: o programa de rádio entra no ar fazendo um anúncio: "De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais 700 pessoas morreram em decorrência da doença ao longo da semana, elevando o número de óbitos para 5,7 mil."


A pandemia da chamada gripe suína foi declarada encerrada em 2010, mas o vírus responsável ainda está entre nós — Foto: Getty Images via BBC


A emissora continua: "Na Europa, a Ucrânia está fechando escolas e cinemas, ao mesmo tempo em que o governo ucraniano proíbe reuniões públicas. No Reino Unido, o número de casos dobra a cada semana. Nos Estados Unidos, o presidente está declarando emergência nacional."


A transmissão de rádio soa familiar hoje, mas esses eventos ocorreram em outubro de 2009, quando o mundo viveu sua última pandemia — de H1N1, a chamada gripe suína.


Acredita-se que o vírus tenha começado sua jornada mortal a partir de porcos de uma pequena região central do México em janeiro de 2009. Em março, os primeiros casos foram registrados na Califórnia e no Texas.


Em junho, o vírus estava presente em 74 países ao redor do mundo. Um ano depois, quando a OMS declarou o fim da pandemia, entre 151.700 e 575.400 pessoas haviam morrido.


Um esforço global de vacinação em massa liderado pelos EUA ajudou a acabar com a pandemia, mas o vírus H1N1 ainda permanece entre nós. Todos os anos circula como uma gripe sazonal, causando doenças, hospitalizações e mortes.


Cientistas de todo o mundo monitoram tanto a H1N1 quanto outras gripes suínas para entender melhor essas doenças e para descobrir como conter o próximo vírus antes que se torne uma pandemia.


Mas conter um vírus é um trabalho complexo, agravado pela atividade humana: desde a forma como produzimos nossos alimentos até a maneira como viajamos.

Para entender melhor o desafio que enfrentamos, está em andamento um projeto colaborativo em 2,5 mil fazendas de suínos europeias, que já coletou amostras de mais de 18 mil porcos.


Os cientistas envolvidos no projeto descobriram que os vírus da influenza A — aqueles que podem se tornar pandêmicos em humanos — estavam presentes em mais de 50% das fazendas que visitaram, sobretudo em áreas de produção intensiva de suínos, incluindo Dinamarca, Bretanha, no norte da França, noroeste da Alemanha e Holanda.


Em outras palavras, eles encontraram uma pandemia à espera de eclodir.


Os pilares de uma pandemia

No extremo nordeste da Alemanha, onde as terras do país encontram o Mar Báltico, fica a pequena Ilha de Riems. O acesso é feito por uma ponte — e não por acaso.


A Ilha de Riems é onde fica a instituição de pesquisa de vírus mais antiga do mundo, fundada em 1910 pelo cientista Friedrich Loeffler.


As medidas modernas de biossegurança preveem que os institutos de vírus podem ser baseados praticamente em qualquer lugar, mas em 1910, depois que muitas doenças migraram do seu laboratório para a comunidade local, Loeffler decidiu que era melhor instalá-lo em uma ilha. Hoje em dia, o Instituto Friedrich Loeffler (FLI, na sigla em inglês) é o principal centro de doenças animais da Alemanha.


Demora cerca de 30 minutos para dar a volta na ilha a pé, passando por grandes edifícios quadrados que abrigam os laboratórios, instalações de experimentação animal e compartimentos para animais, que abrigam porcos, galinhas, gados e uma área de criação de javalis selvagens.


Na extremidade mais afastada fica o compartimento dos patos, onde as equipes monitoram os padrões da gripe aviária e novas cepas de vírus emergentes, atraindo pássaros selvagens para fazer uma parada em meio a suas viagens migratórias.


Milhares de patos selvagens e gansos passam por esta área todos os anos.


Martin Beer trabalha aqui há 20 anos. Ele é um dos cientistas que começaram rapidamente a criar e testar vacinas quando eclodiu a pandemia de gripe suína em 2009, e agora é o chefe do Instituto de Virologia Diagnóstica. É sua equipe que tem realizado o projeto de coletar amostras de porcos da Europa.


Até agora, eles encontraram quatro vírus causadores de influenza circulando, que apresentam alguns "pilares" de uma pandemia.


São vírus que podem infectar humanos, têm potencial de se espalhar entre humanos e para os quais não há vacinação ou imunidade inata.

Atualmente, nenhum dos vírus descobertos possui todos os pilares necessários para uma pandemia. Mas se qualquer um desses vírus conseguir se adaptar, a chance de outra pandemia é significativa.


A equipe também descobriu que a incidência desses vírus em porcos está aumentando com o tempo.


"Nossa primeira surpresa neste programa de vigilância foi que… cerca de 30% dos porcos testaram positivo para o vírus da influenza A. É muito", diz Beer.

Os porcos, assim como os humanos, são suscetíveis a mais vírus quando são jovens porque ainda não tiveram tempo de desenvolver os anticorpos necessários para combatê-los.


No sistema de produção intensiva de carne suína da Europa, os porcos vivem apenas seis meses antes de serem abatidos. Ou seja, não têm idade suficiente para combater a maioria dos vírus do tipo influenza.


"(Então) você tem muitos porcos altamente suscetíveis", afirma Beer.


Mais de 257 milhões por ano, na verdade.


Mas a Europa tem certas vantagens que a tornam menos propensa a doenças humanas do que outras partes do mundo. É um continente rico, com bons sistemas de saúde em muitos de seus países, é o lar de alguns dos maiores cientistas do mundo e, em geral, tem um clima temperado.


Isso não torna a região imune a uma pandemia, como lamentavelmente sabemos.


Tradicionalmente, os humanos desenvolveram sistemas agrícolas condizentes com nossos ambientes. Mas isso mudou. Com o aumento da população, houve um crescimento na demanda por fontes de proteína.


A Europa está tentando produzir mais carne suína, mais rápido do que nunca, e essa demanda está gerando novas doenças.


O colega de Beer, Timm Harder, é chefe do Laboratório de Referência de Gripe Animal no FLI e coautor do relatório de vigilância. Ele diz que há uma conexão entre a forma como a Europa está produzindo proteínas e os vírus que eles estão vendo.


"Em 1995, uma fazenda de suínos que tinha 200 porcas era uma exceção. Agora temos fazendas com 2 mil e 20 mil porcas. É um aumento brutal no tamanho da fazenda. Isso é algo que muda a epidemiologia dos vírus influenza", afirma.

Vinte anos atrás, se um novo vírus surgisse em uma pequena fazenda de porcos, provavelmente se dissiparia rapidamente, sem muitos hospedeiros para infectar. Mas não é mais o caso, de acordo com Harder.


"Em uma grande propriedade, há centenas de leitões recém-nascidos todos os dias. Um vírus da gripe, uma vez introduzido, se perpetua constantemente. Você o encontrará ao longo dos anos, durante todo o ano", acrescenta.


Com a intensiva e crescente criação de porcos, os humanos estão ajudando a mudar a forma como os vírus da gripe operam e a mantê-los ativos por mais tempo.


"É um playground muito bom para os vírus", diz Harder.


Uma placa de Petri para doenças

A boa notícia é que, se você estiver em forma e saudável, pegar H1N1 agora, provavelmente resultará em sintomas leves de gripe que passam em algumas semanas.


A má notícia é que os vírus da influenza podem saltar entre as espécies e se misturar com outras vertentes da gripe. É com essas novas misturas que os cientistas se preocupam: elas têm a capacidade de causar problemas graves de saúde, mortes e os distúrbios mundiais que estamos vendo com a Covid-19.


E os porcos, ao que parece, são um recipiente de mistura ideal para essas novas variantes.


"Sabemos que os porcos geralmente não são os criadores do vírus, mas que agem como uma placa de Petri, misturando gripes de humanos, pássaros e talvez de outras espécies e, em seguida, criando misturas mais letais que podem se espalhar para outras espécies", explica Nicola Lewis, colaboradora do projeto de coleta de amostras na Europa e professora de biologia evolutiva do Royal Veterinary College do Reino Unido.

Na verdade, segundo ela, o principal motivo de haver tantas cepas de gripe entre os porcos europeus é que os humanos infectam os porcos com sua própria gripe sazonal todos os anos. É por isso que os criadores de porcos são aconselhados a tomar a vacina anual contra a gripe.


Mas este não é apenas um problema que afeta os porcos europeus — em todo o mundo, humanos e porcos estão compartilhando e misturando vírus.


Com centenas de milhares de hospedeiros para escolher, esses vírus podem saltar e se adaptar o tempo todo.


A natureza de rápida mutação dos vírus da gripe torna o trabalho de pessoas como Beer, Harder e Lewis incrivelmente complicado; eles estão tentando acertar um alvo em constante movimento.


Os porcos não apenas misturam vírus de outras espécies — de humanos e aves, por exemplo — como também misturam os vírus uns dos outros. Os porcos na Europa têm cepas de gripe diferentes dos da Ásia, por exemplo, e quando essas duas raças se encontram, podem infectar uma a outra para criar novas doenças.


Em 2009, acredita-se que o comércio de longa distância de porcos entre o México, os Estados Unidos e a Europa permitiu a formação de uma nova variante da gripe, infectando jovens na região que não tinham anticorpos antes de se espalhar rapidamente pelo globo.


"O comércio de animais desempenha (um papel crucial) em reunir diversos vírus de diferentes continentes, que podem então se misturar e gerar novos vírus pandêmicos", escreveram os autores de um relatório de 2016 sobre as origens da pandemia de 2009.


No continente europeu, os porcos não se movimentam muito. Mas na América do Norte são transferidos regularmente: eles podem nascer na Carolina do Norte e serem mortos em um matadouro no Meio-Oeste americano porque é perto da fazenda que alimenta os porcos.


"Algumas gripes estão evoluindo duas vezes mais rapidamente na América do Norte por causa desse (movimento)", diz Lewis.

A China é outro exemplo. O país importa regularmente suínos de outras partes do mundo para reprodução ou para reabastecer rebanhos de porcos que foram exterminados por doenças.


Ao fazer isso, eles podem importar novos vírus com os quais seus porcos ainda não tiveram contato, vírus que podem fazer mal aos humanos.


Isso é particularmente preocupante quando você descobre que um número recorde de porcos em todo o mundo está sendo morto por uma doença chamada peste suína africana (PSA).


Uma pandemia dentro de uma pandemia

Em setembro de 2020, Egbert Gleich, que trabalha para o Departamento de Silvicultura, tinha acabado de receber a má notícia de que a PSA havia cruzado a fronteira com a Polônia e estava na Floresta de Brandemburgo na Alemanha — uma área de 1,1 milhão de hectares repleta de pinheiros, raposas-vermelhas e, principalmente, javalis selvagens. Ele acredita que o javali tenha levado a doença para lá.


O trabalho de Gleich é tentar impedir que a PSA saia do controle.


"Temos que procurar todas as carcaças, e vou preparar armadilhas de javalis por prevenção", diz ele.

É uma tarefa enorme: a PSA é um vírus altamente contagioso que pode sobreviver por meses em um hospedeiro infectado. Felizmente, a PSA não infecta humanos. Mas seu impacto sobre os porcos tem sido significativo.


Em 2019, foi noticiado que a doença já havia matado um quarto dos porcos do mundo, incluindo metade da população suína da China.


No mesmo ano, o país asiático aumentou fortemente suas importações de suínos do Brasil e da Europa para suprir a enorme escassez de oferta de carne causada pelas mortes em decorrência da PSA.


A PSA também ilustra a conexão entre as ações humanas e as doenças que nós, ou os animais, sofremos.


À medida que a atividade humana aquece o planeta, as populações de javali selvagem prosperam.

Anos atrás, um inverno frio teria congelado o solo, restringindo o acesso às raízes, bulbos, nozes e sementes de que os javalis geralmente se alimentam — e matado uma grande parte da sua população.


Agora, os invernos são mais amenos e os javalis não morrem: eles se aproximam das cidades onde aprenderam que há comida e abrigo suficiente.


"É uma espécie inteligente com uma alta taxa reprodutiva, e damos a eles tudo que precisam",afirma Sandra Blome, que dirige o laboratório nacional de referência para PSA no FLI em Riems.


Como resultado, agora há milhões de javalis selvagens em toda a Europa, cada um com a mesma "capacidade de placa de Petri" de misturar vírus potentes e jogá-los de volta em outras espécies.


Muitos agora têm PSA e, à medida que se movem pelo continente e entram em contato com porcos industriais, infectam rebanhos.


Os porcos domésticos morrem, os rebanhos precisam ser reabastecidos, novos vírus são transportados e compartilhados — e os humanos estão um passo mais perto da próxima pandemia.

Mas, no que diz respeito às maneiras como os humanos estão tornando as disseminações mais prováveis ​, essa é apenas a ponta do iceberg.


Na Ásia, por exemplo, as fazendas de suínos são ainda mais densamente povoadas do que na Europa, e a doença se espalha pela prática controversa (e em muitos países, ilegal) de alimentar os porcos com sangue e restos de outros porcos mortos.


Eles muitas vezes, sem o conhecimento do fazendeiro, estão infectados com PSA.


"Isso é como um experimento de infecção", diz Beer.


Para começar, a PSA existe na Europa por causa da atividade humana. Outrora um vírus que assolava apenas os javalis na África Oriental, ele foi levado para o continente europeu provavelmente por navios da Angola, então colônia portuguesa, para Portugal em 1957.


Ele foi novamente introduzido por humanos na Geórgia em 2007 por meio de carne contaminada que foi consumida por javalis. De lá, a doença se espalhou por toda a Rússia e Europa Oriental, com javalis e carcaças infectadas sendo encontradas em lugares tão distantes quanto a Bélgica.


Como os humanos não são afetados pela PSA, você não saberia dizer se comeu um hambúrguer de porco infectado com ela. Mas jogue as sobras em uma lixeira para um javali fuçar e dois dias depois esse animal provavelmente estará morto — depois de infectar alguns de seus amigos e familiares mais próximos.


Uma parte da solução pode parecer ser o abate de javalis na Europa. Mas práticas de caça inadequadas podem ajudar a espalhar a doença, à medida que cães e caçadores entram em contato com o sangue do animal e, na sequência, o transportam para outro lugar.


"Não é tão fácil dizer 'vamos erradicar o javali e não teremos mais problemas'", diz Blome, que também é caçadora.


Ela lembra que o javali selvagem também desempenha um papel importante no ecossistema, ajudando as mudas de árvores a encontrar espaço para crescer ao revirar o solo, comendo carcaças de outros animais e servindo como fonte de alimento para predadores.


Segundo Blome, a solução é ter uma caixa de ferramentas de métodos para lidar com a doença, desde a detecção precoce até a vacinação.


No FLI, ela e sua equipe administram uma unidade de criação de javalis, testando novos candidatos à vacina e tentando entender as diferenças, se houver, entre javalis e porcos no que diz respeito à capacidade de combater doenças.


Na floresta pela qual a PSA entrou na Alemanha, uma série de equipamentos de alta tecnologia, incluindo drones, helicópteros e detectores infravermelhos, está sendo usada para tentar encontrar carcaças e removê-las do meio ambiente. No fim de outubro, Blome disse que já havia encontrado mais de 90 carcaças em pouco mais de um mês.


Blome e seus colegas estão colaborando agora com cientistas que trabalham na Floresta Nacional da Baviera para entender mais sobre a doença.


A cada três semanas desde julho, Marco Heurich e sua equipe mataram três javalis saudáveis ​​e colocaram as carcaças na floresta. Eles tiram fotos e vídeos para monitorar o processo de decomposição.


"Estamos tentando determinar quatro questões básicas", diz ele.


Primeiro, quanto tempo a PSA é capaz de sobreviver em uma carcaça. Em segundo lugar, se o vírus pode sobreviver no solo e por quanto tempo. Terceiro, em que espaço de tempo os animais ainda estão aquecidos o suficiente para serem distinguidos de seus arredores com um drone. E em quarto lugar, se há alguma espécie necrófaga que carrega partes mortas do animal, espalhando a doença para ainda mais longe.


Esses detalhes dariam aos cientistas mais chance de conter a doença.


Apesar de todo esse trabalho com javalis selvagens, "o mecanismo de propagação mais importante são os humanos", diz Heurich.


A PSA "é muito infecciosa — a maioria dos animais morre e morre rapidamente. Os humanos, no entanto, espalham e espalham rápido".


Estado de vigilância

Tentar acompanhar essas doenças à medida que se adaptam e se espalham é, na melhor das hipóteses, complicado — mas também existem outros desafios.


Apesar da devastação que a gripe suína já causou na saúde humana no passado, ela não é uma doença "notificável".

Em outras palavras, os criadores não são obrigados a enviar amostras de seus porcos para teste. Todas as 18 mil amostras de suínos que Harder e Beer coletaram para seu trabalho de monitoramento na Europa foram colhidas voluntariamente.


Isso é diferente, digamos, da gripe aviária — uma doença de notificação compulsória em que os agricultores são legalmente obrigados a informar qualquer suspeita ao governo.

Uma dificuldade adicional é que os porcos fornecem o sustento de milhões de pessoas. Os agricultores precisam botar na balança o controle de qualquer doença respiratória com questões como a vacinação e os custos de tais medidas, diz Lewis.


Além disso, a ideia de que os porcos carregam a doença pode ser ruim para os negócios — é por isso que Lewis e outros especialistas em saúde pública alegam que, em 2009, alguns agricultores pararam de procurar a doença em seus rebanhos e permanecem resistentes à ideia desde então.


Beer acredita que é hora de a Europa introduzir um programa de vigilância obrigatório.


"Precisamos de vigilância contínua, observando o desenvolvimento das diferentes variantes, para (nos ajudar) a fazer algumas previsões", diz ele.


O trabalho de coleta de amostras e monitoramento que Beer e seus colegas concluíram até agora permitiu a eles criar um acervo importante de novos vírus da gripe suína, detalhando suas propriedades biológicas e genéticas.


Eles usam então o EpiFlu, um banco de dados internacional de gripe com mais de um milhão de sequências, para comparar seus vírus.


"Isso dá uma ideia de quais são os vírus mais relacionados e de onde vêm os componentes genéticos do vírus", explica Beer.

Com essas informações, Beer e sua equipe podem entender mais rapidamente os vírus e começar a selecionar aqueles que apresentam potencial pré-pandêmico para criar protótipos de vacinas — antídotos prontos para serem produzidos em larga escala caso a doença passe de porcos para humanos.


Pode não ser suficiente para prevenir a próxima pandemia, diz Beer. Mas certamente poderia nos ajudar a criar e distribuir uma vacina muito mais rapidamente do que é possível atualmente.


"(Podemos estar) melhor preparados, podemos melhorar nosso tempo de reação... e podemos influenciar o impacto de uma pandemia", avalia Beer.


Ainda assim, esse trabalho leva tempo e dinheiro para ser concluído — dois recursos que estão longe de ser abundantes.


Mudar a maneira como criamos porcos e interagimos com os rebanhos pode ser outra intervenção importante.

Em outubro de 2020, o conselho consultivo da Eat, organização sem fins lucrativos que promove a transformação do sistema alimentar, divulgou uma carta aberta ao G20, argumentando que a expansão da pecuária intensiva e da agricultura insustentável está aumentando o risco de disseminação de vírus de animais para pessoas.



"Todas as evidências que temos hoje mostram que se quisermos obter uma recuperação resiliente da crise de Covid-19, evitar futuras pandemias e ter uma chance de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris, devemos nos concentrar nos alimentos", diz um trecho da carta.


Tem havido uma pressão mais ampla para substituir a pecuária intensiva por grupos menores de porcos criados em ambientes mais verdes, assim como uma mudança em direção a uma agricultura mais saudável e sustentável.


Essas ideias são parte fundamental da estratégia Farm to Fork ("da fazenda ao garfo", em tradução literal) do Acordo Verde Europeu.


Internacionalmente, organizações como a Farm Forward estão concedendo financiamento para comunidades em países em desenvolvimento, onde a pecuária intensiva está em ascensão, para manter sua independência e proteger suas propriedades rurais, que são consideradas mais favoráveis ao meio ambiente.


Essas mudanças podem levar algum tempo. Enquanto isso, pergunto a Lewis o que tira seu sono à noite.


"Estou muito preocupada com todos os vírus em porcos em todo o mundo", diz ela. "Precisamos de muito mais informações sobre o que está lá fora."

Quanto mais sabemos sobre uma doença, mais bem posicionados estaremos para evitar sua propagação. Mas o nosso sistema é complexo e conectado. Não vivemos em silos — não podemos separar as doenças da Europa da Ásia, ou do México dos Estados Unidos, e manter o controle de todos os vírus é quase impossível.


"Quando nós os alcançamos, tudo muda", diz Lewis.


Apesar de todo o trabalho em andamento na comunidade científica, mudanças muito maiores — sociais, regulatórias e ambientais — podem ser necessárias para evitar a próxima pandemia.


Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.


Fonte: BBC

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