A empresa Gabigol Esportes Ltda, que cuida da imagem do atacante Gabigol, do Flamengo, tentou ontem (20) uma liminar na Justiça do Rio de Janeiro para impedir o lançamento do último episódio da série documental "Predestinado", que conta a história do jogador. O episódio, liberado hoje aos assinantes da Globoplay, foi reeditado para incluir a detenção do atleta em um cassino clandestino em São Paulo, na madrugada do último domingo.
A coluna teve acesso ao pedido feito pela advogada da empresa. O UOL Esporte apurou que o estafe de Gabigol recorreu à Justiça por entender que a Globo não respeitou o contrato. Eles alegam que existem cláusulas que obrigam a emissora a consultar o jogador em caso de qualquer edição. O entorno do jogador só teria ficado sabendo das mudanças ontem e, ao entrar em contato com a emissora, optou pela via judicial. No domingo passado, a Globo confirmou ao blog que reeditaria o documentário com cenas sobre o caso.
O que mais teria incomodado o estafe e a família de Gabigol foi a forma como tudo aconteceu. A Globo teria prometido uma homenagem ao atacante nas negociações para a produção do documentário. Um exemplo disto foram as atualizações feitas após a conquista do Campeonato Brasileiro. Ainda em março, quando estava de férias, Gabigol recebeu a equipe do Globoplay na casa do seu empresário, em São Paulo, e falou sobre o oitavo título nacional do Flamengo.
"Não resta qualquer dúvida que a aceitação dos autores acerca da elaboração do documentário está estritamente atrelada ao fato de que este foi apresentado e descrito pela ré como uma homenagem ao atleta Gabriel Barbosa e como de exaltação à sua carreira, sendo certo que a pretensão da ré se mostra totalmente contrária à tal premissa, configurando-se em exposição midiática de assunto estritamente relacionada à vida pessoal do atleta e extremamente delicado", diz trecho do documento.
No entanto, a juíza de plantão da 14ª Câmara Cível do Rio de Janeiro negou o pedido, alegando que as notícias já eram públicas. Na decisão, a magistrada citou inclusive a entrevista que Gabigol deu ao "Fantástico", da TV Globo, na semana passada, falando sobre o assunto. "Ressalta-se que o próprio jogador do Flamengo, em entrevista concedida ao programa Fantástico, disse estar arrependido, deixando evidente que o fato ocorrido no dia 13 de março é público e notório", afirmou a magistrada.
Gabigol beija a taça do Brasileirão após a conquista do Flamengo: jogador processou a Globo Imagem: Buda Mendes/Getty Images
Além de tentar impedir as edições no conteúdo, a equipe do jogador pediu uma multa de R$ 2 milhões caso o Globoplay descumprisse a decisão. A coluna apurou que os advogados de Gabigol ainda estudam o que fazer após a derrota, e novas batalhas judiciais não estão descartadas. O episódio, chamado de "Um Ano em Dois", foi lançado hoje (21) e tem 33 minutos de duração. O caso do cassino é abordado em quatro minutos e 21 segundos - entre depoimentos, imagens sobre assunto e a entrevista concedida pelo atacante para falar do caso para a própria Globo.
Em trecho de nota oficial enviada à reportagem, a Globo diz considerar que o assunto é abordado por três minutos e trinta segundos (leia mais abaixo). A diferença é que a emissora não conta a escalada e nem um depoimento específico sobre o assunto, que aparece no episódio separado das imagens que mostram Gabigol no cassino.
Globo diz que documentário seguiu princípios editoriais
Procurada pela coluna, a Globo afirma que a produção do documentário seguiu seus princípios editoriais e que, mesmo com o caso do cassino sendo abordado, ele não perde o caráter de homenagem ao atacante. Leia a nota completa:
"'Predestinado' é um mergulho na história e nas origens do Gabriel Barbosa, o Gabigol. O documentário em formato de seriado retrata a vida e a carreira do jogador em ordem cronológica. O quarto e último episódio da série trata dos desafios de uma temporada marcada por três mudanças de treinadores, uma lesão séria, uma pandemia, e que terminou com mais um troféu nacional na galeria rubro-negra. Dos 33 minutos e 16 segundos de duração do episódio, a ida de Gabigol ao cassino é contada em três minutos e trinta segundos, dos quais 50 segundos reproduzem trechos da entrevista com explicações do jogador ao Fantástico da última semana. Como se sabe, o caso teve grande repercussão e sua abordagem em uma obra documental com características de entretenimento e jornalismo está em linha com os princípios editoriais do Grupo Globo. Vista em seu conjunto, a série deu voz a Gabigol e sua família para contarem a história do jogador e a abordagem pontual e proporcional da ida ao cassino em nada elimina o caráter de homenagem a um ídolo que conseguiu transcender o futebol e conquistar popularidade entre adultos e crianças"
Empresário e pai falam indignados com a Globo
O blog procurou Gabigol, que por meio de seu estafe afirmou que não vai se manifestar sobre o assunto. Em sua conta no Twitter, o empresário do atacante, Júnior Pedroso, falou sobre o assunto e, sem citar a Globo, afirmou que continuam "massacrando" seu atleta.
"O Gabriel errou ao quebrar o lockdown? Errou! Reconheceu o erro? Sim! Deu a cara publicamente para a emissora que mais alfinetou e se posicionou com a personalidade que é peculiar! Mesmo assim, continuaram massacrando-o como se ele fosse o grande culpado pelo caos causado pela covid no Brasil", disse Pedroso.
Já o pai de Gabigol, Valdemir Barbosa, enviou para a coluna um texto. Nele, Valdemir defende o filho e acusa a Globo de "traição".
Leia o texto do pai do Gabigol na íntegra
"Ser pai é orientar seus filhos, aconselháa-los e buscar neles o melhor, sempre com transparência e dignidade. Venho aqui não parar amenizar os últimos acontecimentos, pois sei que foram errados, conversei com o Gabriel e vi nos olhos do meu filho, daquele mesmo menino de anos atrás, uma compreensão do erro que cometeu. E é isso que buscamos, o entendimento de nossos erros para que não sejam repetidos.
Criamos os filhos para o mundo, mas damos a eles toda base de caráter e dignidade para enfrentá-lo. Não posso me calar perante algumas injustiças que têm sido cometidas. Repito, errou, foi repreendido e pagará legalmente pelo que fez.
Mas há pessoas agindo de má-fé, quebrando acordos, usando da imagem dele para se promover e ganhar audiência. Abri a porta da minha casa para um projeto grandioso, que nos trouxe o propósito de homenagear o Gabriel. Foram meses, semanas, horas dedicadas a isso, sempre muito solícito e presente. Nos emocionamos a cada episódio, minha esposa chorou, minha filha, a cada história que passamos juntos, que batalhamos para chegar até aqui. Mas fomos enganados, fomos traídos por conta de audiência e isso não podemos aceitar.
Batalhamos para criar nossos filhos da melhor forma, nos orgulhamos de sua carreira dentro de campo e a idolatria que ele genuinamente conquistou perante às crianças deste Brasil. Estaremos sempre juntos, aconselhando, conversando, mas jamais vamos aceitar e nos calar frente a injustiças."
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