Um relatório do governo dos Estados Unidos produzido na gestão Trump afirma que o país persuadiu o Brasil a não comprar a Sputnik V, vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela Rússia.
Carregamento da vacina Sputnik em aeroporto na Argentina — Foto: Agustin Marcarian/Reuters
A informação está em um documento do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS, na sigla em inglês) sobre as ações tomadas em 2020.
O HHS é responsável pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), órgão de saúde do país, e pela FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos), órgão regulador similar à Anvisa.
No governo Trump, o departamento foi comandado entre 2018 e 2021 por Alex Azar, ex-executivo de uma grande farmacêutica que chegou a chefiar a resposta do país ao coronavírus no início da pandemia.
No trecho que fala sobre "combater as influências malignas nas Américas", o documento aponta que o Escritório de Assuntos Globais do HHS "usou as relações diplomáticas na região para mitigar os esforços" de Cuba, Venezuela e Rússia, "que estão trabalhando para aumentar sua influência na região em detrimento da segurança dos Estados Unidos".
O relatório cita dois exemplos da coordenação com outras agências governamentais dos EUA para "fortalecer os laços diplomáticos e oferecer assistência técnica e humanitária para dissuadir os países da região de aceitar ajuda desses estados mal-intencionados":
O uso do escritório do adido de saúde da OGA para persuadir o Brasil a rejeitar a vacina russa contra Covid-19;
A oferta de assistência técnica do CDC para o Panamá não aceitar uma oferta de médicos cubanos.
Procurado, o fundo soberano russo, que financia a Sputnik V, afirmou que "o Departamento de Saúde dos Estados Unidos confirmou publicamente que pressionou o Brasil contra a Sputnik V" e criticou o governo americano. "Os países devem trabalhar juntos para salvar vidas. Os esforços para minar as vacinas são antiéticos e custam vidas."
O G1 procurou também o Itamaraty, o Departamento de Estado americano e o HHS, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
OGA é a sigla para Escritório de Assuntos Globais, que tem adidos de saúde "em quase todas as regiões do mundo", segundo o HHS. De acordo com o departamento, "os adidos de saúde são o principal ponto de contato para a diplomacia global".
Atualmente, os EUA têm adidos de saúde no Brasil, na China, na Índia, no México, na África do Sul e na missão do país na ONU, em Genebra. Não há, no entanto, detalhes no documento do HHS de como essa "persuasão" teria sido exercida sobre o governo Bolsonaro.
Sputnik V no Brasil
Na sexta-feira (12), o governo brasileiro anunciou a compra de 10 milhões de doses da Sputnik V. O anúncio foi feito após o consórcio de governadores do Nordeste negociar outras 37 milhões de doses da vacina russa.
Apesar dos anúncios dos governos federal e estaduais, a Sputnik V ainda não foi aprovada pela Anvisa para uso emergencial no Brasil.
A vacina foi desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, tem 91,6% de eficácia e se tornou a primeira a ser autorizada para uso emergencial no mundo, em agosto, antes mesmo do fim dos testes clínicos.
Atualmente, o Brasil utiliza as vacinas CoronaVac e de Oxford/AstraZeneca no Programa Nacional de Imunização (PNI). A vacina da Pfizer já teve o registro definitivo concedido pela Anvisa, mas o governo federal não comprou o imunizante até o momento.
Fonte: G1
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