A tragédia da boate Kiss completa 8 anos nesta quarta-feira. O incêndio, que ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, provocou 242 mortes e deixou 636 feridos. Nenhum dos quatro réus foi julgado ainda, são eles:
Marcelo de Jesus dos Santos, músico vocalista da banda Gurizada Fandangueira
Luciano Augusto Bonilha Leão, produtor e auxiliar de palco
Mauro Londero Hoffmann, sócio da boate
Elissandro Calegaro Spohr, sócio da boate
A terapeuta ocupacional Kelen Ferreira é uma das sobreviventes do incêndio. Ela conta como costuma ser difícil o primeiro mês do ano.
"Todo janeiro, principalmente na semana do dia 27, passa um filme na cabeça. Porque eu lembro também das minhas amigas que morreram, eu perdi três amigas, eu lembro de tudo o que aconteceu dentro da boate".
Kelen ficou 78 dias internada no hospital — 24 foram na UTI, sendo que 15 em coma.
"Quando cheguei na porta, vi que era fogo, porque a fumaça começou a dificultar minha respiração e começou a queimar meus braços. Virei para tirar a sandália, acabei tirando a sandália do pé esquerdo, do direito acabou ficando, o que ocasionou, futuramente, faltou circulação no meu pé, foi o motivo que tive que amputar", conta.
Na época que a tragédia aconteceu, Kelen tinha 19 anos.
"Por uns bons anos, ter uma amputação, vivendo na sociedade que a gente vive, do corpo ideal, é difícil. De um ano pra cá ou menos eu tenho me aceitado mais, porque tudo é um processo de aceitação", afirma.
"Estar viva e 242 pessoas terem morrido foi um fardo muito grande durante um tempo. Principalmente o ano todo de 2013. Mas, depois, quando saía na rua, e encontrava pais que perderam seus filhos, que nos acolheram bastante, que viraram uma família. E sempre me diziam 'eu queria ter meu filho aqui conosco'", acrescenta.
Homenagens
Durante a madrugada desta quarta, às 2h30, horário que ocorreu o incêndio há 8 anos, uma sirene soou na Rua dos Andradas, local onde ficava a boate Kiss.
Desde a semana passada, homenagens estão sendo feitas. Uma dessas ações foi a pintura da fachada do prédio onde funcionava a boate. As paredes foram pintadas de preto e estampada a frase "oito anos de impunidade".
Além disso, dois outdoors foram instalados na cidade com as frases "oito anos à espera de justiça" e um trecho do livro da escritora Daniela Arbex: "se a recordação de uma tragédia é dolorosa, imagina carregá-la dentro de si".
Em função da pandemia, as homenagens organizadas pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria vão ser feitas todas pela internet, para evitar aglomerações.
Nesta quarta, às 20h, vai acontecer uma live, mediada pelo jornalista Marcelo Canelas, com a participação de vários artistas, entre eles, Tony Ramos, para falar sobre luto materno, impunidade e a incansável luta por justiça.
Julgamento
Em março de 2020, o julgamento de Luciano Bonilha Leão chegou a ser marcado e toda a estrutura para a realização do júri foi montada em Santa Maria. Mas, três dias antes, o júri foi suspenso pelo Superior Tribunal de Justiça até que saísse a decisão de um pedido do Ministério Público para que os quatro réus fossem julgados juntos.
Os outros três réus já haviam solicitado a mudança para Porto Alegre, alegando questões de segurança e a imparcialidade do júri.
Em setembro do ano passado, ficou definido pela Justiça que os quatro réus, Luciano Bonilha Leão, Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann e Marcelo dos Santos serão julgados em Porto Alegre, mas ainda sem data definida.
As defesas de Luciano Bonilha Leão e Marcelo dos Santos disseram esperar que o júri saia o quanto antes e reforçaram a inocência dos seus clientes. Já as defesas de Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, não haviam retornado com o pedido de posicionamento até o começo da manhã desta quarta.
Ainda em fevereiro um edital deve ser aberto para definir o novo juiz que vai assumir o caso. O magistrado vai decidir a data e dar os encaminhamentos.
"Esse é um julgamento complexo, já foi visto isso quando da preparação lá em Santa Maria e a razão disso nós já temos conhecimento para realizar toda a infraestrutura e organizar todo o julgamento. Necessidade de licitação, por exemplo, para alimentação dos jurados, vítimas que serão ouvidas, a necessidade de licitar alimentação, a questão da segurança também é uma questão importante, então, tudo isso será feito em conjunto com o juiz do julgamento e pela administração do Tribunal", afirma a juíza-corregedora do TJRS Vanessa Gastal De Magalhães.
"Provavelmente isso se defina ainda no primeiro semestre e aí caberá ao juiz definir a data e o local que o plenário se dará", acrescenta a juíza.
Fonte: G1
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