O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta terça-feira (26) em conferência para investidores promovida pelo banco Credit Suisse que a estratégia da área econômica é levar adiante a vacinação em massa da população brasileira e aguardar a queda da taxa de mortalidade da Covid-19 e o retorno de um nível mais forte da atividade econômica, de modo que não seja preciso renovar o auxílio emergencial.
Segundo ele, porém, se a vacinação atrasar e a pandemia se agravar, e isso levar à necessidade de renovar o auxílio emergencial, os demais gastos do governo têm de ser contidos.
"Não pode ficar gritando guerra toda hora. Tem de ter muito cuidado", disse Guedes, referindo-se ao chamado "orçamento de guerra", aprovado pelo Congresso no ano passado e que permitiu ao governo o investimento bilionário em ações de combate à pandemia, entre as quais o pagamento do auxílio emergencial a trabalhadores informais.
"Quer criar o auxilio emergencial de novo? Tem de ter muito cuidado. Pensa bastante, pois, se fizer isso, não pode ter aumento automático de verbas para educação, para segurança pública, pois a prioridade passou a ser absoluta, é uma guerra. Aqui é a mesma coisa, se apertar o botão ali, vai ter de travar o resto todo [do orçamento]. Então vamos observar a economia, a saúde — os dois andam juntos — e esperar pelo melhor", completou.
Partidos de oposição e mesmo aliados do governo têm defendido uma nova rodada do auxílio emergencial.
O presidente Jair Bolsonaro, entretanto, tem dito que não será possível o pagamento do benefício em 2021 devido à disparada do endividamento público no ano passado.
Sem reajuste
Entre as medidas para cortar gastos em caso de renovação do auxílio, Guedes defendeu que servidores públicos continuem sem reajuste e que não haja aumento automático de verbas para educação e segurança pública.
"A classe política tem de assumir a responsabilidade pelos orçamentos. Se ela apertar o botão vermelho, de emergência, não é só pegar o dinheiro e sair correndo. Tem de fazer todo o protocolo de sacrifício por anos. Se você está em guerra, não tem distribuição de medalha antes de a guerra acabar, ou seja, não pode ter aumento de salário enquanto não passar um, dois anos depois da guerra. Tem de pagar o custo da guerra, não pode empurrar isso para as futuras gerações", disse.
Ainda comparando a pandemia com um cenário de guerra, ele afirmou que liberar uma nova rodada de auxílio emergencial, com alto impacto nos gastos públicos, seria igual a disparar uma "bomba atômica".
"Tem o botão vermelho. Se apertar, prepara, destruiu o outro lado, mas vai ter desastre ambiental para tudo quanto é lado, pois o outro lado também dispara. Vai ser o caos", disse.
Para levar adiante esse plano, porém, Guedes afirmou que é preciso incluir na PEC do pacto federativo, que ainda não foi votada, uma "cláusula de calamidade pública".
"É um caso agudo de emergência fiscal. Desindexa, desvincula, trava sua despesa lá, e em um ano ou dois, o aumento natural da receita resolve a situação", disse.
BC defende contrapartidas
No fim do dia, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou no mesmo evento do qual Guedes participou pela manhã que fazer mais programas de estímulo fiscal como o auxílio emergencial, sem uma contrapartida de redução de gastos, pode levar a uma retração econômica.
Segundo Campos Neto, o gasto fiscal do governo sem contrapartida pode aumentar a avaliação de risco de país e ter um efeito contrário ao esperado quando se faz um estímulo fiscal, que é expansão econômica e mais dinheiro circulando.
“Fazer novos gastos fiscais sem uma clara contrapartida não vai ter efeito expansionista nem que eu queira, porque eu não controlo o risco fiscal, que é como os agentes precificam o risco de um país”, disse.
“Por um lado, eu tenho o efeito do dinheiro circulando na economia, só que, se do outro lado eu tiver um efeito da parte de prêmio de risco que seja um efeito contrário e em magnitude maior, eu posso fazer um esforço fiscal e ter um efeito contracionista na economia”.
Na apresentação, Campos Neto defendeu a agenda de reformas como uma forma de fazer medidas fiscais de forma permanente.
“A agenda de reformas não salva nem gera estímulo, mas um país com uma agenda de reformas robustas faz com que um gasto fiscal mais elevado seja mais sustentável porque eu sei que tem um gasto na frente, mas estou fazendo aqui reformas que vão me levar a um equilíbrio lá na frente”, declarou.
Fonte: G1
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