segunda-feira, dezembro 07, 2020

MP denuncia padre Robson e outras 17 pessoas por organização criminosa e lavagem de dinheiro das Afipes

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) denunciou nesta segunda-feira (7) o padre Robson de Oliveira e mais 17 pessoas por organização criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro doado por fiéis à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). Segundo os promotores, o religioso comandava o esquema que desviava as doações. O religioso sempre negou as irregularidades.


Sobre a denúncia do Ministério Público, a defesa de padre Robson disse que não há nada de novo e reafirmou que o padre é inocente. A Afipe disse que confia na Justiça e espera que ao final do processo todas as dúvidas sejam esclarecidas (veja os posicionamentos dos citados ao fim do texto).


A denúncia à Justiça resultou da Operação Vendilhões, que cumpriu mandados em agosto deste ano para apurar o desvio dos donativos. De acordo com a investigações, o dinheiro foi usado para comprar bens como fazendas e casa na praia. Porém deveria ser destinado para a construção da nova basílica, que ainda está em fase inicial de obras, em Trindade, na Região Metropolitana da capital.


Os promotores de Justiça afirmam que o padre comandava a suposta organização criminosa e transferia grandes valores para empresas, com o objetivo de utilizar o dinheiro das entidades como seu, sem prestar contas nem se submeter às regras associativas.


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Padre Robson de Oliveira nega ter cometido irregularidades — Foto: Reprodução/Instagram


Segundo o MP, a organização era dividida em quatro núcleos. Todos os citados são investigados:

Núcleo operacional

Rouane Caroline Azevedo Martins: apontada como braço direito do padre Robson, ela é suspeita de gerenciar e organizar toda atividade lícita e ilícita;

Anderson Reiner Fernandes: com formação jurídica, é suspeito de auxiliar nas atividades lícitas e ilícitas, organizar as fraudes e figurar em diversas transações ilícitas como interposta pessoa (laranja);

Gustavo Leonardo Naciff do Nascimento: suspeito de realizar as negociações de imóveis rurais;

José Pereira César: contador das Afipes e demais empresas da suposta organização criminosa, é suspeito de atuar para apagar rastros criminosos, criar justificativas contábeis, efetuar registros contábeis indevidos e ajustar e organizar as declarações de impostos de renda dos laranjas;

Paulo César Campos Correa: suspeito de comandar uma rede de empresas de comunicação e de auxiliar nas atividades criminosas.

Núcleo dos laranjas

Segundo o Ministério Público, esse núcleo é composto por pessoas que cediam seus nomes para a realização de negócios, seja na aquisição de bens (casas, lotes, apartamentos, empresas) ou para ocultar movimentações financeiras criminosas, ocasiões em que as contas dos laranjas eram utilizadas como mecanismo de passagem de valores, com a finalidade de obnubilar a verdade.


Celestina Celis Bueno;

Rodrigo Luis Mendoza Martins Araújo;

Ana Verônica Mendoza Martins;

Anderson Matheus Reiner Fernandes.

Núcleo dos beneficiários

De acordo com os promotores, essas pessoas receberam e usufruíram da posse de imóveis pagos com o dinheiro desviado.


Elice de Oliveira Pereira (mãe);

José Celso Pereira (pai);

Adrianne de Oliveira Pereira (irmã);

Jeferson de Oliveira Pereira (irmão);

Joselice de Oliveira Pereira Carvalho (irmã).

Núcleo da família Cabriny

O MP alega que três irmãos da família Cabriny auxiliavam padre Robson na prática de diversos crimes. Eles possuem diversas empresas, dentre elas a GC Construtora e Incorporadora, que, segundo os promotores, era utilizada para desviar patrimônio da associação mediante a celebração de negócios jurídicos simulados.


Onivaldo Oliveira Cabriny Costa Júnior;

Gleysson Cabriny de Almeida Costa;

Bráulio Cabriny de Almeida Costa.


Manobra de criação das Afipes

De acordo com os promotores de Justiça, o objetivo inicial do pároco era expandir e divulgar o Divino Pai Eterno. Por isso, segundo eles, padre Robson organizou a criação da Afipe em 9 de maio de 2004.


Posteriormente, em 15 de março de 2008 foi constituída a Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro. Já em 4 de maio de 2009, criaram a Associação Filhos e Filhas do Pai Eterno, todas utilizando o nome fantasia Afipe.



A constituição da segunda e terceira entidades, segundo o MP, foi uma “manobra oculta e dissimulada”, pois muitos dos associados da instituição e membros das diretorias e dos conselhos não sabiam da existência de pessoas jurídicas distintas.


A denúncia argumenta que toda a confusão patrimonial entre as empresas que foram constituídas em nome de outras pessoas era para fraudar e desviar o patrimônio das Afipes.


Apropriação indevida

O MP diz ainda que padre Robson é “detentor de exímia oratória e grande carisma”. Para os promotores, ele usou destas qualidades para conseguir arrecadar vultosos valores para as Afipes, utilizando como argumento principal a construção de uma nova basílica para a devoção ao Divino Pai Eterno.


A investigação aponta que o sacerdote teria se apropriado indevidamente de mais R$ 7,9 milhões das associações Pai Eterno e Perpétuo Socorro, por exemplo, entre 2015 e 2016, em favor de familiares. Consta na denúncia que o religioso, em diversas oportunidades, deixou evidente que tratava como particular o patrimônio da Afipe e das outras duas associações criadas para receber dinheiro de fiéis.


“De posse de valores bilionários, o denunciado Robson se associou a diversas pessoas para desviar bens das Afipes, lesando a entidade e seus associados. Além dos desvios, a organização criminosa utilizou-se de mecanismos para ocultar e dissimular as origens ilícitas, se utilizando de ‘laranjas’ para o êxito do esquema”, diz trecho do documento.


Bloqueio das investigações

A denúncia do Ministério Público de Goiás foi registrada depois de ser divulgado que a Justiça autorizou a retomada das investigações em relação à suspeita de desvio de dinheiro das Afipes. A decisão tinha sido tomada na sexta-feira (4).


Em outubro, a Justiça determinou que as investigações fossem interrompidas por entender que não estavam presentes os crimes apontados pelos promotores.


O outro lado

A defesa de Rouane Carolina disse que não teve acesso à denúncia e que não vai se pronunciar.


A defesa de Anderson Reiner afirmou que ainda não tem conhecimento da denúncia e que qualquer manifestação será feita no processo.


A reportagem pediu nota para Celestina Bueno e José Pereira , mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.


A defesa da família do padre Robson não foi localizada.


A defesa da família Cabriny informou que vê com espanto a denúncia, já que existe uma discussão, ainda em andamento, acerca da possibilidade ou não do Ministério Público poder investigar tais fatos. Afirmou ainda que o "Tribunal de Justiça decidiu, à unanimidade, que todas as negociações foram lícitas". Independente disso, os irmãos estão tranquilos, pois nada devem. De acordo com os advogados, o que traz ainda mais estranheza é que nenhum deles sequer foi chamado pelos promotores para esclarecer qualquer ponto, pois sempre estiveram e estão à disposição.


Fonte: G1

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